A devoção mariana sobre o título de Nossa Senhora das Graças está diretamente ligada a aparição da Virgem Maria a Santa Catarina Labouré ( 1806 – 1876), religiosa francesa que recebeu a grande missão de difundir o que nós conhecemos como a “Medalha Milagrosa”.

De acordo com os relatos da religiosa, na tarde do dia 27 de novembro de 1830, em Paris (França), foi a própria Virgem Maria, ao apresentar-se diante dela ,que lhe falou que aquela aparição seria o “símbolo das Graças” que derramava sobre as pessoas que as pediam.

O acontecimento da aparição da Virgem foi se constituindo passo a passo para que Catarina assim pudesse ter a noção, um modelo, de como deveria ser a medalha e desta forma mandar fazer de acordo com a vontade de Nossa Senhora. “Manda, manda cunhar uma medalha por este modelo”, disse a Virgem.

A ordem para cunhar a medalha traz consigo uma promessa: “As pessoas que a trouxerem, com devoção, hão de receber muitas graças (…) hão de ser abundantes as graças para as pessoas que a trouxerem com confiança”. Desde então, difundiu-se por todo o mundo o uso da medalha milagrosa de Nossa Senhora das Graças.

Alguns assim poderiam se questionar: Que autoridade tem Maria para garantir que “hão de receber muitas graças” aqueles que trouxerem com devoção esta medalha? Para responder esta pergunta podemos partir do princípio de que ela mesma é portadora da graça. Basta-nos recordar as palavras do anjo Gabriel dirigidas a Virgem, em Nazaré: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lucas 1,28). Maria é “cheia de graça” diante de Deus. Em sua vida fora agraciada com a manifestação do poder do Senhor para torná-la a Mãe do “Filho do Altíssimo”.

A esse respeito o Catecismo da Igreja Católica nos garante que “para ser a Mãe do Salvador, Maria foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função” e que no “ momento da Anunciação,(..) para poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça de Deus” (n° 490, grifos nosso).

Maria é um sublime exemplo de como Deus pode intervir na história dos homens e voltar-Se à seu favor para sua salvação. Aliás, a própria palavra hebraica “hen” ou “hanan” utilizada no antigo testamento, que por vezes será traduzida por “graça”, significa “favor” como forma de atenção às necessidades ou carências e vai demonstrar o quanto Deus deseja conceder a humanidade a sua bondade. Assim Ele o faz à medida que nos aproximamos confiantemente d’Ele.

A graça da salvação e remissão dos pecados deu-nos o Pai, por Seu Filho unigênito. Mas o Filho só foi-nos possível ter entre nós através daquela que encontrou “graças diante de Deus” (Cf. Lc 1, 30). Seu consentimento na anunciação e a fidelidade daquele fiat até a cruz de Cristo, diz o Catecismo, demonstra sua maternidade na economia da graça e, assim, torna-se também “medianeira da graça” para os homens (cf. C.I.C n° 721).

São Luís Maria Grignion de Montfort, um grande difusor da devoção a Nossa Senhora, afirma que “Deus juntou todas as graças e fez Maria” e concedendo a ela este direito, permitiu-lhes o favor de interceder junto ao Filho, Jesus Cristo, para que a humanidade assim pudesse usufruir de sua maternidade espiritual de graças, tal qual o salvador usufruiu.

Há ainda algo muito significativo na promessa de Maria à Catarina de Labouré, muitas vezes despercebido por alguns ou de pouco importância para outros. As graças prometidas hão de ser dadas sim, mas é necessário à “devoção”, que poderíamos traduzir por retidão, conversão, sinceridade de coração, respeito ou temor.

Neste sentido, não basta apenas “trazer consigo a medalha”, é necessário o temor, aquele que é dom infuso do Espírito Santo. O temor filial de querer agradar a Deus e fazer a sua vontade, apartando-se especialmente do pecado. Este último aspecto é muito importante e está diretamente relacionado a muitas das aparições de Nossa Senhora, que sempre pede a seus filhos que se arrependam, mudem de vida, evitem o pecado, tenham uma conversão sincera de coração.

A Virgem Maria, através da Medalha Milagrosa, faz este alerta para nós. Não é a toa que a conhecida invoção mariana “ Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!” surge com esta devoção. Contudo, a perfeição do dom do temor de Deus em nós não é apenas evitar o pecado, mas evitando-o, amar a Deus sobre todas as coisas, tal qual amou Maria o Senhor. Maria é também para nós símbolo do perfeito temor a Deus.

É oportuno nos aproximamos de Maria para que ela nos ensine como vivermos dignamente segundo a vontade de Deus e de Seu Filho Jesus Cristo. Podemos, sem dúvida, recorrer ao seu favor por nós diante dos desafios e desesperos desta vida, confiantes em sua intercessão, buscando as graças que nos são necessárias.

A oração de São Bernardo nos diz que “nunca se ouviu dizer que algum daqueles” que tenha recorrido a Maria fosse por ela desamparado. Podemos clamar as graças de Deus em nossas vidas tal como ela nos prometeu, através das aparições a Santa Catarina Labouré, mas empenharmo-nos no perfeito temor, confiantes nas suas palavras à Santa: “Tenho muitas graças a distribuir!”

 

Jefferson Souza

Grupo de Oração Ágape – RCC Amapá

Diocese de Macapá