O Santo Padre iniciou a Audiência Geral recordando o Domingo de Ramos, quando a liturgia da Paixão do Senhor termina com as palavras ‘selaram a pedra’. Tentando transmitir o sentimento dos discípulos de Jesus naquele momento o Papa evidencia que para eles tudo parecia estar acabado, que aquela pedra marcava o fim da esperança. “O Mestre foi crucificado, morto da maneira mais cruel e humilhante, pendurado num patíbulo infame fora da cidade: um fracasso público, o pior final possível”, ilustrou o Papa.
Usando como exemplo os sentimentos dos discípulos diante da situação, o Santo Padre fez uma comparação com os dias atuais e questionou o público presente dizendo que aquele desânimo, que oprimia os discípulos, é o mesmo que desanima o povo de Deus hoje. “Também em nós se adensam pensamentos obscuros e sentimento de frustração: por que tanta indiferença em relação a Deus? Por que tanto mal no mundo? Por que as desigualdades continuam aumentando e não chega a paz tão almejada?”. E continua “Nocoração de cada um, quantas expectativas desvanecidas, quantas desilusões! E ainda aquela sensação de que os tempos passados eram melhores e de que no mundo, talvez até na Igreja, as coisas não são como outrora. Em síntese, também hoje a esperança parece às vezes selada sob a pedra da desconfiança”.
Francisco explica que os discípulos, ao se lembrarem de Jesus na cruz, tinham a sensação de que ali estava concentrado o fim de tudo. Mas que, aos poucos, eles foram percebendo que aquela imagem representava na verdade um novo início. “Do mais terrível instrumento de tortura, Deus obteve o maior sinal do amor. Aquele madeiro de morte, transformado em árvore de vida, nos lembra que os inícios de Deus começam muitas vezes a partir dos nossos fins: é assim que Ele gosta de fazer maravilhas”, sublinhou Francisco.
Assim, o Papa convidoua todosa olharem”para a árvore da cruz, para que em nós brote a esperança: aquela virtude quotidiana, aquela virtude silenciosa, humilde, mas aquela virtude que nos mantém de pé, que nos ajuda a ir em frente. Sem esperança não se pode viver. Pensamos: onde está a minha esperança? Hoje, olhemos para a árvore da cruz para que brote em nós a esperança: para sermos curados da tristeza. Olhando para o Crucifixo, vemos Jesus despojado, ferido, Jesus atormentado. É o fim de tudo? Não! Ali há esperança”, sublinhou o Pontífice.
Franciscocontinuou explicando que Jesus na cruz transforma a dor em amor, que é precisosimplicidade para redescobrir o valor da sobriedade, “livrando a alma do supérfluo que a oprime”. Disse que o ser humano está tão acostumado a dizer falsidades a si mesmo que convive com elas como se fossem verdades e acaba se envenenando. Segundo Francisco, “é necessário regressar ao coração, ao essencial, a uma vida simples, despojada de tantas coisas inúteis, que substituem a esperança”.
O Santo Padre concluiu a catequese desta Semana Santa dizendo que “só nos reencontraremos, se deixarmos de pensar em nós mesmos. E é agindo assim – diz a Escritura – que a nossa ferida em breve cicatrizará, e a esperança voltará a florescer. Pensem: O que posso fazer pelos outros? Eu estou ferido. Estou ferido pelo pecado, estou ferido pela história, cada um tem a sua ferida. O que eu faço: lambo minhas feridas assim, a vida toda? Ou olho para as feridas dos outros e vou com a experiência ferida da minha vida a curar, ajudar os outros?” “Este é o desafio de hoje, para todos vocês, para cada um de vocês, para cada um de nós. Que o Senhor nos ajude a seguir em frente”.