A juventude carismática do Brasil é missionária. Diversos projetos e iniciativas, como o Jesus no Litoral e o Ruah, movimentam muitos jovens em prol da evangelização. Entretanto, a difusão da Cultura de Pentecostes também se dá na missão do dia-a-dia. Conheça o testemunho de uma estudante de Medicina que, depois de participar do Encontro Estadual  organizado pelo Ministério Jovem e Universidades Renovadas do Rio Grande do Sul, foi impulsionada pela Palavra de Deu a lutar e sonhar com um tratamento mais digno para os usuários de crack.

Melise Rosa é coordenadora diocesana do Ministério Jovem de Rio Grande/RS e estudante de medicina da Universidade Federal de Rio Grande (FURG). A partir do texto de Joel 2 e do entendimento de somos convocados a ocupar os  lugares e cargos estratégicos da sociedade, para que os seus rumos sejam influenciados por valores cristãos, Melise e sua colega Clariana se deixaram mover por Deus. Leia o relato abaixo.

“Espalham-se pelas cidades, correm por cima dos muros, invadem as casas, entrando pelas janelas como ladrões.” (Joel 2)

Tudo começou quando conhecemos a história triste de Vitória. Uma menina de três meses internada com uma fratura em osso occipital do crânio devido a maus tratos de mãe, usuária de crack. Ela estava lá, convulsionando de 10 em 10 minutos, desnutrida e com sarna em todo corpinho. Essa história mexeu muito com meu coração e com o coração da Clariana. Nos sentimos impotentes e muito revoltadas com a situação. Ainda mais quando soubemos que a menina fora devolvida a mãe pelo conselho tutelar de nossa cidade.

Além disso, percebemos que os médicos e os profissionais da saúde não sabem lidar com usuários de crack, com o aumento do número de usuários, e que há muitas pessoas sofrendo consequências por conviver com esses usuários (como a pequena Vitória).

Depois desse acontecimento e de outros que vivenciamos na prática do curso de Medicina, nasceu, inspirada pelo Espírito Santo, uma idéia no coração da Clarina. Logo ela partilhou comigo e pensamos em fazer alguma palestra aqui na cidade de forma bem simples, apenas informativa para alguns médicos e estudantes de Medicina sobre o crack.

Então fomos procurar a vice-diretora da Faculdade de Medicina para perguntar o que ela achava da ideia. Ela disse que poderíamos começar fazendo uma palestrinha no Hospital Universitário e que nos apoiaria nisso. Perguntamos se poderíamos dar certificado aos participantes. Ela nos esclareceu que a emissão de certificados aprovados pela universidade exige carga-horária mínima de 20 horas. Ao invés de um curso, teríamos que organizar uma palestra o que nos custaria muito mais tempo, trabalho, dinheiro e experiência.

Então, mais uma vez o Espírito Santo agiu tirando todo o medo do coração e topamos entrar nessa de fazer um curso sobre o crack para a comunidade de Rio Grande. Depois disso, começaram as lutas… Luta por dinheiro, por divulgação, luta com pessoas que não acreditaram em nós e no nosso sonho, luta contra o desânimo porque muitos foram os “nãos” recebidos… E ainda a luta espiritual.

Enfim… Para não alongar mais essa partilha, nos dias 9, 10 e 11 de setembro, aconteceu em Rio Grande o primeiro evento do projeto CRACK, QUEBRANDO ESTA IDÉIA, um simpósio informativo para mais de trezentas pessoas, onde conseguimos levar informação a profissionais da saúde, estudantes e pessoas da comunidade sobre os efeitos da droga, prevenção, tratamento e muito mais.

Deus agiu poderosamente! Sobrou dinheiro para continuarmos com novas ações do projeto (isso é milagre, porque as pessoas não queriam nos ajudar financeiramente… Conseguimos o dinheiro na última hora, suando muito). A FURG abriu as portas para qualquer ação que quisermos fazer na faculdade e na sociedade. O coordenador do CAPS (órgão do SUS que cuida dos usuários de drogas) abriu as portas para nós. O pessoal do CEMPRE (órgão no Hospital Universitário que cuida de usuários de drogas) veio pedir desculpas pela falta de credibilidade que deram para a iniciativa no início e se colocaram a disposição para pesquisas e ações que o projeto queira fazer no hospital.

Isso sem contar que tivemos cobertura da TV e do jornal locais, presença do Reitor da universidade, que disse estar imensamente orgulhoso pela a iniciativa não ter partido dos professores, mas dos alunos. E já nos convocou a fazermos mais um curso semelhante a esse, mas agora para no mínimo mil pessoas.

Enfim, as pessoas da equipe (27 no total) talvez não tenham consciência, mas eu e a Clariana temos imensa certeza que tudo foi graça, pura graça. Deus fez tudo, nos deu de sobra, usou de nossa miséria, falta de experiência, talvez até de nossa loucura para agir e continuar agindo. E tem muito mais por aí. Já sonhamos em fazer pesquisas na área da drogadição, em atuar em postos de saúde, nas escolas, em fundar uma clínica para atender gestantes usuárias e as crianças que nascem neste ambiente de fragilidade. Deus tem nos feito sonhar, alto, sem limites humanos.

Também sabemos e percebemos que, em cada palavra, em cada abraço na equipe, Deus está de forma muito misteriosa, convertendo os corações de nossos colegas. Teve até uma menina que veio dizer: “Gurias! Papai do Céu cuidou de tudo!”. E outra que disse: “Meninas! Até os detalhes, Deus não deixou de nos dar”. Outra, ainda, veio e me disse: “Melise, tu acharia estranho se eu te pedisse um abraço?”. E assim Deus está fazendo.