Nesse primeiro momento, vamos sintetizar aqui três características essenciais para um discípulo na sua relação com o Seu Mestre.

A) Sentar-se aos pés do Mestre

É evidente a diferença entre Jesus e os famosos mestres da Antiga Grécia, como Sócrates, Aristóteles e Platão porque estes ensinavam seus discípulos enquanto iam caminhando, mas Jesus ensinava de modo especial quando ele se sentava, cujo objetivo era transmitir tranquilidade aos ouvintes, que automaticamente eram convidados a sentarem-se para ouvi-Lo.

O evangelista Lucas – e somente ele – narra um episódio muito importante que ilustra a necessidade de se estar aos pés do Mestre.

Estando em viagem, entrou num povoado, e certa mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra. Marta estava ocupada pelo muito serviço. Parando, por fim, disse: ‘Senhor, a ti não te importa que minha irmã me deixe assim sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude’. O Senhor, porém, respondeu: ‘Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada’.

Maria escolheu a melhor parte que não se será tirada. A melhor parte é estar aos pés do Mestre, ficar em sua presença, escutar a sua palavra, os seus ensinamentos. O discípulo é aquele que deve passar tempo desfrutando da presença do Mestre, essa é a sua atividade mais importante.

Muitos caem no erro de pensar que serão verdadeiros discípulos se lançarem a fazerem muitas coisas, muitas obras, muito apostolado, e isso não é verdade. É certo que todo discípulo é um missionário, mas o fazer é resultado do ser. A missão é um transbordamento daquilo que foi aprendido aos pés do Mestre. É preciso exercitar-se na prática da oração pessoal, da adoração eucarística, da leitura orante da Sagrada Escritura, pois isso é estar aos pés do Mestre. Colocar-se várias vezes durante o dia em sua presença. Não deixar que as preocupações do dia a dia, com o trabalho, com a família, com os estudos, nem mesmo com o serviço da evangelização nos afastem de termos nossos momentos a sós com Ele. Na verdade, é dali que retiramos força e fecundidade para tudo mais na nossa vida.

O mundo em que vivemos nos apresenta um ritmo de vida que parece quase impossível fazermos isso. Mas o discípulo de Jesus, se quer crescer na intimidade com o seu Mestre, deverá disciplinar-se. Na verdade, a disciplina é uma qualidade do discípulo:

A palavra disciplina, derivando do termo discípulo que, no âmbito cristão, caracteriza os seguidores de Jesus e tem significado de especial nobreza, indica o modo de ser e de agir do discípulo, daquele que segue o Senhor e aprende, aos poucos, a arte e o esforço do seguimento ou do discipulado.

Organizarmos a nossa vida para que, com alegria, possamos ter um encontro marcado diariamente com Aquele que sempre nos espera: O Mestre-Jesus. Mas atenção: quando marcamos um encontro com Ele, Ele sempre estará ali nos esperando. Vamos dar esse salto de qualidade: um discipulado fecundo vivido junto à fonte, o Mestre.

B) Escutar a voz do Mestre

Para quê o discípulo senta aos pés do Mestre? Para exercitar uma tarefa muito importante e difícil: escutar a voz do Mestre. O discípulo é aquele que, antes de tudo, quer aprender com o Mestre. Portanto, seu grande desafio é ter ouvidos de discípulo, atentos, sensíveis a voz do Mestre.

Jesus certa vez disse aos seus discípulos que eles eram felizes porque muitos profetas e reis desejaram ouvir o que eles ouviam e não o ouviram. Muitas vezes, na nossa correria, e cheios de boa intenção, falamos de Jesus para os outros, mas falamos pouco com Ele, e menos ainda O ouvimos. Outras vezes, paramos para orar, mas falamos tanto e não deixamos Ele falar conosco. É preciso pedir o dom da escuta ao Senhor e exercitar-se para adquiri-lo. É preciso rezar como rezava o jovem Samuel:

Fala, Senhor, que teu servo escuta
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É interessante saber que a pessoa que nasce surda nunca poderá falar. E isso acontece na nossa vida espiritual também: se não ouvirmos a voz do Senhor, jamais poderemos falar com autoridade do seu nome!
A todo o momento o Senhor deseja falar conosco. É preciso estar atentos a Sua voz: é necessário treinar a escuta; o exercício do silêncio interior, e quando possível associado ao silêncio exterior, é um excelente caminho.

