Intercessão: Dons e Carismas de Serviço
Peter Thompson
Em todo o mundo, literalmente, milhões de católicos e um grande número de cristãos de outras comunidades eclesiais já experimentaram o Batismo no Espírito Santo, com a manifestação dos carismas e dons espirituais, tanto comuns como extraordinários, que o acompanham.
No século passado, a consciência desses dons e carismas vem mais uma vez à tona na vida quotidiana da Igreja. A linguagem da Igreja tem cada vez mais incluído palavras que refletem um entendimento mais profundo dessas verdades constantes, e como usamos esses dons do Espírito para o bem comum e para a edificação do corpo. Em outras palavras, a serviço do povo de Deus.
Em cada um dos quatro Evangelhos, as palavras de São João Batista são lembradas. São João disse que Aquele que viria após ele “Vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3, 11; Mc 1, 8; Lc 3, 16; Jo 1, 33). Esta grande promessa é uma característica central dos Evangelhos. Jesus Cristo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho de Deus, prometeu capacitar seus seguidores de todos os tempos com o poder do Espírito Santo, a fim de viver o Evangelho e espalhar a boa nova em todo o mundo.
Como Jesus usou os dons
Um bom lugar para começar a entender o uso dos dons e carismas de serviço é ler, em oração, cada um dos quatro Evangelhos e absorver em nosso próprio ser as maneiras como Jesus, cheio do Espírito Santo, usou esse poder a serviço do povo de Deus. À medida que viramos as páginas, somos confrontados com este poder de Deus sendo usado para a glória de Deus e para a edificação do povo de Deus.
Servir e satisfazer as suas necessidades
Inspirado pelo Espírito Santo, os escritores dos Evangelhos deixaram-nos um relato completo do ministério público de Jesus. Alguns dos milagres que Cristo realizou são registrados por nós, e podem nos ensinar muito. A uma palavra de sua mãe (João 2, 3), Jesus responde a uma necessidade bem prática: o vinho terminou e Ele faz um milagre, transformando a água em um vinho muito delicioso, de modo que todos os convidados do casamento pudessem beber à saúde e ao bem-estar do casal recém-casado.
Que ato profundo de amor e serviço! Nós, em nossa sabedoria humana, poderíamos pensar a respeito dessa necessidade por mais vinho como uma questão de pouca importância quando comparada às grandes necessidades do mundo. No entanto, Cristo, em seu grande amor, deseja nos ajudar não apenas em tempos de grandes crises, mas também nos eventos comuns que ocorrem em nossa vida diária.
Há relatos repetidos de Jesus curando doenças como a lepra, três relatos de mortos sendo ressuscitados. Os cegos, surdos, mudos, paralíticos e aflitos são curados. Os possuídos pelo demônio são libertados e a boa nova é proclamada com grande poder. Tudo isto é feito com amor e para a glória de Deus Pai.
Em João 11, Jesus nos diz que a ressurreição de Lázaro é para a glória de Deus. “Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus”. João 11, 4.
Jesus, em Seu grande amor, nos promete o Espírito Santo para que possamos ser usados por Deus para a Sua glória e para amar e cuidar de Seus filhos. Jesus nos diz: “Não vos deixarei órfãos” (Jo 14, 18). Em Jo 16, 7, Ele nos diz que nos enviará o Paráclito.
Como os apóstolos usaram os dons
Quando saímos dos Evangelhos para os Atos dos Apóstolos, vemos o cumprimento desta promessa com os Apóstolos e discípulos manifestando as obras que Jesus fez. Curando os enfermos, libertado os possuídos pelo demônio, ressuscitando os mortos, proclamando o Evangelho com poder, tudo sendo feito com amor, a serviço de Deus e para a glória de Deus. Na primeira cura milagrosa registrada em Atos, Capítulo 3, São Pedro não direciona a glória para si mesmo, mas aponta para Jesus. Atos 3, 12 diz: “Homens de Israel, por que vos admirais assim? Ou por que fitais os olhos em nós, como se por nossa própria virtude ou piedade tivéssemos feito este homem andar? … Em virtude da fé em Seu nome foi que esse mesmo nome consolidou este homem, que vedes e conheceis”.
Não admira que a Santa Madre Igreja, a cada ano, no seu calendário litúrgico, faz-nos refletir sobre os Atos dos Apóstolos entre a Páscoa e Pentecostes. Quando ouvimos estas palavras novamente sendo proclamadas na celebração da Eucaristia, ouvimos como os apóstolos usaram os carismas que receberam em Pentecostes.
