A Virgem Maria é presença importante em momentos centrais dos Evangelhos, o coração da História da Salvação. Sua grande e bela missão, iniciada na encarnação do Verbo em seu ventre, continuada no apoio ao seu Filho Jesus mesmo na crucifixão, e permanente com a Igreja desde seu nascimento em Pentecostes até hoje com sua materna intercessão, nos faz desejar conhecer e nos aprofundar sobre a vida de Nossa Senhora, no que se sabe sobre sua família, sua formação, seu jeito, até se tornar mãe do Salvador. Aquela que é muito amada em cada família católica é a mãe de ternura de cada cristão, acolhida primeiro por São João (cf. Jo 19,27).

Mas, de onde seriam as informações sobre Maria que não aparecem na Sagrada Escritura? Dos textos chamados “apócrifos”, escritos não reconhecidos como canônicos, mas que fornecem informações aceitas pela Tradição da Igreja. A Sagrada Tradição é um dos pilares da nossa fé, e unida à Sagrada Escritura constitui “um só depósito sagrado da palavra de Deus” (Dei Verbum, 9) . De acordo com alguns desses apócrifos, sabemos que São Joaquim e Sant’Ana foram os pais da Virgem, também que ela nasceu em Nazaré, e ainda que, em sua infância, tinha profunda piedade e temor ao Senhor (uma sugestão é a leitura do Proto-evangelho de Tiago). Assim como nós amamos o Senhor, ela já O amava antes de carregá-lo em seus braços, pois era zelosa e dedicada serva do Altíssimo segundo a Lei. Muito antes do seu “fiat” ao anjo, Maria já dizia sim a Deus em seu coração.

Desse modo, muito nos alegramos com a antiga tradição da Igreja de celebrar a festa da Natividade de Nossa Senhora, nove meses após a celebração da Solenidade da Imaculada Conceição (8 de dezembro), pois não é costume que celebremos o nascimento de um santo, mas sim o dia em que entra na glória (dia de sua morte). O nascimento da Virgem Mãe é um dos três que a Igreja celebra, os demais são a Natividade de João Batista e o Natal do Senhor. Ou seja, nós reconhecemos a importância e o papel fundamental em nossas vidas do grande exemplo da Mater Dei (mãe de Deus), consolo e proteção dos filhos seus.

Antes de todos os séculos, assim como a Virgem Maria foi preservada de toda mancha de pecado (Imaculada Conceição) e, escolhida por Deus, seu nascimento já é para nós início da concretização da chegada do Messias, o “Deus-conosco”, Emanuel (cf. Mt 1,23). Esta data é a celebração de quando Deus começou a “pôr em prática” a construção da casa onde habitaria o Rei dos Reis, uma casa alicerçada nos dons do Espírito Santo. Maria é como a aurora que precede o Sol da Justiça (cf. Ml 4,2)! Tal como ela, queremos também anunciar o Salvador com o testemunho das nossas vidas.

Lemos em um sermão do Padre Antônio Vieira (séc. XVII) as seguintes palavras: “Quereis saber quão feliz, quão alto é e quão digno de ser festejado o Nascimento de Maria?[…] Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina: dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde; perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança. Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz; os discordes, para Senhora da Paz; os desencaminhados, para Senhora da Guia; os cativos, para Senhora do Livramento; os cercados, para Senhora da Vitória. Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho; os navegantes, para Senhora da Boa Viagem; os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom Sucesso; os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte; os pecadores todos, para Senhora da Graça; e todos os seus devotos, para Senhora da Glória. E se todas estas vozes se unirem em uma só voz, dirão que nasce para ser Maria e Mãe de Jesus”.  

Com a Virgem Maria queremos que nossas famílias caminhem rumo ao céu. Por meio desta seguinte oração, peçamos que nossos lares sejam como o lar de Maria, lugares de fé e devoção, e com o carinho e a proteção da Santíssima Mãe do Senhor, possamos melhor amar e servir ao seu Filho Jesus:

Oremos: “Oh, Maria Santíssima, eleita e destinada ao eterno pela augustíssima Trindade para mãe do Unigênito Filho do Pai, anunciada pelos profetas, esperada pelos patriarcas e desejada por todas as gentes, sacrário e templo vivo do Espírito Santo, sol sem mancha, porque fostes concebida sem pecado original, Senhora do Céu e da Terra, Rainha dos céus e dos anjos! Nós, humildemente prostrados, vos veneramos e nos alegramos pela solene comemoração anual de vosso felicíssimo nascimento. E do mais íntimo de nosso coração, nós vos suplicamos que vos digneis, benigna, vir a nascer, espiritualmente, em nossas almas, para que, cativadas estas por vossa amabilidade e doçura, vivam sempre unidas ao vosso dulcíssimo e amabilíssimo Coração”. Amém.

Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!

 

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Pe. William Bernardo da Silva

Pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo

Magalhães Bastos – Rio de Janeiro (RJ)