Por Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá
Em Belém, a festa está pronta para celebrar o aniversário do Menino Deus que nasceu na terra e fez brotar da terra a Salvação. A Belém da Palestina, hoje, não é o modelo da paz cantada pelos anjos naquela noite de luz e vida nova. “ Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de Boa Vontade (Lc 2,14). Aqui na nossa cidade é diferente? Já estamos preparados para celebrar, para tornar célebre essa data, em que há mais de dois mil anos, o Nosso Salvador fez morada em nós?
A voz do menino de Nazaré ainda se faz ouvir em nossa vida, para abrir as portas e deixar o Salvador tomar conta de nossos sentimentos, de nossos desejos, de nossas ideias e planos? Nas portas do Natal suplicamos a força para seguir o caminho da paz, da não violência, da prática do amor e da solidariedade, do Reino da justiça e da Fraternidade.
O Papa Bento XVI na mensagem do 3º domingo do advento afirma: “A paz messiânica, leva-nos naturalmente a sublinhar que Belém é também uma cidade-símbolo da paz, na Terra Santa e no mundo inteiro. Infelizmente, em nossos dias, esta não representa uma paz alcançada e estável, mas uma paz fatigosamente buscada e esperada.
Deus, no entanto, não se resigna jamais a esta situação e por isso, também este ano, em Belém e no mundo inteiro, se renovará na Igreja o mistério do Natal, profecia de paz para cada homem, que empenha os cristãos a adentrar-se no que está fechado, nos dramas, frequentemente desconhecidos e escondidos, e nos conflitos do contexto no qual vivem, com os sentimentos de Jesus, para ser, em todos os lugares, instrumentos e mensageiros de paz, para levar amor onde há ódio, perdão onde há ofensa, alegria onde há tristeza e verdade onde há erro, segundo as belas expressões de uma conhecida oração franciscana.
Hoje, como nos tempos de Jesus, o Natal não é um conto para crianças, mas a resposta de Deus ao drama da humanidade em busca da paz verdadeira. “Ele mesmo será a paz!” – diz o profeta, referindo-se ao Messias. Cabe a nós abrir, destrancar as portas para acolhê-lo. Aprendamos de Maria e José: coloquemo-nos, com fé, a serviço do desígnio do Senhor. Ainda que não compreendamos plenamente, confiemo-nos à sua sabedoria e bondade. Busquemos primeiro o Reino de Deus e a Providência nos ajudará”.
Diante deste infinito segredo do amor de Deus feito carne, homens e mulheres de nosso tempo não podem calar a voz do menino de Belém. Como não calar a voz da salvação, em meio a tanto consumismo, festas, viagens a lugares turísticos onde não existe nada de cristão. O Deus menino, o Deus adolescente, o Deus de trinta e três anos, deu tudo até a própria vida na cruz da dor e da morte, e infelizmente ainda continuamos alheios e fechados, como se nada tivesse acontecido.
Por isso o mundo continua imundo, reinando o pecado e a morte por que ainda continuamos cegos e alienados, fora da luz da estrela que guiou os magos para encontrar Jesus. Sem esse encontro pessoal com Ele, continuaremos seres humanos fechados em nós e em nossas preocupações mesquinhas e passageiras e quando chegar a hora do julgamento, o que nos restará?
Fonte: CNBB