Nesta semana maior, a semana santa, gostaria de meditar sobre o caminho feito por um dos discípulos de Jesus, Judas Iscariotes. A Sagrada Escritura nos garante que nosso itinerário espiritual deve ser sempre das trevas para luz, da noite para o dia, da morte para a vida. Do vale para o monte. Infelizmente Judas fez o caminho inverso que também pode ser o nosso se não fizermos uma opção desinteressada por Jesus.

Segundo Mateus 26, 14 um dos doze foi ter com os sumos sacerdotes para uma barganha injusta, vender Jesus. O chocante do texto é o fato de ser um dos doze, alguém que foi chamado por Jesus, conviveu com Ele, contemplou o Seu poder em ação, foi amado e mesmo assim O trocou por um nada pois Ele não lhe era suficiente. Queria mais e mais desse mundo.

Judas conviveu com Jesus, mas Este não lhe bastou. Usou do Senhor e de sua companhia enquanto lhe era conveniente. Quando foi preciso escolher entre Jesus e o que Sua companhia podia lhe dar e favorecer, preferiu continuar com o que lhe favoreceria, o dinheiro da traição. Caminhou com Jesus unicamente com interesses. E levou a cabo seu objetivo.

O auge de sua loucura foi vender o grande tesouro por um preço de um escravo. Profetizava no seu gesto sem sabê-lo, pois de todo mal Deus é capaz de retirar um bem maior. Anunciou que Jesus se fazia escravo no lugar de Adão escravo e com ele toda a humanidade. Escolheu ser vendido por um mero preço de um escravo para comprar o escravo por um alto preço de um tesouro.

Após o combinado sentou-se à mesa de Jesus. Enquanto todos os outros, com receio, perguntavam a Jesus sobre quem seria o traidor, por medo de sê-lo, Judas, segundo Orígenes, não o faz por fraqueza ou medo de também ser o traidor, mas para esconder sua traição “Mestre, serei eu?” (Mt 26,25). Dissimuladamente tenta esconder sua traição numa pergunta.

São Jerônimo afirma que enquanto os apóstolos não querem mais comer entristecidos com a possibilidade de trair o Mestre, Judas come para mostrar que de uma maneira mentirosa não tem peso na consciência e que está bem consigo mesmo. Jesus lhe dá de comer para se fazer um com ele, oferecer sua amizade. E vai tentar ser seu amigo ainda na hora da traição com um beijo. Jesus lhe chama de amigo (Mt 26,50).

Jesus não desistiu de Judas mesmo este tendo desistido Dele. Mas Satanás entrou nele porque ele fechou todas as possibilidades ao amor de Deus e com isso, abriu uma porta ao Diabo (Jo 13,27). “Renegou toda marca de amor e de eleição” (São Cirilo de Alexandria).

Que caminho triste! Ao ser chamado por Jesus iniciou seu discipulado com alegria e amor. Mas se perdeu ao longo do caminho. Se perdeu porque não escolheu Jesus como Senhor, mas o que este Senhor poderia lhe dar, lhe favorecer, lhe promover. Eis aí uma grande tentação para nós que conhecemos Jesus. Buscá-Lo por aquilo que pode me dar e não por aquilo que realmente é. Buscar mais meus interesses que os Dele. Viver acreditando que Ele nos dá tudo o quanto pedimos e não dando a Ele tudo o quanto Ele tem nos pedido. Buscar uma vida gloriosa esquecendo que esta só pode vir como consequência de uma oferta verdadeira na Cruz. Só conhece a vida quem tem a coragem de experimentar a morte.

Oremos neste dia pedindo ao Senhor misericórdia. Senhor piedade de nós pobres homens, interesseiros, desonestos. Misericórdia Senhor, não nos permita Te buscar pensando em nós mesmos, mas somente e unicamente na Tua glória. Salva-nos Senhor de nós mesmos e dai-nos caminhar longe da traição ao teu amor e à tua escolha por nós. Vivemos, Senhor, de misericórdia! Dai-nos te ser fiel.

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Padre Eduardo José dos Santos Ribeiro, sjs
Instituto Missionário Servos de Jesus Salvador