A solenidade de Todos os Santos, comemorada no dia primeiro de novembro, que é celebrada no Brasil no domingo seguinte, quer comemorar todos aqueles que estão no céu na presença de Deus, O adorando e O glorificando.

Esta solenidade surgiu no mundo celta, no primeiro milênio do Cristianismo, mas logo se difundiu em toda a Igreja.

Uma objeção à sua celebração seria o texto: “Ninguém é santo como o Senhor. Não existe outro Deus, além de vós, nem rochedo semelhante ao nosso Deus” (1 Sm 2,2). Somente Deus é Santo, porém o Senhor nos conclama a participar de sua santidade: “A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos em todas as vossas ações, pois está escrito: Sede santos, porque eu sou santo (Lv 11,44)” (1 Pd 1,15-16). Somos chamados a participar da Natureza Santa de Deus: “Por elas, temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-vos por esse meio participantes da natureza divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo” (2 Pd 1,4).

Esses que participam durante a vida na santidade de Deus, depois da morte vão glorificá-lo para sempre:

“Depois disso, vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão, e bradavam em alta voz: “A salvação é obra e nosso Deus, que está assentado no trono, e do Cordeiro”

(Ap 7,9-10)

Homens e mulheres que adoram o Senhor para sempre, são esses que comemoramos na Solenidade de Todos os Santos. A Igreja nos convida na missa, a nos alegrarmos todos no Senhor, celebrando a festa de todos os Santos, conosco os anjos se alegram e glorificam o Filho de Deus (Cf. Antífona de Entrada da Missa de Todos os Santos).

Mas por que honrar os santos que participam da glória de Deus?

Assim nos traz o Catecismo: “A comunhão com os santos. ‘Veneramos a memória dos habitantes do céu não somente a título de exemplo; fazemo-lo ainda mais para corroborar a união de toda a Igreja no Espírito, pelo exercício da caridade fraterna”. (CIgC n. 957). No Credo proclamamos que cremos na Comunhão dos Santos, mas às vezes não entendemos muito bem essa verdade de fé. Como traz o texto, veneramos os santos como exemplo, e usufruímos de sua intercessão, mas também, na graça de Deus, nos unimos a eles.

Durante o Ano Litúrgico, a Santa Igreja propõe à veneração dos fiéis, em primeiro lugar a Santa Mãe de Deus, Maria Santíssima, e outros homens e mulheres que são canonizados, ou seja, a Igreja os declara santos: “o proclamar solene que esses fiéis praticaram heroicamente as virtudes e viveram na fidelidade à graça de Deus” (CIgC n. 828).

Quando rezamos a ladainha de Todos os Santos, seja na Vigília Pascal, em uma Ordenação ou Profissão perpétua, ou no Batismo, queremos demonstrar que estamos em comunhão com os santos e eles conosco. Ninguém se salva sozinho, precisamos viver a comunhão eclesial e a comunhão dos santos.

“Os santos da porta ao lado”

No entanto, há muitos homens e mulheres que estão em Deus na glória, mas não o foram declarados assim. Imaginemos quantos antepassados nossos, conhecidos, amigos, vizinhos, que já faleceram e estão na glória de Deus? Esses são todos os santos comemorados no dia primeiro de novembro. Como disse o Papa Francisco, em 03 de agosto de 2020, os santos da porta ao lado. Convivemos com pessoas que, na simplicidade e no silêncio, se entregam inteiramente a Deus e nós queremos estar unidos a eles nesta Terra, a fim de, um dia estar com eles unidos no céu.

Nós, às vezes, temos uma visão de santidade muito distante e muito alta. Os santos são aquelas pessoas que viveram o seu trabalho cotidiano e se santificaram. Eles viveram o que São Paulo escreve na Carta aos Romanos: 

“Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, gradável a Deus: é este o vosso culto espiritual”

(Rm 12,1)

O culto espiritual é oferecer o nosso corpo, a nossa vida, a Deus, vivendo as tarefas do dia a dia na graça de Deus.

Há muitos homens e mulheres que viveram assim. Além da legião de mártires, dos homens ordenados, ou daqueles homens e mulheres que se santificaram na vida religiosa, também há os que viveram o cotidiano e se santificaram. A empregada doméstica, Santa Zita, o mendigo, São Bento José Labre, o casal, pai e mãe de Santa Teresinha do Menino Jesus, São Luís Martin e Santa Zélia Guérin, o médico São José Moscatti, o advogado São Ivo, crianças como São Francisco Marto e Santa Jacinta Marto, um jovem do mundo digital, como o Beato Carlo Acutis, e muitos outros.

Uma imagem interessante para entendermos o que seriam esses santos em nossa vida é um estádio. Imaginemos que nesta vida estamos vivendo um jogo decisivo, a nossa salvação. Nos esforçamos e lutamos. Como diria São Paulo: “Todos os atletas se impõem a si muitas privações; e o fazem para alcançar uma coroa corruptível. Nós o fazemos por uma coroa incorruptível” (1 Cor 9,25). Os santos estão nas arquibancadas torcendo por nós, lutando por nós, para que consigamos como eles a coroa incorruptível de glória. Novamente afirmamos, cristão católico tem que ter a consciência de que não se salvará sozinho. Deus quis que precisássemos uns dos outros. Vivemos num mundo que prima pelo egoísmo e pelo isolamento. Não podemos viver assim. 

O Evangelho das bem-aventuranças (Cf. Mt 5,1-12) é a regra desse jogo. A nós compete viver e glorificar a Deus em nossa vida, e amando-nos uns aos outros como Jesus nos amou (Cf. Jo 13,34)

Padre Micael de Moraes

Peçamos a intercessão de todos os santos por nós. E que a esperança de um dia estarmos todos juntos na Mansão Celeste nos dê força para seguirmos em frente.

“Todos os santos e santas de Deus, rogai por nós!”

 

Padre Micael de Moraes, sjs

Pároco da paróquia Nossa Senhora de Pentecostes 

e São Francisco de Assis