Nós também somos exortados a utilizá-los da mesma forma como fizeram, imitando-os como eles imitaram Jesus Cristo. Em I Cor 11, 1, São Paulo diz: “Tornai-vos os meus imitadores, como eu o sou de Cristo”. Em I Cor 13, uma das passagens mais conhecidas das Escrituras, somos lembrados de que todos estes carismas devem ser usados com amor, a serviço do povo de Deus. Caso contrário, seremos apenas como um címbalo que retine e um obstáculo ao Evangelho. Se usados para a nossa própria glória, Deus não pode abençoar-nos. Embora, por amor ao Seu povo Ele escolha curar através de nós, o julgamento será severo.
Basta olhar para Atos 8, onde Simão, o mago, deseja comprar o poder do Espírito Santo. As palavras de São Pedro ressoam em nossos ouvidos. “Maldito seja o teu dinheiro e tu também, se julgas poder comprar o dom de Deus com dinheiro!” (Atos 8, 20).
Simão, o mago, terminou como um herege gnóstico. Até este dia, o pecado de Simão tem o seu nome.
Como devemos usar os dons
No Catecismo da Igreja Católica, o № 2003 conclui: “Seja qual for o seu caráter, às vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas se ordenam à graça santificante, e tem como meta o bem comum da Igreja. Acham-se a serviço da caridade, que edifica a Igreja”.
Devemos, portanto, estar sempre conscientes de nossas próprias motivações pessoais quando buscamos ser usados por Deus no uso desses dons e carismas. Cada um de nós está sujeito à nossa natureza caída, à nossa concupiscência. Há o perigo do orgulho e do auto-engrandecimento quando somos usados por Deus, portanto devemos, como os Apóstolos, concentrar os nossos agradecimentos a Deus e dar a Ele a glória. Somos vulneráveis à sedução de orgulho; por isso, é de vital importância permanecermos humildes de coração e mente, mas alegrando-nos pelo fato de que Deus, em Seu amor e misericórdia por seus filhos, voluntariamente nos usa para curar os doentes, encorajar os desanimados, proclamar o evangelho, libertar os cativos e fazer as obras de Deus.
Lembro-me dos bons conselhos que o sacerdote de nossa missão na África Ocidental nos deu.
Durante a missa de abertura, ele lembrou a todos nós de nossa equipe que éramos inúteis e que precisávamos manter os nossos olhos fixos em Jesus. Nós veríamos o poder de Deus se manifestando e deveríamos nos manter perto de Jesus. Fui enviado antes da equipe principal para preparar o caminho com outro irmão em Cristo. Chegamos e descobrimos que deveríamos falar para uma multidão de mais de 5000 pessoas naquela noite.
Após as palestras, a dança e os mini dramas, fomos convidados para ministrar ao povo. Havia pais segurando crianças doentes, implorando pela mão curadora de Jesus. Em pânico, senti-me totalmente inútil. (Eu era inútil). Esqueci totalmente a instrução que eu havia ouvido naquela manhã. “Mantenha seus olhos em Jesus.” Fugi da multidão e quando estava sozinho em meu quarto, falando com Jesus, confessei a minha falta de confiança Nele. Eu estraguei tudo, Senhor! Sim, meu filho, mas vou dar-lhe muitas outras oportunidades. Foi uma lição aprendida, mas ela me ajudou a lembrar que eu sou apenas um pequeno instrumento nas mãos de Deus e que Ele pode me usar da maneira que desejar. Tudo para glória de Deus e a serviço do amor ao Seu povo, quando ou onde quer que Ele escolha.
“Empenhai-vos em procurar a caridade. Aspirai igualmente aos dons espirituais”. I Cor 14, 1
Concluindo, embora percebamos nossa fraqueza e fragilidade e nossa tendência ao pecado, não devemos rejeitar os dons, mas abraçá-los com alegria, sabendo que a graça de Deus está lá para nos purificar no uso de Seus dons. Em Romanos 12, 6-8, Paulo nos instrui:
“Temos dons diferentes, conforme a graça que nos foi conferida. Aquele que tem o dom da profecia, exerça-o conforme a fé. Aquele que é chamado ao ministério, dedique-se ao ministério. Se tem o dom de ensinar, que ensine; o dom de exortar, que exorte; aquele que distribui as esmolas, faça-o com simplicidade; aquele que preside, presida com zelo; aquele que exerce a misericórdia, que o faça com afabilidade”.