Durante este período litúrgico, aproveitaremos os sábios ensinamentos de João Paulo II para nos prepararmos para a  Festa de Pentecostes.  A cada dia desta semana, disponibilizaremos aqui uma catequese diferente sobre o Espírito Santo escrita pelo saudoso Papa.
 


L’OSSERVATORE ROMANO Nº 40 – 06/10/91

1. É justo que agora dediquemos uma catequese especial a este tema tão lindo e importante. É o próprio Jesus que antes de subir ao Céu diz aos Apóstolos: “E Eu vou mandar sobre vós O que Meu Pai prometeu. Entretanto, permanecei na cidade até serdes revestidos com a força lá do Alto” (Lc. 24, 49). Jesus pretende preparar diretamente os Apóstolos para o cumprimento da “promessa do Pai”. O evangelista Lucas repete a mesma última recomendação do Mestre nos primeiros versículos dos Atos dos Apóstolos. “No decurso de uma refeição que partilhava com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem lá o Prometido do Pai”. (1,4). Durante toda a Sua atividade messiânica, Jesus, pregando sobre o Reino de Deus, preparava “o tempo da Igreja”, que havia de Ter início depois da Sua partida. Quando esta já estava próxima, Ele anunciou que se avizinhava o dia em que este tempo havia de iniciar (cf. Act. 1,5), ou seja, o dia da descida do Espírito Santo. E vagueando com o olhar sobre o futuro, acrescentava: “Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis Minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judéia e Samaria, e até aos confins do mundo” (Act. 1,8).

2. Quando chegou o dia do Pentecostes, os Apóstolos, que juntamente com a Mãe do Senhor estavam recolhidos em oração, tiveram a demonstração de que Jesus Cristo agia em conformidade com o que anunciara: isto é, que se estava a cumprir “a promessa do Pai”. Proclamou-o o primeiro dos Apóstolos, Simão, Pedro, ao falar à assembleia. Pedro falou, recordando primeiro a morte na cruz, e depois passou ao testemunho da ressurreição e à efusão do Espírito Santo: “Foi este Jesus que Deus ressuscitou, do que nós somos testemunhas. Tendo sido elevado pela direita de Deus, recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou o que vedes e ouvis”. (Ato. 2, 32-33).

3. O Espírito Santo dava assim início à missão da Igreja instituída para todos os homens. Mas não podemos esquecer que o Espírito operava como “Deus desconhecido” (cf. Ato. 17,23), também antes do Pentecostes. Operava de modo particular na Antiga Aliança, iluminando e conduzindo o povo eleito pelo caminho que levava a história antiga rumo ao Messias. Operou sobretudo na encarnação do Filho, como testemunham o Evangelho da anunciação e a história dos acontecimentos seguintes, ligados à vinda ao mundo do Verbo eterno, que tinha assumido a natureza humana. O Espírito Santo operou no Messias e em torno do Messias desde o momento em que Jesus deu início à Sua missão messiânica em Israel, como resulta dos textos evangélicos sobre a teofania no momento do batismo no Jordão e as Suas declarações na sinagoga de Nazaré. Mas desde aquele mesmo momento e ao longo de toda a vida de Jesus, a expectativa acentuava-se e renovavam-se as promessas de uma futura e definitiva vinda do Espírito Santo. João Batista ligava a missão do Messias a um novo batismo “no Espírito Santo”. Jesus prometia aos que acreditavam n’Ele “rios de água viva”: promessa narrada pelo Evangelho de João, que a explica assim: “Jesus falava do Espírito que deviam receber os que n’Ele acreditassem; pois o Espírito ainda não viera, por Jesus não Ter sido ainda glorificado” (Jo 7,39). No dia de Pentecostes, Cristo, tendo sido já glorificado depois do cumprimento final da Sua missão, fez correr do Seu seio os “rios de água viva” e derramou o Espírito para encher de vida divina os Apóstolos e todos os crentes. Estes puderam, assim, ser “batizados num só Espírito” (cf. 1 cor. 12,13). E foi o início do crescimento da Igreja.

