O coordenador nacional do Ministério de Música e Artes, Juninho Cassimiro, dá continuidade às cartas aos artistas de toda a RCC do Brasil. No artigo anterior, a reflexão foi sobre a humildade “Aos moldes de Maria: Não buscar as honras e fugir delas”. Já este texto diz sobre o ato de João acolher Maria como Mãe em sua casa. O convite é que todos possam fazer o mesmo. Acompanhe:

Mais do que ter devoção a Maria, precisamos imitá-la. (Raniero Cantalamessa)

O ministério de Música e Artes de todo o Brasil está sendo chamado a amar Maria. A frase do Raniero já nos propõe que somos devotos à virgem Maria. Por isso me pego perguntando se realmente somos ou não devotos de Nossa Senhora.

Sinto que a devoção a Santíssima Virgem nasce a partir de uma experiência com Ela. Diz São Luiz Maria Grignion de Montfort que a devoção à Santíssima Virgem é necessária para conseguirmos ser salvos e sermos santos.

Saber que a devoção é necessária para a nossa santidade e salvação já seria pra nós um grande impulso. Mas seríamos “devotos interesseiros” se assim o fizéssemos. Portanto, a devoção à Santíssima Virgem precisa ser um ato de amor, tão somente por amor. Vamos caminhar a partir da palavra de Deus: “Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa” (Jo 19, 26-27).

Eis aí tua mãe

Com certeza todos os apóstolos tinham grande amor por Maria. Ela era a mãe daquele homem que havia conquistado e transformado a vida deles. Como não amar essa mulher? Eles com certeza já eram tratados como filhos, porque eram os amigos de Jesus. E ela já tinha todo o carinho desses homens, porque Ela é a mãe de Jesus de Nazaré.

Aos pés da Cruz, um desses discípulos estava com Maria, era João. Ele vendo e ouvindo tudo o que ocorria naquela cena. Num ambiente que parecia ser trágico, num clima de profunda tristeza “Jesus viu sua mãe e perto dela estava ele, o discípulo que amava” e disse a tua mãe: “Mulher, eis aí o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe”. Será que conseguimos imaginar o que foi isso pra João? Como deve ter sido ouvir isso de Jesus?

Lógico que há todo um sentido teológico, mas, na minha simplicidade eu me emociono ao me colocar no lugar de João.

Primeiro pelo consolo, Jesus consola João e também a sua mãe ao devolver a ela a maternidade. Consola João, pois tem agora Maria, a mãe dEle, como sua própria mãe. Maria não perde sua maternidade, será mãe do menino João, o discípulo amado. João não terá mais Jesus, mas, terá aquela que o gerou, que o fez homem.

Em João está configurado cada um de nós, filhos de Deus. Jesus entrega a Maria os seus, os filhos de Deus, e agora, os filhos de Maria.

E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa

Tenho certeza que, mesmo João não compreendendo muito que significava tal responsabilidade, ele A levou para sua casa.

Depois que Jesus morreu, Maria o segurou nos braços e junto com os apóstolos o sepultou. Fecharam o sepulcro com uma grande pedra… Pairava um grande silêncio… Eles olhavam uns para os outros. Todos, com uma profunda tristeza, decidiram ir embora. Mas, um deles foi acompanhado, voltou pra casa como nunca havia voltado. Tinha uma companhia que só o fazia se questionar: “O que fiz pra merecer tamanha graça de ter em minha casa a mãe do meu Senhor?”.

Irmãos permitam-me me aventurar me colocando no lugar desse discípulo amado. A missão que Jesus deu a ele não era nenhum tipo de fardo ou algo preocupante. Era sim uma honra. João se sentia honrado. Era o tesouro de Jesus, a mãe do filho de Deus que estava agora a cada passo se aproximando de sua casa. Só um presente desses poderia dar a João uma alegria que lhe foi roubada com o sepultamento do homem de Nazaré. Eles estavam de luto, mas João estava com o coração cheio de alegria pelo bem que Jesus do alto da Cruz lhe fez.

E João a levou para sua casa. Como isso aconteceu, não sei dizer por que não nos narra os evangelhos, ficou como um belo e precioso segredo de João. Mas, minha imaginação me permite colocar-me no lugar do evangelista, que talvez tenha agido assim: Abriu a porta, “Pode entrar mãe, essa agora é a sua casa, fique à vontade, você agora é dona dessa casa, a minha mãe, eu sou seu filho e quero obedecer-te todos os dias da minha vida”. João deveria estar todo deslocado, sem saber ao certo como agir. E talvez deva ter ouvido de sua nova mãe: “Calma meu filho, está tudo bem, não se preocupe”. A realidade é que João levou Maria para sua casa. 

