“A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva. Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada, porque o Poderoso fez por mim coisas grandiosas. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem” (Lc 1,48-50). Palavras proféticas pronunciadas pela Virgem Maria em sua visita a Isabel, cuja realização testemunhamos um dia depois do outro. Felicidade de quem diz sim! Aventura feliz de uma vida plenamente realizada! Olhar amoroso de Deus, cuja misericórdia supera todas as distâncias! Aquela que é bem-aventurada é feliz simplesmente porque foi vista pela bondade de Deus. E ela se tornou a pessoa mais realizada também por corresponder a este amor.

O ambiente em que vivia a Virgem Maria, tudo indica que respirava a esperança dos que chamados “pobres de Javé”, ou “pequeno resto de Israel”, gente que não tinha perdido a esperança, no meio das vicissitudes da história do Povo de Deus do Antigo Testamento. Eram pessoas que mantinham os valores trabalhados pelos profetas no correr dos séculos, no anseio pela vinda do Salvador, cultivando em família e no meio das comunidades de fé o cultivo da mesma esperança. Assim a encontramos em Nazaré, numa família simples, adolescente, quase jovem, já prometida em casamento, como era costume àquele tempo. E Deus envia a sua Palavra e seu projeto de vida e salvação para a humanidade justamente àquela mocinha, num momento preciso da história, quando o Pai quer revelar ao nosso coração e à nossa vida seu imenso amor. É na fragilidade e na pobreza da humilde Virgem a Nazaré que estão depositadas todas as expectativas de tantos séculos. Sua resposta mudou a história para melhor, como ninguém mais pode fazer! Este é o tempo da graça, da alegria plena, quando Deus dignou-se tirar a vergonha que pesava sobre nós (Cf. Lc 1,25).

Aparece a Maria o Anjo Gabriel, “Força de Deus”! (Cf. Vários autores, Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico A, Elledici, Leumann – TO, 2010). O forte se faz pequeno, o Céu se aproxima da terra, ressoa o anúncio da alegria. O lugar é Nazaré da Galileia, terra mais distante, quase desprezada, de onde não se esperava nada de bom (Cf. Jo 1,46), mas que se torna lugar de aliança, lugar escolhido para o sigilo do amor infinito de Deus, que não se assusta com a pequenez. Maria sentiu dentro de si o sopro do amor de Deus e disse o seu sim. Dali para frente, a estrada se abriu também para nós.

“Grita de alegria, filha de Sião! Canta, Israel! Alegra-te e exulta, de todo o coração, ó filha de Jerusalém! (Sf 3,14) “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). Em Maria ressoa a proclamação da alegria. Nossa salvação começa na alegria e não na proclamação do pecado. E a Virgem Maria escuta o anúncio da alegria, o reconhece e o acolhe, entendendo que também para ela se realiza a profecia, a vontade de Deus. A antiga promessa – “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15) – encontra a sua realização, por pura graça de Deus; Sabemos por São Paulo que “Deus nos escolheu em Cristo, antes da criação do mundo, para que sejamos santos e imaculados sob seu olhar, no amor” (Ef 1,4). É o projeto de Deus para todos e Maria foi escolhida, chegando na nossa frente, como sinal e modelo, “primícia da Igreja, esposa de Cristo, sem ruga e sem mancha, resplandecente de beleza. Escolhida entre todas as mulheres, modelo de santidade e advogada nossa” (Prefácio da Solenidade da Imaculada Conceição). O plano de Deus é uma humanidade de santos e imaculados, para que não deva mais fugir da presença de Deus, com o rosto cheio de vergonha, como Adão e Eva depois do pecado (Cf. Raniero Cantalamessa, “O Verbo se faz carne”, Editora Ave-Maria, página 863). Nada é impossível para Deus, nem mesmo fazer de nós, criaturas limitadas, santos e irrepreensíveis.

A Virgem Maria é a Imaculada para nós, entrando em nosso dia a dia, como referência e modelo. Em Maria, acolhemos a proposta de viver sem o pecado, ainda que sejamos pecadores. Reagir fortemente contra a onda de relativismo e relaxamento que pode envolver-nos, tendo a coragem de dizer, como muitas vezes ressoa em ambientes de Igreja, “por hoje não vou pecar”, mesmo sabendo que, sendo limitados e frágeis, podemos cair. Se estamos cheios de rugas, rugas de nossa preguiça, da soberba, da sensualidade desordenada que torna o espírito tão refratário à visita de Deus, é hora de empreender corajosamente uma renovada batalha pela santidade. Justamente em caso de quedas, temos à disposição o remédio do Sacramento da Penitência, fecundado por uma imensa confiança na misericórdia de Deus e na disposição para uma vida nova, condição para recebê-lo de forma frutuosa.

Ainda mais, sair do negativo e programar a própria vida na estrada da virtude e do bem, buscando fazer tudo de bom de que formos capazes, sem desperdiçar as oportunidades para amar e servir o nosso próximo. Um olhar de quem quer ser imaculado será ainda capaz de ver o bem existente em seu redor, superando a tendência tão espalhada de colocar em relevo a maldade e os erros dos outros, especialmente daquelas pessoas que eventualmente possamos considerar inimigos, até porque, assim fazendo, não teremos mais inimigos!

O maior e mais frutuoso espaço da santidade e fonte da virtude para todos, será o encontro com Jesus Cristo vivo, em sua Palavra, também presente no meio de nós, no próximo a quem servimos e de forma especialíssima na Eucaristia. Maria, a Imaculada, que passa na frente, nos leve pela mão e nos apresente de novo ao seu Filho. E durante o Tempo do Advento, a Virgem Maria seja vista como referência da expectativa vigilante que nos deve caracterizar, para que tenhamos o anseio pelas coisas de Deus e seu Reino.

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL