Hoje, na Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, o Papa Francisco nos convida por meio do Angelus a meditar sobre a humildade da Virgem Santíssima. Leia a reflexão na íntegra.

 

O Evangelho da liturgia de hoje, solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, leva-nos à sua casa de Nazaré, onde recebe o anúncio do anjo (cf. Lc 1, 26-38). Dentro das paredes da casa, a pessoa se revela melhor do que em qualquer outro lugar. E é precisamente nessa intimidade doméstica que o Evangelho dá-nos um pormenor que revela a beleza do coração de Maria.

 

O anjo a chama de “cheia de graça”. Se ela está cheia de graça, significa que Nossa Senhora está vazia de maldade, ela não tem pecado, Imaculada. Agora, com esta saudação, Maria – diz o texto – fica “muito perturbada” ( Lc 1,29). Ela não está apenas surpresa, mas chocada. Receber grandes saudações, honras e elogios às vezes corre o risco de despertar orgulho e presunção. Recordemos que Jesus não é terno com quem vai à procura das saudações nas praças, da lisonja, da visibilidade (cf. Lc 20, 46). Maria, por outro lado, não é exaltada, mas preocupada; em vez de sentir prazer, sinta espanto. A saudação do anjo parece maior do que ela. Porque? Porque ela se sente pequena por dentro, e essa pequenez, essa humildade atrai o olhar de Deus.

 

Assim, vemos um trecho maravilhoso entre as paredes da casa de Nazaré. Como está o coração de Maria? Tendo recebido os mais elevados elogios, ela se preocupa porque sente o que não atribuiu a si mesma dirigido a si mesma. Na verdade, Maria não se atribui prerrogativas, nada reivindica, nada atribui ao seu mérito. Ela não está satisfeita consigo mesma, ela não é exaltada. Porque na sua humildade sabe que tudo recebe de Deus, por isso está livre de si mesma , totalmente voltada para Deus e para os outros. Maria Imaculada não tem olhos para si mesma . Aqui está a verdadeira humildade: não ter olhos para si, mas para Deus e para os outros.

 

Recordemos que esta perfeição de Maria, cheia de graça, é declarada pelo anjo dentro das paredes da sua casa: não na praça central de Nazaré, mas ali, escondida, na maior humildade. Naquela casinha de Nazaré palpitou o maior coração que uma criatura já teve. Queridos irmãos e irmãs, esta é uma notícia extraordinária para nós! Porque nos diz que o Senhor, para fazer maravilhas, não necessita de grandes meios e das nossas habilidades sublimes, mas da nossa humildade, do nosso olhar aberto a Ele e também aberto aos outros. Com esse anúncio, dentro das pobres paredes de uma pequena casa, Deus mudou a história. Ainda hoje ele quer fazer grandes coisas conosco na vida cotidiana: isto é, na família, no trabalho, nos ambientes cotidianos. Lá, mais do que nos grandes acontecimentos da história, a graça de Deus adora trabalhar. Mas, eu me pergunto, nós acreditamos nisso? Ou pensamos que a santidade é uma utopia, algo para quem está de dentro, uma ilusão piedosa incompatível com a vida cotidiana?

 

Peçamos a Nossa Senhora uma graça: libertar-nos da ideia enganosa de que uma coisa é o Evangelho e outra vida; que nos anima de entusiasmo pelo ideal de santidade, que não é questão de santinhos e pequenas imagens, mas de viver cada dia o que nos acontece humildes e alegres, como Nossa Senhora, livres de nós mesmos, com os olhos voltados para Deus e no próximo nos encontramos. Por favor, não percamos a coragem: o Senhor deu a todos um bom tecido para tecer a santidade na vida quotidiana! E quando nos assaltar a dúvida do insucesso ou a tristeza da inadequação, deixemo-nos olhar pelos “olhos misericordiosos” de Nossa Senhora, porque ninguém que a pediu ajuda jamais foi abandonado!

 

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Fonte: Vaticano