Aqui está o centro e o objetivo desta reflexão: Levar Maria pra casa. Se nós afirmamos todos os dias que Maria é nossa mãe, fundamentados nessas palavras de Jesus a João, “Eis aí tua mãe”, se faz necessário a nós, membros do Ministério de Música e Artes do Brasil, olhar para a continuidade do versículo: “E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa”. Diante disso, quero trazer dois DIRECIONAMENTOS para todos do nosso Ministério:

Primeiro – Levar Maria pra casa

Quero pedir a todos que providenciem uma imagem de Nossa Senhora. Independente do título, cada um pode escolher de acordo com sua devoção. Peçam para o seu sacerdote benzer, preparem um altar bem bonito e organizado para ela. E introduzam Maria em vossa casa. Ouça Jesus dizendo “Eis aí a tua mãe” e façam acontecer a continuidade do versículo “E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa”.

Segundo – Rezem o Rosário

Penso que o Evangelho de João é tão rico, assim como o conhecemos, principalmente por ter levado Maria pra sua casa, ela com certeza contribuiu muito para que João conhecesse ainda mais de Jesus. Assim, como o rosário passeia nas vias da história de Jesus e Maria, precisamos assumir o compromisso de rezarmos todos os dias. Se você não consegue parar para rezar o rosário inteiro, divida-o durante o dia, em momentos distintos. Mas, que um desses momentos, você pare diante de sua imagem e reze com ela.

Vejam o trecho da Carta Apostólica de João Paulo II:

Rosarium Virginis Mariae

No itinerário espiritual do Rosário, fundado na incessante contemplação – em companhia de Maria – do rosto de Cristo, este ideal exigente de configuração com Ele alcança-se através do trato, podemos dizer, “amistoso”. Este introduz-nos de modo natural na vida de Cristo e como que faz-nos “respirar” os seus sentimentos. A este respeito diz o Beato Bártolo Longo: «Tal como dois amigos, que se encontram constantemente, costumam configurar-se até mesmo nos hábitos, assim também nós, conversando familiarmente com Jesus e a Virgem, ao meditar os mistérios do Rosário, vivendo unidos uma mesma vida pela Comunhão, podemos vir a ser, por quanto possível à nossa pequenez, semelhantes a Eles, e aprender destes supremos modelos a vida humilde, pobre, escondida, paciente e perfeita».

Neste processo de configuração a Cristo no Rosário, confiamo-nos, de modo particular, à ação maternal da Virgem Santa. Aquela que é Mãe de Cristo pertence Ela mesma à Igreja como seu «membro eminente e inteiramente singular» sendo, ao mesmo tempo, a “Mãe da Igreja”. Como tal, “gera” continuamente filhos para o Corpo místico do Filho. Fá-lo mediante a intercessão, implorando para eles a efusão inesgotável do Espírito. Ela é o perfeito ícone da maternidade da Igreja.

O Rosário transporta-nos misticamente para junto de Maria dedicada a acompanhar o crescimento humano de Cristo na casa de Nazaré. Isto permite-lhe educar-nos e plasmar-nos, com a mesma solicitude, até que Cristo esteja formado em nós plenamente (cf. Gal 4, 19). Esta ação de Maria,totalmente fundada sobre a de Cristo e a esta radicalmente subordinada, « não impede minimamente a união imediata dos crentes com Cristo, antes a facilita ».É o princípio luminoso expresso pelo Concílio Vaticano II, que provei com tanta força na minha vida, colocando-o na base do meu lema episcopal: Totus tuus. Um lema, como é sabido, inspirado na doutrina de S.Luís Maria Grignion de Montfort, que assim explica o papel de Maria no processo de configuração a Cristo de cada um de nós: “Toda a nossa perfeição consiste em sermos configurados, unidos e consagrados a Jesus Cristo. Portanto, a mais perfeita de todas as devoções é incontestavelmente aquela que nos configura, une e consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo. Ora, sendo Maria entre todas as criaturas a mais configurada a Jesus Cristo, daí se conclui que de todas as devoções, a que melhor consagra e configura uma alma a Nosso Senhor é a devoção a Maria, sua santa Mãe; e quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto mais será a Jesus Cristo”.Nunca como no Rosário o caminho de Cristo e o de Maria aparecem unidos tão profundamente. Maria só vive em Cristo e em função de Cristo! (Fonte: Vatican.va)

Vamos trilhar esse caminho que nos levará a amar a nossa mãe do céu. Preparando um lugar pra ela em nossa casa e rezando o rosário todos os dias, com certeza, estaremos trazendo Maria pra mais perto de nós. Se quisermos imitá-la, sem essas práticas, ficará muito mais difícil. Penso ser um pedido desafiador, mas, não me resta dúvida que colheremos muitos frutos de santidade quando estivermos mais próximos de Maria.

Compartilhem esse artigo a todos os Artistas da RCC e que vivamos animados por essa prática de devoção à Santíssima Virgem.

Juninho Cassimiro

Coordenador Nacional do Ministério de Música e Artes

 

Acompanhe no próximo artigo: Ministério de Música e Artes: Olhar fixo em Maria