Desde o início deste novo milênio a Igreja celebra, no segundo Domingo da Páscoa, a festa em honra à Divina Misericórdia do Senhor, que conhece sua instituição a partir do pedido feito por Nosso Senhor Jesus Cristo a Santa Faustina Kowalska, mística polonesa que viveu no século XX, conforme nos relata ela mesma em seu Diário. Na homilia da canonização de Santa Faustina, no ano 2000, o Papa São João Paulo II institui solenemente na Igreja a celebração desta festa.

Com efeito, no segundo Domingo da Páscoa a Igreja medita o Evangelho onde Jesus, tendo ressuscitado, aparece aos seus e desejando-lhes a Paz envia-os em missão, soprando-lhes o Espírito Santo e instituindo o sacramento da Reconciliação: “Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 20-23).

Eis o desejo profundo do coração de Jesus manifesto a Santa Faustina: inebriar-nos na Misericórdia que jorra de Seu Sagrado Coração. E para que isso aconteça, pede-nos que nos aproximemos com confiança absoluta em seu Amor e nos diz: “Que o pecador não tenha medo de aproximar-se de Mim. Queimam-me as chamas da Misericórdia, quero derramá-las sobre as almas” (Diário, 49).

Atraídos pelo Amor de Deus, que sempre se antecipa a nós, queiramos correr ao encontro do Senhor, sempre inclinado a nos perdoar, a nos envolver em Sua ternura e fazer-nos criaturas novas, renascidas da Sua Misericórdia. Neste sentido, uma das compreensões mais lindas que podemos ter deste divino atributo é a concepção do povo hebreu, isto é, a concepção bíblica de Misericórdia segundo o Antigo Testamento. Para um hebreu, a palavra empregada para se referir à Misericórdia é a mesma palavra usada para se referir ao útero (rahām), onde é gestada uma nova vida. Ora, assim como o útero materno é o lugar onde a criança encontra todas as condições necessárias e salutares para seu desenvolvimento, bem como o calor da proximidade e da proteção da mãe, igualmente é a Misericórdia de Deus, que nos acolhe e nos acalenta, nos traz para junto de si e nos gesta homens e mulheres para uma vida nova, de modo que nos tornemos Misericordiosos como o Pai (Lc 6, 36). Isso é sublime! Deus tem um amor maternal por nós!

Portanto, podemos compreender que ser alcançados pela Misericórdia de Deus deve imprimir em nós a mesma dinâmica do Pai celeste para com os filhos. Recebemos essa atitude como um DNA transmitido a nós pelo Espírito Santo, isto é, exercermos igualmente esta atitude de acolhimento vital para com o próximo, mediante a qual vamos nos tornando verdadeiramente Sua imagem e semelhança pela imitação do Filho, Jesus Cristo, que assim nos acolhe, nos alcança em Seu Amor.

Meditar e viver entregue à Misericórdia faz parte da pedagogia divina, cuja iniciativa está voltada para que todas as pessoas, obra de Suas mãos e fruto de Seu Amor, sejamos salvos e alcancemos aquela felicidade eterna que noss’alma anseia, felicidade que só encontramos junto da Face de Deus.

Que a Santíssima Virgem Maria, Mãe da Divina Misericórdia, interceda por nós e pelo mundo inteiro, para que nos seja dada a santa ousadia de nos aproximarmos com confiança do Amor misericordioso do Senhor, a fim de que renascidos do Sangue e da Água que jorram de seu lado, sejamos também nós misericordiosos como o Pai e assim colaboremos concretamente com a edificação do Reino.

 

José Klebson

Coordenador Nacional do Ministério para Seminaristas