Neste final de semana pudemos experimentar, junto com toda a Igreja, a graça de uma nova efusão do Espírito Santo com a Solenidade de Pentecostes. Coroamento da Páscoa, Pentecostes marca os 50 dias em que o mistério pascal foi profundamente vivido pelos primeiros discípulos de Jesus.
O Espírito Santo é dado à Igreja! O Espírito Santo é dado a cada um dos batizados! Como diz São Paulo, é um tesouro preciosíssimo, guardado em vasos de barro (cf. 2Cor 4,7). Esse mesmo Espírito nos faz viver a vida nova em Cristo, buscar as coisas do alto (cf. Cl 3,1). Ele também distribui os dons e carismas necessários para a edificação da comunidade e a expansão do Corpo Místico de Cristo (cf. 1Cor 12).
Como posso ter certeza de que assumi os direitos e deveres de meu batismo? Como saber se vivo sob o senhorio de Jesus e na graça do Espírito Santo? Os carismas não são atestado de santidade. Na verdade, o que vai dizer se estou no caminho de santificação proposto pelos evangelhos é o fruto do Espírito que estou gerando a cada dia.
São Paulo elabora uma lista simbólica de nove características desse fruto espiritual: “O fruto do Espírito, porém, é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não existe lei. Os que pertencem a Jesus Cristo crucificaram a carne com suas paixões e seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, procedamos também de acordo com o Espírito”(Gl 5,22-25).
Note que o apóstolo não fala em “frutos”, como se o verdadeiro cristão pudesse produzir só alegria ou só paciência. Todos os nove itens listados fazem parte de um fruto só, são como sabores da vida nova que obtemos quando vivemos conduzidos pelo Espírito. Esse fruto é gerado na verdadeira árvore da vida, que é o próprio Jesus.
Foi o próprio Senhor quem afirmou que Ele mesmo é essa árvore (Jo 15,1-5). Só conseguimos produzir esse fruto se estivermos enxertados em Jesus! A seiva espiritual que nos alimenta só pode chegar aos galhos se estes estiverem ligados ao tronco…
Muitos cristãos são bastante zelosos: vão à missa, participam de movimentos ou pastorais, frequentam o sacramento da penitência… Mas, em sua vida íntima, são devassos, desonestos, brutos, arrogantes, soberbos, desobedientes, adúlteros (cf. Gl 5,19-21 e paralelos)… ou seja, são árvores belas de se ver, mas que não produzem fruto algum! O destino desse tipo de cristão é secar, como observamos no caso da figueira (Mt 21,18-19).
A Igreja não precisa mais desse tipo de cristão. A Igreja não quer mais números. Ela quer e precisa de qualidade, de cristãos com coluna vertebral, fortes e que dêem testemunho de vida. A Igreja necessita de cristãos que sejam fermento na massa e luz para os povos (cf. 1Cor 5,7 e Mt 5,5).
Lendo estas palavras, você pode até se perguntar: mas eu não vejo esse fruto em minha vida! Ainda sou depressivo, ou não sei perdoar, ou não sei amar, ou não sei dominar minhas vontades. Então eu serei cortado e secarei? A Palavra de Deus também nos ilumina nesse ponto: o fruto não cresce da noite para o dia. Não é porque fui batizado sacramentalmente ou recebi a efusão do Espírito Santo hoje que imediatamente verei o fruto espiritual surgir em minha vida!
Vejamos o que diz o Salmo 1: “Feliz aquele que na lei do SENHOR encontra sua alegria e nela medita dia e noite. Ele será como uma árvore plantada à beira de um riacho, que dá fruto no devido tempo; suas folhas nunca murcham; e em tudo quanto faz sempre tem êxito” (v.2-3).
É preciso um tempo para o fruto aparecer. Ele surgirá à medida que o adubarmos com a Palavra de Deus, meditada e colocada em prática, e o regarmos com a água viva do Espírito Santo!
Experimentar os sabores do fruto do Espírito Santo é antecipar o gozo celeste. Como vimos no Salmo 1, tudo que o homem bem-aventurado faz tem êxito. Essa plenitude espiritual, que teremos em abundância no Paraíso, já podemos vivenciar hoje, através de uma vida de santificação, atestada pelo fruto do Espírito!
Essa promessa de uma árvore da vida, que dá fruto em abundância, significando a plenitude e a felicidade, encontramos no começo, no meio e no fim da Bíblia: Gn 2,9; Ez 47, 12; e Ap 22,2. Fazendo um paralelo com Jesus Cristo, que é o Princípio, o Meio e o Fim, e que é o mesmo Ontem, Hoje e Sempre, podemos afirmar que Ele mesmo é essa Árvore da Vida.
Vivamos, pois, de acordo com nossa dignidade de batizados. Subamos à Árvore da Vida e colhamos o fruto espiritual de plenitude! Isso é viver Pentecostes!
João Paulo Veloso
Coordenador Nacional do Ministério para Seminaristas
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