No dia 5 de novembro, a Igreja celebrou a memória litúrgica de dois santos, ainda do tempo de Cristo, São Zacarias e Santa Isabel, pais de São João Batista – o precursor do Cristo. A história diz que “ambos eram justos diante de Deus e  observavam irrepreensivelmente todos os mandamentos do Senhor” (Lc 1, 6). Dos quatro evangelistas, apenas São Lucas, logo no primeiro capítulo, narra sobre suas vidas. E que vidas fantásticas! Tal como São João Batista, não fizeram grandes milagres, mas viveram de modo justo e irrepreensível e por isso, alcançaram de Deus a graça, mesmo em idade avançada, de terem sido pais do precursor do Cristo.

O nome Zacarias vem do hebraico Zakariya, que significa “Deus se lembrou”. Logo no início do Evangelho de São Lucas, o autor narra a vida de São Zacarias e Santa Isabel. Justos e obedientes a Deus, ambos eram velhos e mesmo Zacarias sendo sacerdote, não havia sido agraciado por um filho sequer. O que deveria, certamente, ser para os dois, motivo de grande pesar, mesmo diante da alegria de servirem a Deus. Pois, naquela época, o prestígio de uma mulher hebreia estava em sua maternidade. Mas ainda assim, ambos continuavam fiéis a Deus.

Certo dia, o anjo Gabriel (Lc 1, 11-20) foi enviado a São Zacarias, para anunciar que Isabel ficaria grávida e que daria à luz ao precursor de Cristo: “desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo; ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus, e irá adiante de Deus com o espírito e poder de Elias; para reconduzir os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lc 1, 15-17).

Mesmo recebendo a visão de um anjo de Deus, Zacarias duvidou. Sacerdote e certamente conhecedor de todos os prodígios e milagres que Deus havia realizado em favor de seu povo; conhecedor, também, da gravidez de Sara, esposa de Abraão, que havia concebido, mesmo sendo idosa. Ainda assim, Zacarias perguntou: “Donde terei certeza disso?” (Lc 1, 18). E por não ter dado “crédito às palavras do anjo”, mesmo depois de ter seu pedido com tanto fervor e ser atendido (Lc 1, 13), Zacarias ficou mudo, como sinal divino (Lc 1, 20), até que o tempo do nascimento de João se cumprisse.

Após o anúncio do anjo, Isabel concebeu e ficou cinco meses reclusa, em oração, até a visita de Nossa Senhora em sua casa: “Eis a graça que o Senhor me fez, quando lançou os olhos sobre mim para tirar o meu opróbrio dentre os homens” (Lc, 1,25). Ficou em oração e além desse grande acontecimento – ter ficado grávida, em idade avançada – Deus ainda haveria de honrá-la com outra grande graça. No sexto mês de gravidez, Isabel recebe a visita de sua prima, Maria, que com uma saudação, fez o precursor estremecer em seu ventre. E foi então que Isabel exclamou as palavras que meditamos em cada Ave Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1, 42).  Quanta alegria para um casal, que idosos, já não possuíam mais esperança de terem filhos!

Quando João Batista nasceu, o louvor rompe a mudez de São Zacarias, que profetizou uma das orações mais bonitas da Igreja, o Benedictus, também conhecido como Cântico de Zacarias, oração que integra a Liturgia das Horas, como oração comunitária oficial da Igreja depois da Missa e é rezado também por religiosos e padres na oração da manhã. O cântico é a profecia da missão de João Batista: “E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho” (Lc 1, 76).

Segundo o Evangelho apócrifo de Tiago (capítulo 23), São Zacarias foi martirizado logo após o nascimento de Cristo, na passagem dos Santos Inocentes Mártires, no extermínio de crianças praticado por Herodes, que queria matar o Salvador e queria também matar João Batista. Como Zacarias havia se negado a dar o paradeiro do filho, foi morto. Essa informação, porém, não consta no Martirológico romano.

Apesar de só aparecerem no primeiro capítulo do Evangelho de São Lucas, São Zacarias e Santa Isabel, são um casal inspirador para nossos tempos. Inspiram nossa fé, para que seja inabalável, mesmo diante do que nos parece impossível. Inspiram nosso temor a Deus, que precisa saber respeitar o Senhor em suas decisões, como quando precisaram esperar, com São Zacarias mudo, o momento de se cumprir o nascimento do filho. Inspiram nosso louvor! Que deve glorificar a Deus em cada maravilha que presenciamos. Como quando Isabel recebeu a visita de Nossa Senhora ou como quando Zacarias, curado da mudez, louvou a Deus e profetizou a missão de seu filho, João Batista.

Porém, sobretudo, para nossos tempos, em que diante de tão pouco vemos tantos abandonando a fé, São Zacarias e Santa Isabel, nos reforçam o desejo de sermos obedientes a Deus, cumprindo seus mandamentos, irrepreensivelmente. Na certeza de que se formos fiéis, Ele nos honrará! E assim como aconteceu com São Zacarias (“Deus se lembrou”), Deus também, lembrar-se-á de nós!  

São Zacarias e Santa Isabel, rogai por nós!

 

Virgínia Diniz – Ministério de Comunicação Social

Grupo de Oração Imaculada Conceição