Deus é Senhor: assim o proclamam as Escrituras, do Gênesis ao Apocalipse. O Espírito Santo é “Senhor, e dá a vida”: assim professa nele a Igreja sua fé, no Símbolo chamado Niceno-Constantinopolitano. Mas esse atributo que é próprio da essência divina única (comum às três pessoas divinas, pois…), quis Deus que, de modo pessoal, fosse reconhecido na figura do Cristo, Salvador e Redentor. O sonho eterno do Pai era conduzir toda a criação ao reconhecimento do Filho, pelo Espírito, como Senhor de tudo e de todos: “Ele nos manifestou o misterioso desígnio de sua vontade, que em sua benevolência formara desde sempre, para realizá-lo na plenitude dos tempos – desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra…” Para isso,“ fomos selados com o Espírito que fora prometido…” ( cf. Ef 1, 3-14).
Proclamar Jesus como Senhor – isto é, colocar Jesus no Centro de tudo –, é uma importantíssima e fundamental doutrina bíblica. Não se trata de um slogan usado por alguns irmãos Evangélicos, Pentecostais, mas de uma profunda verdade de fé que precisa ser tomada em conta em todo e qualquer programa de evangelização.
Após a vinda do Espírito em Pentecostes (onde Ele nos é apresentado como o Dom de Deus, em cumprimento de Suas promessas), a primeira coisa que Pedro e os apóstolos fazem (depois de responder a algumas pequenas questões dos presentes), é ir direto ao ponto da nova realidade que se abre à humanidade. E o ponto é Jesus Cristo, no centro. É Jesus Cristo como Senhor. Na força do Espírito – conforme a promessa – , o simples, medroso e inculto Pedro ousadamente proclama esta novidade que deveria ser a base da doutrina do Ressuscitado: “…Israelitas, ouvi estas palavras…Vós matastes a Jesus de Nazaré… A este Jesus, Deus o ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas. Exaltado pela direita de Deus, havendo recebido o Espírito Santo prometido, derramou-o como vós vedes e ouvis… Que toda a casa de Israel saiba, portanto, com a maior certeza de que este Jesus, que vós crucificastes, Deus o constituiu Senhor e Cristo.” (cf. At 2, 22-36).
Também hoje, nesses tempos privilegiados do Espírito (cf. EN, 75), se quisermos reevangelizar nosso secularizado, aético, pragmático, e cada vez mais anti-evangélico mundo moderno, precisamos, aproveitando dessa nova e vivificante vinda do Espírito sobre a Igreja, colocar Jesus no centro, pois o fruto da experiência da efusão copiosa do Espírito como vem ocorrendo no último século precisa servir ao propósito de Deus na renovação, na restauração da soberania de Jesus Cristo na vida das pessoas, e através delas na Igreja, nas igrejas, e na sociedade…No poder do Espírito, convidar as pessoas a destronar o ego e entrar num relacionamento pessoal com Jesus, como Senhor e Salvador.
Diz Raniero Cantalanessa: “ O Espírito coloca na boca do pregador as palavras: ‘Jesus é o Senhor!’, e eis a evangelização…” Sim, porque, somente quando esse Jesus – Senhor de tudo e de todos, por direito e por conquista – é assumido como meu Senhor, posso constatar que “conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber, e que tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas…”, cf. Doc. Aparecida, 29. Talvez, ao evangelizarmos, estejamos enfatizando exageradamente nossas heranças doutrinárias, nossas leis canônicas, os aspectos institucionais de nossa Igreja, as liturgias, devoções e espiritualidades, e negligenciando verdades essenciais da fé – como essa doutrina do senhorio de Jesus. Não nos damos conta que toda essa cultura sobre a pessoa e a Igreja de Jesus – por vezes – é carga demasiada pesada para quem não teve ainda um encontro pessoal com o Messias, como Senhor e Salvador. “…Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva.” (Doc. Aparecida, 12).
Toda a doutrina, liturgia, teologia, espiritualidades, são preciosidades de nossa fé. Mas, assim o serão se ocorrer em nossa vida o encontro com o Cristo, Senhor! Diz Paulo que, tudo aquilo que para ele eram vantagens (ver Fl 3, 4-11.17-20), ele considerou como perda, por Cristo. “Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor…”
Diz ainda o apóstolo que reconhecer a Jesus como Senhor, é coisa que só podemos fazer sob a ação do Espírito Santo (cf. I Cor 12,3). Isso porque, essa profissão (aliás, a mais antiga profissão de fé usada na Igreja primitiva), não era apenas uma fórmula que qualquer um podia pronunciar. Continha em si conseqüências, como o repúdio a quaisquer ídolos e a volta consciente a Deus. Diz Arnold Bittlinger, que, “quem diz: Jesus é o Senhor, precisa estar dizendo, ao mesmo tempo: Jesus é o meu Senhor ! Ou seja, a confissão de fé autêntica inclui uma entrega a Jesus!” (Não foi essa a profissão de fé de Tomé, quando fez a experiência do encontro pessoal com o Cristo ressuscitado, e disse: “Meu Senhor e meu Deus”, cf. Jo 20,28)?
Supõe reconhecer a Jesus de Nazaré – verbo encarnado, pessoa humano-divina – como Senhor absoluto de todas as coisas (inclusive do tempo, da história, do que é eterno). E isso não é coisa que a mente e o coração humanos conseguem alcançar senão com o operar e a ação coadjuvante do Espírito (cf. DV, 5), revelador da verdade (cf. Jo 16,13) e testemunha nomeada do Filho (cf. Jo 15,26)… Paulo chega a identificar essa confissão como uma condição para a salvação: “…Se, com tua boca confessares que Jesus é o Senhor, e se em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”(Rm 10,9). Porque Jesus conquistou o direito de ser nosso Senhor também assumido as nossas culpas, “morrendo por nossos pecados e ressuscitando para a nossa justificação” (Rm 4,25). Por esse aniquilamento, por sua obediência à vontade do Pai, por sua morte de cruz, “Deus lhe outorgou um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.” (cf. Ef 2,5-11).
Dizer que Jesus Cristo é o Senhor, é dizer que o Cordeiro de Deus, imolado, está de pé: venceu! É dizer que a morte, o sofrimento, a vida…tudo, tem sentido! Que a humanidade tem jeito, que o mal não tem a última palavra. É sentir-se convidado a viver uma vida que não acabará jamais. É concordar em ter a Deus por Pai, a ter o outro por irmão, a ser templo do Espírito Santo… É ser herdeiro da promessa, de graças incomensuráveis e imerecidas…É reconhecer, nele, o Sol que não conhece ocaso, e que sempre ressurge triunfante dentre as nuvens, das sombras, das brumas, das tempestades, dos temores…É olhar nos olhos de quem você ama e dizer: você não morrerá jamais, pois “por isto é que Cristo morreu e tornou à vida: para ser o Senhor tanto dos vivos como dos mortos.” (Rm 14,9). Aleluia! MARANATHA! O Senhor vem! MARANA THÁ! Vem, Senhor Jesus!!! (cf 1 Cor 16,23; Apc 22,20)…