Neste ano a situação em grande parte do país e especialmente no Norte fluminense a falta de água tem sido dramática, levando a muitas comunidades a rezarem insistentemente pelas chuvas. Esta prática expressa primeiramente a confiança e a fé, no Deus Pai e Providente que governa a criação para o bem de todas as criaturas.

A oração como encontro que visa a comunhão com Deus é intensamente transformadora, tornando-se uma experiência de conversão e de aceitação de um novo olhar e novas práticas de vida. Neste caso da oração de petição pelas chuvas, quem a realiza descobre a visão amorosa do Pai, a respeito da criação. Se abre para a perspectiva de cuidado e compaixão para com todas as criaturas e da responsabilidade para com a vida do planeta.

A pessoa orante entra em profunda comunicação com a teia da vida, percebendo as conexões e o ambiente sagrado que permeia toda a natureza. É capaz de vislumbrar a água, como nossa irmã, como um dom venerável de Deus, que é preciso guardar e administrar com justiça, e sempre em harmonia com o bem comum.

O olhar contemplativo permite superar a razão instrumental e gananciosa que manipula a terra como se fosse apenas mercadoria, destinada a produzir lucros, sem importar-se com a biodiversidade e a interdependência que abraça a todas as criaturas. A oração sempre será para os cristãos o grito do Espírito Santo que nos faz ver e sentir o sofrimento e os gemidos da humanidade e da própria terra em sua caminhada pela total manifestação do plano de Deus.

A falta de chuvas é um sinal que por um lado exige de nós novas atitudes que se traduzam em uma economia sóbria e generosa da água que dispomos para que todos possam também usufrui-la, mas também reclama uma cidadania planetária que regule com justiça o uso das águas, como bem público e direito de todos os seres viventes.

Que o Senhor da Vida, da ternura e da misericórdia nos mande chuvas, e que saibamos como jardineiros da terra e guardiães da criação recebê-las com gratidão e cuidado responsável. Deus seja louvado!

“Espiritualidade e Sustentabilidade: as orações pedindo chuvas”
Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

Fonte: CNBB