Em 26 de abril de 1959, há exatos 60 anos, o Papa João XXIII declarou Elena Guerra Beata. A freira italiana gastou sua vida rogando que a Igreja vivesse um Cenáculo universal, uma experiência renovada com o Espírito Santo e uma devoção a Ele em todo o mundo.  Confira a Quinta Carta da Beata ao Papa Leão XIII, de novembro de 1896”.

 

Beatíssimo Padre,

Que graça, que consolação para uma pobre filha, ouvir dizer que o Sumo Pontífice é tão atencioso com ela que lhe concede a faculdade de escrever-lhe!

Único é, Santo Padre, o desejo, única, a prece que deponho aos pés de Vossa Santidade, ou melhor, no coração. E, como no precioso Breve de 5 de maio de 1895 é declarado que Vossa Santidade funda grandes esperanças em um compromisso religioso de orações ao Divino Paráclito, animo-me a revelar que mesmo essa união de orações ao Espírito Santo é o que eu ouso pedir: uma união estabelecida, ordenada, promulgada na Igreja inteira. Em minha simplicidade eu chamo de Cenáculo Universal essa união que sempre imploro de Deus na oração; mas que importa o nome?

O que interessa para impetrar uma feliz renovação da face da terra é a substância, e a substância é que os fiéis se unam em uma prece unânime e incessante ao Divino Espírito, para conseguir que cesse o combate teimoso do espírito infernal contra a Igreja, e que a luz do Paráclito resplandeça sobre as trevas da ignorância e do erro, e assim voltem ao seio da Igreja todos os descrentes e dissidentes.

Recomendando ardentemente recorrer ao Espírito Santo, Vossa Santidade já deu o primeiro passo, imitando São Pedro que foi à frente preparar o Cenáculo. Mas aquela piedosa exortação de 5 de maio de 1895 ainda não está difundida entre os fiéis e tudo acabou com a novena de Pentecostes.

Pedro, porém, volta depois da Ascensão do Senhor ao Cenáculo, volta Maria (que do Cenáculo é Rainha) com os Apóstolos e muitos outros discípulos do Salvador. Rezam todos juntos e o Espírito Santo vem. E aqueles afortunados levam a divina luz e o fogo divino por toda a terra.

Oh, quanto é necessário que os primeiros a entrarem no Cenáculo universal sejam os ministros de Deus! Mas para que os fiéis saibam e entendam que o Sumo Pontífice deseja e quer que em toda necessidade de luz e graças, se recorra à fonte da luz e das graças, seria necessário pôr em prática aquele religioso compromisso de orações ao Divino Paráclito.

Precisa-se, porém, de uma mente para bem ordená-lo, e essa seja a mente do Vigário de Jesus Cristo, que, iluminada pelo Espírito Santo, não pode falhar. Precisa-se de uma voz para promulgá-lo, e seja a voz do Chefe da Igreja, que é ouvida e obedecida no mundo todo. Precisa-se de uma mão que o abra, e seja a mão do Pastor universal, que põe assim seu rebanho ao abrigo das asas da pomba celeste. Precisa-se de um coração para recomendá-lo, e seja o coração do Pai de todos os fiéis, aquele coração que tão ardentemente deseja a salvação de todos.

Oh, Santo Padre! Que obra grande e saudável será esta! O pequeno Cenáculo permanente, que tanto procuro difundir e que Vossa Santidade tão paternalmente abençoou, é apenas uma sombra desse Cenáculo Universal. Resta indicar meios práticos para o sucesso dessa união, mas isso será determinado por pessoas doutas e piedosas. Haveria mais alguma coisa a dizer, mas não quero cansar Vossa Santidade com uma carta comprida demais. O que não acho oportuno calar, reservo-me escrevê-lo em um papel, que Vossa Santidade poderá observar à vontade, ou mandar que outros leiam.

Poderia dizer também que não faltam provas das quais resulta que Deus quer esse Cenáculo universal para maior glória da adorável Trindade, que nunca será pelos homens devidamente conhecida e honrada, se o Espírito Santo não vier a renovar a face da terra.

Parece-me que a coisa recomende-se por si mesma e, além disso, tais discursos seriam muito acima de minha simplicidade e ignorância; só me disponho a falar, se mandar a santa obediência.

Algumas almas de oração estão prevendo para breve os mais horríveis flagelos da divina justiça, e infelizmente os merecemos. Por caridade, Santo Padre, por caridade, recorramos ao Eterno Amor antes que a divina justiça nos faça sentir mais fortemente sua indignação e nos submeta aos castigos merecidos! É o amantíssimo Pai celeste, é o nosso doce Redentor, que quer levar-nos à salvação entre os braços do caro e sempiterno Amor.

Oh! Quanto faz o demônio para afastar os homens de um abrigo tão seguro! Piedade, Santo Padre, de tantos cristãos que teriam muito a sofrer pelos ameaçados castigos! Piedade de tantas almas pervertidas que estão em perigo de perder-se eternamente! Chamai todos ao abrigo no Cenáculo universal onde clamarão ao Espírito Santo para que os castigos merecidos se transformem em novas efusões de graça e de amor.

Oh! Se o Veni, aquele bendito Veni, que desde o Cenáculo a Igreja nunca cessou de repetir, se tornasse assim popular como a Ave Maria! Santo Padre, mais uma palavra só: ao amanhecer, e sempre à mesma hora, há um grupo de almas piedosas que reza em conjunto e com autêntico fervor para Vossa Santidade, e por seus santos desejos, e para que Vossa Santidade seja, como São Pedro, repleto do Espírito Santo.

Uma bênção a essas almas que amam verdadeiramente o Santo Padre, e uma bênção a pobre escrevente, que beijando seu Santo pé, despede-se de Vossa Santidade.

Ir. Elena Guerra