O fenômeno das manifestações populares em combate aos aumentos das tarifas de ônibus e contra a corrupção tomou conta das ruas do Brasil. Neste artigo, o padre Eduardo Braga (Dudu), da Arquidiocese de Niterói/RJ, traz algumas reflexões necessárias sobre o assunto. Confira.
O Brasil está vivendo um momento histórico com este fenômeno das “manifestações”. Praticamente ninguém mais questiona a liberdade democrática de expressarmos, como cidadãos, nossos direitos. Mas o que começamos a ver no nosso país ainda é obscuro. Que movimento é este? O que ele pretende? Quem são os seus mentores? Sem estas respostas seria no mínimo imprudente, sob meu ponto de vista, aderi-lo.
Estamos indo às ruas por causa de 20 centavos? Queremos apenas passe livre? O país do futebol está indignado com a Copa? Por que este movimento começa exatamente agora? É verdade, que a organização deste movimento não pode conter os vândalos? Estamos caminhando para uma guerra civil também no Brasil? Destruir nossas cidades nos garantirá um Brasil melhor? Deseja-se reforma ou faz-se revolução? Estamos seguros para dizer que está caindo um paradigma no Brasil?
Estamos lutando contra a corrupção, desvios de verbas, falta de segurança, infraestrutura na educação e na saúde. Amém! Que assim seja. Mas é isto mesmo? Será que não são também os próprios corruptos que tomaram através do brinquedinho das redes sociais o ”controle remoto” do gigante que estava ”deitado eternamente em berço esplêndido” e estão manipulando massas para a próxima eleição?
Manifestantes, baderneiros, criminosos, oportunistas, estudantes e aproveitadores. Quem é quem nas ruas? Ir para ruas assim? Cinegrafistas, repórteres e trabalhadores feridos. Comerciantes saqueados. E o ataque aos policiais? Eles também não são brasileiros? Também não querem melhorias? Atacá-los por quê? E nossos monumentos históricos depredados e pichados? Nem mesmo nossas Igrejas foram poupadas!
Na quinta-feira (20), foi de fato um dia histórico. O protesto pelo país levou 1,25 milhão de pessoas, mas também acabou em um morte, centenas de feridos, vários confrontos. O Rio reuniu o maior público (300 mil pessoas), e, em Brasília, vândalos atacaram inclusive o Palácio do Itamaraty. A presidente Dilma pediu aos ministros uma reunião extraordinária, o Senado permaneceu em vigília. Os políticos já perceberam a força de tal movimento. Mas, voltemos ao questionamento inicial: O que deseja afinal este movimento?
Aproveitando um pensamento de um bispo católico nordestino, quero pedir, sobretudo, aos nossos jovens, que pensem antes de ir às ruas em três aspectos:
1- Que tais manifestações não sejam manipuladas por grupos, sobretudo, partidos especializados nisso: pegar carona em atos públicos para usá-los ideologicamente;
2- Que não caia em atos de violência, anarquia e vandalismo. Na democracia devem caminhar juntos a liberdade de expressão e o respeito à ordem.
3- Que se procure esclarecer, ao menos em linhas gerais, quais demandas, quais reivindicações, estão no coração da sociedade.
Manifestemos com a vida pura! Coragem, paciência, prudência. O amor continua sendo a melhor forma de mudança!
Pe. Eduardo Braga (Dudu)
Arquidiocese de Niterói/RJ