
Observando o ciclo litúrgico anual, a Santa Igreja nos oferece, de maneira oportuna, o tempo da Quaresma, como um período favorável para a conversão e mudança de vida. Como nos ensina o Eclesiastes: há um tempo para cada coisa debaixo do sol (Ecle 3,1). Se a Páscoa ou até mesmo o Natal são para nós tempos de júbilo, a Quaresma, por sua vez se apresenta como um tempo penitencial. Assim compreendemos, que Deus, em sua infinita misericórdia, não cessa de convidar seu povo à conversão do coração, por meio da penitência. A este propósito, nos afirma São Clemente I, em sua Carta aos Coríntios: Percorramos todas as épocas do mundo e verificaremos que em cada geração o Senhor concedeu o tempo favorável da penitência a todos os que a Ele quiseram converter-se. Para percorrermos este itinerário de conversão, dispomos de três valiosos auxílios: a Oração, a Caridade e o Jejum.
Na tradição judaico-cristã, o jejum sempre foi entendido como uma forma ascética de mortificação e moderação da vontade humana, bem como um ato de reconciliação com Deus. A este propósito, diz o Senhor: voltai a mim de todo coração com jejuns, lágrimas e gemidos de luto (Joe 2, 12). O jejum é, portanto, um trajeto de obediência a Deus, que ao ver-nos distantes do seu amor, imersos em nossos excessos, convida-nos ao caminho de retorno a nós mesmos e ao seu divino convívio. O jejum bem vivido leva-nos à verdadeira e profunda experiência com Deus, e tal experiência deve ter em conta a vida de oração e humildade. Assim nos ensina São Gregório Magno: O jejum é a disciplina do corpo, mas a oração é a força da alma. Quando o jejum é unido à oração, a alma recebe grandes benefícios (Homilia sobre o Jejum).
Neste contexto, a Quaresma é também um convite especial para a vida de oração. Ao tratarmos desta temática, o nosso primeiro olhar deve se voltar para Cristo, perfeito modelo de intimidade com o Pai. É comum encontrarmos nos Evangelhos, o Senhor Jesus retirado em oração, sobretudo nos momentos cruciais de sua missão: Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma montanha para rezar, e passou aí toda a noite orando a Deus (Lc 6,12). O seguimento a Jesus jamais poderá dissociar-se de um quotidiano orante. Deste modo, somos convidados a compreender a oração como a mais profunda maneira de nos convertermos ao Senhor. O diálogo com Deus é capaz de propiciar uma contrição sincera e verdadeira, gerando em nós o arrependimento de nossas culpas e o desejo pela conversão.
Esta verdadeira vida de oração deve também nos mover a prática da caridade. Assim diz o Apóstolo: A fé sem obras é morta (Tg 2, 26). O amor a Deus e ao próximo resume todo o ensinamento de Jesus, e este importante ideal é um luminoso fanal para a nossa vivência cristã. A esmola, como destacada neste aspecto quaresmal, precisa ser interpretada como fruto de uma oração profícua, transformada em um ato de amor. Não limitemos a caridade em nosso agir cristão, pois tal ato, nos assemelha ao Cristo sofredor, que por nós se entregou sem reservas. A caridade é, portanto, um profundo testemunho cristão para o mundo, que ainda insiste em viver distante do amor fraterno. Trilhemos este itinerário quaresmal alicerçados nestas três práticas excepcionais da vivência cristã, para que com os corações convertidos e purificados, possamos celebrar jubilosos o Mistério Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Pe.
Gilberlândio José da Silva
Diocese
de Iguatu – Ce