Hoje, 25 de março, a Igreja celebra a anunciação do Senhor. Momento propício para meditar o encontro de Deus com seu povo. Te convido a ler a Catequese do Papa Francisco que traz uma bela reflexão sobre essa solenidade.

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“Acabamos de ouvir o anúncio mais importante da nossa história: a anunciação a Maria (cf. Lc 1, 26-38). Um trecho denso, cheio de vida, e que gosto de ler à luz de outro anúncio: o do nascimento de João Batista (cf. Lc 1, 5-20). Dois anúncios que se seguem e que estão unidos; dois anúncios que, se forem comparados, nos mostram aquilo que Deus nos doa no seu Filho.

A anunciação de João Batista ocorre quando Zacarias, sacerdote, pronto para dar início à ação litúrgica, entra no Santuário do Templo, enquanto toda a assembleia está do lado de fora, à espera. Ao contrário, a anunciação de Jesus realiza-se num lugar remoto da Galileia, numa cidade periférica e com uma fama não particularmente boa (cf. Jo 1, 46), no anonimato da casa de uma jovem de nome Maria.

Um contraste não irrelevante, que nos indica que o novo Templo de Deus, o novo encontro de Deus com o seu povo, terá lugar em locais onde normalmente não esperamos, às margens, na periferia. Ali se marcarão encontro, ali se encontrarão; ali Deus se fará carne para caminhar conosco desde o seio da sua Mãe. Já não será um lugar reservado a poucos, enquanto a maioria permanece fora, à espera. Nada e ninguém lhe será indiferente, nenhuma situação será privada da sua presença: a alegria da salvação tem início na vida quotidiana da casa de uma jovem de Nazaré.

O próprio Deus é Aquele que toma a iniciativa e escolhe inserir-se, como fez com Maria, nas nossas casas, nas nossas lutas do dia a dia, repletas de ansiedades e, ao mesmo tempo, de desejos. E é precisamente dentro das nossas cidades, das nossas escolas e universidades, das praças e dos hospitais que se cumpre o anúncio mais bonito que podemos ouvir: “Alegra-te, o Senhor está contigo!”. Uma alegria que gera vida, que gera esperança, que se faz carne no modo em que olhamos para o porvir, na atitude com que olhamos para os outros. Uma alegria que se torna solidariedade, hospitalidade, misericórdia para com todos.

Como Maria, também nós podemos estar desorientados. “Como acontecerá isto” em tempos com tanta especulação? Especula-se sobre a vida, sobre o trabalho, sobre a família. Especula-se sobre os pobres e os migrantes; especula-se sobre os jovens e o seu futuro. Tudo parece reduzir-se a números, deixando, por outro lado, que a vida diária de muitas famílias se tinja de precariedade e de insegurança. Enquanto a dor bate em muitas portas, enquanto cresce a insatisfação de numerosos jovens pela falta de oportunidades reais, a especulação abunda em todos os lados.

Certamente, o ritmo vertiginoso a que estamos submetidos parece roubar-nos a esperança e a alegria. As pressões e a impotência perante muitas situações parece que nos torna áridos e insensíveis diante dos inúmeros desafios. E paradoxalmente quando tudo se acelera para construir — em teoria — uma sociedade melhor, no final não se tem tempo para nada e para ninguém. Perdemos o tempo para a família, para a comunidade, para a amizade, para a solidariedade e para a memória.

Fará bem questionar-nos: como é possível viver a alegria do Evangelho hoje nas nossas cidades? É possível a esperança cristã nesta situação, aqui e agora?

Estas duas perguntas referem-se à nossa identidade, à vida das nossas famílias, dos nossos países e das nossas cidades. Mexem com a vida dos nossos filhos, dos nossos jovens e exigem da nossa parte um novo modo de nos situar na história. Se a alegria e a esperança cristã continuam a ser possíveis, não podemos, não queremos permanecer diante de tantas situações dolorosas como meros espectadores que olham para o céu esperando que ‘deixe de chover’. Tudo o que acontece exige que olhemos para o presente com audácia, com a audácia de quem sabe que a alegria da salvação adquire forma na vida quotidiana da casa de uma jovem de Nazaré”.

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Leia na íntegra pelo
site do Vaticano.