
Todos
os anos, o calendário litúrgico nos convida a uma profunda vivência dos
mistérios da nossa fé. De modo especial, propõe tempos fortes de preparação: no
Advento, com a novena em preparação para o Natal do Senhor; e na Quaresma, como
preparação intensa para a celebração da Páscoa. Esse tempo é marcado por
práticas penitenciais como o jejum, a esmola e a oração.
Percebemos,
assim, que muitas pessoas, movidas pelo desejo de viver bem esse período,
intensificam suas práticas espirituais. A Igreja, por sua vez, nos propõe a
recitação e contemplação da Via-Sacra, um exercício de fé que nos leva a
mergulhar no mistério do amor de Deus, contemplando os passos de Jesus rumo à
cruz. Ao acompanhar esses momentos, somos convidados a aprender com Ele como
enfrentar as provações e os sofrimentos da vida.
Contemplar
a Cruz é essencial, mas sem jamais esquecer das palavras de Jesus. Sempre que
Ele falava sobre sua Paixão e Morte, também anunciava a glória da Ressurreição
— a manifestação plena do amor do Pai. No entanto, assim como muitos ouvintes
de Jesus resistiam em aceitar a totalidade da mensagem, também nós, hoje,
podemos cair na tentação de escutar a Palavra de Deus de maneira seletiva.
Deixar-se
conduzir plenamente pela Palavra é o segredo para manter acesa a chama da
esperança.
Com o
Domingo de Ramos e da Paixão, iniciamos a Semana Santa, na qual somos chamados
a contemplar e fazer memória da entrega total de Jesus ao Pai.
É
importante lembrar que, para nós, católicos, fazer memória não significa apenas
recordar um fato passado, mas permitir que, pela ação do Espírito Santo, esse
fato se torne presente e produza frutos em nossa vida. É mergulhar no mistério
e reconhecer que todo o nosso ser foi alcançado pela graça de Deus.
– Que
frutos o tempo da Quaresma gerou em minha vida?
–
Quais renúncias fiz que me transformaram em uma pessoa melhor?
–
Sinto-me mais disposto a lutar contra o “homem velho” em mim?
Esse é
o verdadeiro objetivo do tempo quaresmal: nos preparar para celebrar, com mais
dignidade, o Tríduo Pascal. Participar da Ceia do Senhor, vigiar em oração,
viver a Paixão, silenciar e refletir sobre tudo isso… até transbordarmos na
alegria da Ressurreição.
Mas
para viver a Ressurreição, é necessário reconhecer o que em nós ainda precisa
morrer. Não podemos celebrar mais uma Páscoa sem verdadeiramente fazermos a
experiência da vida nova em Cristo. Essa vida nova exige de nós uma mudança
concreta, real. Não devemos voltar às antigas práticas simplesmente porque
terminou o tempo da Quaresma. É hora de viver a plenitude dessa vida em Cristo,
como nos exorta São Paulo:
“Se
ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto” (Cl 3,1).
Amparados
pela Palavra, como nos dizem as Escrituras:
“O
amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5,5)
e “Que
o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz” (Rm 15,13b), possamos
transbordar de esperança, reconhecendo que o Espírito continua gerando frutos
em nós.
Uma
Santa Páscoa!
Pe.
Jorge Luiz Vieira da Silva
Coordenador
Nacional do
Ministério
para Ministros Ordenados