Tudo o que uma mãe mais deseja é ver o filho crescer e ser feliz. Ela sempre o cerca de carinhos e faz de tudo que para que ele tenha uma vida mais tranquila. Ama os filhos mais do que a si mesma. Mas chega um momento em que é necessário devolver tanto amor e atenção. Na velhice da mãe e do pai, ou antes dela, os filhos precisam, muitas vezes, tomar o lugar dos seus pais no cuidado e retribuindo amor. Neste Dia das Mães, o portal RCCBRASIL traz um testemunho de um jovem que se viu nesta situação e decidiu assumir o cuidado da mãe, retribuindo todo amor e carinho recebido durante toda vida.

“- Pai, mãe, quem manda agora sou eu!!”.

E quando nós filhos, temos que exercer uma “paternidade” inusitada sobre os nossos próprios pais? Um dia este tempo chega. É louvável e maravilhoso vivenciar bem esta “nova estação”. “Hoje és filho, amanhã serás pai”. Ela, minha mãe, sempre me repetia isso. Nem ela, nem eu sabíamos que esta “paternidade” se cumpriria sim, mas não necessariamente na ordem natural ou convencional da vida. O tiro saiu pela culatra!!! […]

“- Pai, mãe, quem manda agora sou eu!!”.

Me chamo Ruy Lima, tenho 30 anos, moro em Manaus no Amazonas, minha formação acadêmica é em comunicação social – Rádio, TV e internet, faço parte há 13 anos da RCC onde sou servo e missionário no Grupo de Oração Sentinelas da Manhã. Moro com os meus pais. Papai tem 75 anos e mamãe que tem 74. Ela foi recentemente diagnosticada em fase inicial com a demência de Alzheimer. E tenho uma irmã, casada, mais velha que eu, chamada Helena Maria, e somos todos muito felizes.

Apesar do tom de humor nas primeiras linhas deste relato, gostaria de chamar a sua atenção, caro leitor, para uma situação que pode se tornar familiar também aí com você. Trata-se da fase da vida em que os papéis se invertem e que muitos de nós filhos precisaremos encarar e lidar com a mesma naturalidade (quase impossível) em que eu e você enquanto crianças e adolescentes, totalmente dependentes de nossas referências, dos nossos heróis genitores, fomos conduzidos no início e ao longo de um grande período da vida, e agora no último estágio da vida deles somos nós que “assumimos o leme do barco”, e, obviamente, numa trajetória que geralmente não durará por muito tempo. O que não requer meras atenções naturais e utilitárias ou especiais, mas uma fase exigente em que a vida e também eles, os nossos pais, continuarão nos ensinando mais um pouco e desta vez casualmente. “Quão bela é a sabedoria nas pessoas de idade avançada, (…) a experiência consumada é a coroa dos anciãos;” (Eclo 25, 7-8).

A ‘terceira idade’, ‘idade da maturidade’ ou merecidamente também chamada a ‘melhor idade’, ou seja, a velhice chega acompanhada de grandes surpresas, sobretudo para nós filhos, familiares, cuidadores e entes mais próximos. “Deus reserva os melhores e mais saborosos doces em sacolas de pão”. Não tenho dúvidas, e no meu caso “estes doces tem um sabor a mais”.

Esta fase da vida não pode ser assumida de forma alguma como excessivamente gestual e responsável “apenas”. E não o é. Carregamos responsabilidades diferenciadas e mais específicas. Por vezes precisaremos dividí-las com os demais familiares, porém as aplicamos estrategicamente, propondo opções leves, sem exercer cargas, pressões, condicionamentos… Caso contrário o fardo acaba ficando pesado para ambos os lados, e o cuidado vira rotina, realidade triste e nada pedagógica.

“Somos nós que ditamos as regras do jogo”, mas eles precisam perceber e de alguma forma sentir que estão no comando da própria vida, que estamos ali dizendo para eles o que é melhor, sugerindo, estimulando, motivando-os, mas estamos ali!! Também ainda na condição de filhos, submissos, que os respeitam muito, que se sujeitam aos seus conselhos ornados de sabedoria, de vida e os querem muito bem e por um período de tempo que só Deus sabe quanto durará, uma relação sadia que não fica “contando ou diminuindo os dias”, ou algo que gere “superproteção”, mas aproveitando cada instante, cada circunstância, até as mais aflitas. (cf. Eclo 3, 1-18).

Talvez para os tempos em que temos vivido, de ambientes cada vez mais hostis, culturas e relacionamentos afetados pelo descartável, por atividades e prazos imediatos de uma sociedade líquida e desenfreada, o desafio seja esclarecer que “a velhice não é doença” ( Cateque do Papa Francisco, 4 março 2015 ), e esta compreensão precisa vir urgentemente à tona, sobretudo por nós jovens e filhos.

Agradeço o convite de oportunamente neste espaço, partilhar em suma este “novo apostolado e missão” que tenho abraçado mais intensamente nos últimos meses. Verdadeiramente é um ministério, uma vocação que precisa ser assumida e cumprida com gratuidade, tremor e temor como qualquer outra, não apenas por conta da velhice ou doença, mas por toda a vida enquanto filhos e sendo assim também gerar os seus devidos frutos de santidade e fidelidade a Deus, ao seu Reino e ao mundo. Especificamente do Senhor não espero as recompensas, mesmo estando aberto para recebê-las conforme os Seus desígnios. Mas zelo e prossigo na esperança de que se cumpra a Sua palavra que diz: “Deus quis honrar os pais pelos filhos” (cf. Eclo 3, 3a).

Para o dia das mães que se aproxima, especialmente à elas, sem esquecer também dos pais, que ambos sejam honrados por Deus Pai através de nós filhos. Minha singela homenagem!!!