4. Como escreve o Concílio Vaticano II, “Cristo enviou o Espírito Santo de junto do Pai, para realizar interiormente a Sua obra salvífica e mover a Igreja à sua própria dilatação. Sem dúvida alguma, o Espírito Santo estava já a operar no mundo, antes da glorificação do Filho. Contudo, desceu sobre os discípulos no dia de Pentecostes, para com eles permanecer eternamente; a Igreja manifestou-se publicamente diante da multidão, a difusão do Evangelho entre as gentes através da pregação teve o seu início, e, finalmente, a união dos povos na catolicidade da fé foi prefigurada na Igreja na Nova Aliança que fala todas as línguas, e todas as línguas entende e abraça na caridade, triunfando assim da dispersão de Babel” (AG, 4). O texto conciliar põe em relevo em que consiste a ação do Espírito Santo na Igreja, iniciando a partir do dia de Pentecostes. Trata-se de uma ação salvífica, interior, que ao mesmo tempo se exprime exteriormente no nascimento da comunidade e instituição de salvação. Esta comunidade – a comunidade dos primeiros discípulos – está totalmente permeada pelo amor, que supera todas as diferenças e as divisões de ordem terrena. É sinal disto o evento pentecostal de uma expressão de fé em Deus compreensível a todos, apesar da diversidade das línguas. Atestam-nos os Atos dos Apóstolos que a gente, reunida em redor dos Apóstolos, naquela primeira manifestação pública da Igreja, dizia maravilhada: “Mas quê! Essa gente que está a falar não é da Galiléia? Que passa, então, para que cada um de nós os ouça falar na nossa língua materna?” (Act. 2,7´8).

5. A Igreja que tinha nascido daquele modo no dia do Pentecostes, por obra do Espírito Santo, manifesta-se imediatamente ao mundo. Não é uma comunidade fechada, mas aberta – dir-se-ia escancarada – a todas as nações “até aos confins do mundo” (Act 1,8). Aqueles que entram nesta comunidade, mediante o Batismo, tornam-se, em virtude do Espírito Santo de verdade, testemunhas da boa nova, prontas a transmití-la aos outros. É, por conseguinte, uma comunidade dinâmica, apostólica: a Igreja “em estado de missão”. O Espírito Santo, em primeiro lugar, “dá testemunhos de Cristo (cf. Jo 15, 26), e este testemunho invade a alma e o coração daqueles que participam do Pentecostes, os quais se tornam, por sua vez, testemunhas e anunciadores. As “línguas à maneira de fogo” (Ato. 2,3), pousadas sobre a cabeça de cada um dos presentes, constituem o sinal exterior do entusiasmo ateado neles pelo Espírito Santo. Este entusiasmo estende-se dos Apóstolos aos seus ouvintes, assim como já no primeiro dia depois do discurso de Pedro “se juntaram … cerca de três mil almas” (Act. 2,41).

6. O livro inteiro dos Atos dos Apóstolos é uma grande descrição da ação do Espírito Santo nos inícios da Igreja, a qual – como lemos – “crescia como um edifício e caminhava no temor do Senhor, com a assistência do Espírito Santo” (cf. Act. 9,31). Sabe-se que não faltavam nem as dificuldades nem as perseguições, e que se tiveram os primeiros mártires. Mas os Apóstolos tinham a certeza que era o Espírito Santo a guiá-los. Esta sua convicção ter-se-ia de certo modo formalizada na sentença conclusiva do Concílio de Jerusalém, cujas resoluções iniciam com as palavras: “o Espírito Santo e nós próprios resolvemos …” (Ato. 15, 28). A comunidade atestava, deste modo, a própria consciência de se mover sob a ação do Espírito Santo.

 
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