Deixemos o Senhor modelar a nossa escuta para que possamos rezar junto com o profeta Isaías:

Cada manhã ele desperta meus ouvidos para que eu escute como discípulo. O Senhor abriu-me o ouvido e eu não relutei, não me esquivei.

O maior exemplo de verdadeiro discipulado que exercita a escuta é a Virgem Maria, pois ela, mais do que ninguém, ao fazer a experiência de escuta de Deus, nos ensina o Evangelho que:
Maria conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração.

Que a Virgem do silêncio nos ajude nesse caminho de escuta do Mestre.

C) Obedecer ao Mestre

É impossível conceber um discípulo que não obedece ao seu Mestre. O verdadeiro discípulo de Jesus sabe obedecê-lo sempre. Pois a Palavra do Mestre é a verdade absoluta. Só é discípulo aquele que faz o que o Mestre ordena. No entanto, só obedece quem ouve! A própria raiz da palavra obediência é obaudire. A palavra audire significa ouvir. Portanto, obediência significa ouvir com atenção. O Catecismo da Igreja Católica ensina que:

obedecer na fé significa submeter-se livremente à palavra ouvida, visto que sua verdade é garantida por Deus, a própria verdade.

Jesus não somente diz a Verdade, mas Ele é a própria Verdade. Por isso, ainda que tudo pareça absurdo na ordem do Mestre, é preciso confiar Nele. O apóstolo Pedro fez essa experiência: depois de uma noite inteira de trabalho na pesca sem resultado, o Mestre lhe diz:

Faze-te ao largo e lançai as vossas redes para pescar. Simão respondeu-lhe: Mestre, trabalhamos a noite inteira e nada apanhamos, mas por causa da Tua palavra, lançarei a rede.

Pode parecer um absurdo um carpinteiro ensinar um pescador experiente a pescar, mas ele não é um simples carpinteiro, e sim o Mestre dos Mestres, é Jesus de Nazaré!E Pedro fez a experiência de uma pesca abundante porque teve a coragem de obedecer a ordem do Senhor. Da mesma maneira, Pedro também fez a experiência de lançar no mar um anzol para pescar um peixe para extrair da barriga dele uma moeda; da mesma forma, a pedido do Mestre, foi buscar um jumento no povoado de Betfagé, para que ele pudesse entrar em Jerusalém sem saber quem era o dono, mas foi, e deu certo. Se o Mestre manda é preciso obedecer, mesmo sem entender tudo no momento. O bom discípulo vai precisar se arriscar na palavra do Mestre, essa é a obediência da fé. E não ficar questionando, pois somente pelo fato do Mestre estar ordenado é o melhor para nós e para os outros, e podemos executar sem receio algum.

O discípulo não é somente aquele que obedece ao seu Mestre, mas que o obedece em tudo. Não só naquilo que lhe parece fácil, ou no que mais lhe agrada. Seus discípulos são aqueles que cumprem a sua vontade. E a obediência não é só questão de fazer o que é certo, é antes de tudo um sinal de amor. Jesus disse aos seus discípulos:

Se alguém me ama cumprirá a minha palavra.

Nós não estamos falando aqui de uma obediência fria a Jesus – Mestre, mas uma obediência que brota do amor, que não se confunde com uma obrigação servil, mas vem da certeza que Nele estamos seguros, e que não há outra voz melhor para seguirmos, pois como o apóstolo Pedro diz:

A quem iremos nós Senhor, só tu tens palavras de vida eterna.

Uma obediência que serena e acalma o coração. Que nos leva a cumprir a vontade do Mestre. Por fim, para nos iluminar nesse assunto da obediência unida ao amor, sigamos o ensinamento de um dos grandes discípulos de Jesus – Mestre de nossos tempos, São Pe. Pio de Pietrelcina, que diz:

Onde não há obediência, não há virtude; onde não há virtude, não há bondade, não há amor; onde não há amor, não há Deus.

 

Texto extraído do livro “Sentinela da Manhã – Um caminho de discipulado”, disponível através do site da Editora RCCBRASIL.