São Francisco de Assis é um modelo de verdadeira renovação eclesial, pois esta não se levou a cabo “sem ou contra o Papa, mas em comunhão com ele”.
O Papa Bento XVI dedicou sua catequese de hoje, durante a audiência geral, à figura do Santo de Assis, seguindo com a catequese do dia 13 de janeiro, sobre a importância das ordens mendicantes na história da Igreja.
Durante sua intervenção, na qual percorreu toda a vida do santo, o Papa sublinhou a importância de sua visita ao Papa Inocêncio III, em 1207, para submeter sua Ordem a aprovação. Pouco antes, o pontífice havia tido um sonho, no qual “um pequeno e insignificante religioso” sustentava a Igreja sobre seus ombros.
“Inocêncio III era um papa poderoso, de grande cultura teológica, como também de grande poder político e, no entanto, não é ele quem renova a Igreja, e sim um pequeno e insignificante religioso: é São Francisco, chamado por Deus”, afirmou o Papa.
Por outro lado, sublinha, “é importante observar que São Francisco não renova a Igreja sem ou contra o Papa, mas em comunhão com ele. As duas realidades estão juntas: o Sucessor de Pedro, os bispos, a Igreja fundada sobre a sucessão dos apóstolos e o carisma novo que o Espírito Santo cria nesse momento para renovar a Igreja”.
“O Pobrezinho de Assis havia compreendido que todo carisma dado pelo Espírito Santo deve ser colocado ao serviço do Corpo de Cristo, que é a Igreja; portanto, agiu sempre em comunhão plena com a autoridade eclesiástica.”
“Na vida dos santos – acrescentou Bento XVI – não há contraposição entre carisma profético e carisma de governo e, se houver alguma tensão, estes sabem esperar com paciência os tempos do Espírito Santo.”
Neste sentido, o Papa rebateu certas correntes históricas, que “tentaram criar atrás do Francisco da tradição um ‘Francisco histórico’, assim como se tenta criar atrás do Jesus dos evangelhos um ‘Jesus histórico’”.
“Este Francisco histórico não teria sido um homem de Igreja, mas um homem unido imediatamente só a Cristo, um homem que pretendia criar uma renovação do povo de Deus, sem formas canônicas e sem hierarquia.”
Ainda que seja verdade que São Francisco não pretendia criar uma ordem religiosa, no entanto, “compreendeu, com sofrimento e com dor, que tudo deve ter sua ordem, que também o direito da Igreja é necessário para dar forma à renovação e, assim, realmente se inseriu de forma total, com o coração, na comunhão da Igreja, com o Papa e com os bispos”.
“O verdadeiro Francisco histórico é o Francisco da Igreja e, precisamente dessa maneira, ele fala também a nós, os crentes, e aos crentes de outras confissões e religiões”, sublinhou o Papa.
Pobreza, Eucaristia, amor à criação
Bento XVI destacou vários aspectos da espiritualidade franciscana, especialmente a identificação com Cristo.
“De fato, este era o seu ideal: ser como Jesus, contemplar o Cristo do Evangelho, amá-lo intensamente, imitar suas virtudes”, em particular a “pobreza interior e exterior”.
“O testemunho de Francisco, que amou a pobreza para seguir Cristo com dedicação e liberdade totais, continua sendo, também para nós, um convite a cultivar a pobreza interior para crescer na confiança em Deus, unindo também um estilo de vida sóbrio e um desapego dos bens materiais”, propôs o Papa.
Outro ponto no qual se deteve foi a devoção do santo à Eucaristia, na qual se expressava “de modo especial seu amor a Cristo”.
“Francisco mostrava sempre um grande respeito pelos sacerdotes e recomendava respeitá-los sempre, inclusive no caso de que pessoalmente fossem pouco dignos. A motivação do seu profundo respeito era o fato de que eles receberam o dom de consagrar a Eucaristia”, recordou o Papa, convidando os sacerdotes a viverem “de maneira coerente com o Mistério” que celebram.
Por último, aludiu também a um dos traços característicos do santo, que o tornou conhecido em todas as épocas: “o senso de fraternidade universal e de amor pela criação, que lhe inspirou o célebre ‘Cântico das criaturas’”.
“É uma mensagem muito atual”, afirmou o Papa, recordando suas últimas intervenções sobre a questão do respeito ao meio ambiente, especialmente sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano.
“Francisco nos recorda que na criação se manifesta a sabedoria e a benevolência do Criador. A natureza é entendida por ele precisamente como uma linguagem com a qual Deus fala conosco, através da qual a realidade divina se torna transparente e podemos falar de Deus e com Deus.”
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