Naquele momento existia apenas uma criança numa gruta, nada mais impotente do que isso, como era impotente João Batista, último dos profetas, um homem vestido em farrapos e cinto de corda, que alguns anos depois anunciou a presença do Messias misericordioso, Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Cf. Jo 1, 29.36). Muito antes, era um nada um pastor das estepes da Ásia, Abraão, de onde tudo começou. Ninguém teria apostado que a história mudaria deste modo, mas Deus sabia! Seu método é diferente!
Corramos depressa para dezembro de 2015. A incerteza avança em todas as partes, começando de nossa terra, pela violência que se espalha, alcançando nosso país em crise, a corrupção que envergonha a todos nós, para chegar a este mundo ferido, onde se pergunta a respeito dos melhores modos para reagir a ataques, migração forçada, uma verdadeira “guerra mundial em pedaços”, da qual fala o Papa Francisco, e uma humanidade sedenta de paz e misericórdia!
Parece que não vale nada olhar para uma criança, mas foi assim que Deus começou a mudar o mundo! O Papa nos leva a olhar para a impotência do Presépio, a aparente fraqueza do Evangelho, a pequenez onipotente do Altar da Eucaristia. Deus se esvaziou, e neste aparente sinal de fraqueza que é Cristo, o Rosto da Misericórdia, está a onipotência de Deus. Deus muda tudo quando seu filho se faz homem, e quer mudar o mundo com as pessoas que ele, aos poucos, assume junto de si, pela história afora.
Este é o método de Deus, capaz de mudar o mundo, passando pela única estrada possível, o coração humano. Qualquer conquista de espaços, poder ou influência se revela estéril. Deus quer tocar com a sua misericórdia o coração das pessoas, o nosso coração. Nada mais! E nós queremos celebrar o Natal, neste ano que é especial, um Ano Santo da Misericórdia, um Jubileu. As trombetas da Igreja saem pelas ruas proclamando que é tempo de perdão e reconciliação, tempo de obras de misericórdia. “Talvez, demasiado tempo, nos tenhamos esquecido de apontar e viver o caminho da misericórdia. Por um lado, a tentação de pretender sempre e só a justiça fez esquecer que esta é apenas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas a Igreja precisa de ir mais além a fim de alcançar uma meta mais alta e significativa. Por outro lado, é triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais. Em certos momentos, até a própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança” (Misericordiae vultus, 10). Pedir perdão, oferecer perdão, dar o perdão, este é o método de Deus.
A Palavra de Deus hoje anunciada nos envolve no mistério celebrado e no turbilhão maravilhoso da misericórdia. O oráculo do Profeta Isaías é proclamado numa situação dramática. Há pessoas sem esperança o profeta anuncia: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz” (Is 9, 1). Voltando-se para Deus, afirma confiante: “Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade” (Is 9, 2). O que nos permite, ontem e hoje, passar da escuridão à luz e da tristeza para a alegria? O profeta diz que o jugo acabará, mas anuncia a chegada daquele que é “Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz” (Is 9, 5). E ele é um menino! Como é possível? “O amor zeloso do Senhor dos exércitos há de realizar estas coisas” (Is 9, 6). Ele e só ele pode dar vida a uma sociedade em que reine a justiça, a paz e alegria, e que dá a todos a coragem para viver. Este é o método de Deus!
São Paulo, explicando o sentido da vinda de Jesus entre nós, vem com palavras cheias de esperança: “A graça de Deus se manifestou, trazendo salvação para todos os homens” (Tt 2,11). O Salvador, que nos foi dado, não é só uma criança nascida numa manjedoura, mas o sorriso Misericordioso de Deus para todos, porque ele não perde a esperança em nenhum ser humano. Ele veio para nos ensinar o caminho do bem, “a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade” (Tt 2, 12). “Ele se entregou por nós” (Tt 2, 14), falando-nos do Pai, chamando-nos amigos e morrendo na Cruz por nós, para nos libertar de todo tipo de escravidão e reconduzir ao Pai a humanidade reconciliada. Este é o método de Deus!
E a Boa Nova nos foi proclamada no Evangelho. Ouvimos com alegria, mais uma vez, a narrativa do acontecimento do Natal. Presto minha homenagem a tantas crianças que hoje, tendo crescido em sua compreensão das Escrituras, acolhem com fé o anúncio do nascimento de Jesus. E o Evangelho logo nos conduz a acompanhar a notícia evangelizadora levada aos pastores, primeiras testemunhas do acontecimento da salvação. Acompanhando-os e participando de sua alegria, nós os vemos correndo até a gruta de Belém, para depois anunciar aos outros o acontecido. O que encontraram? A alegria anunciada, a pobreza da aventura humana de Jesus, um “recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 12). Poucos pastores, representantes de gente pobre e humilde, reconhecem o Messias. Este é o sinal divino e extraordinário do início de um tempo novo. Este é o método de Deus!
Quando receberam o anúncio dos anjos, os pastores pronunciaram palavras que se tornaram um convite: “Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor nos comunicou” (Lc 2, 15). Um outro lugar, Belém do Pará e não Belém de Judá, também em torno de uma manjedoura, Forte do Presépio, tornou-se espaço onde Deus quis nascer e quer nascer de novo. Com todas as nossas dificuldades, desafios e problemas, vamos de novo a Belém, para ver o que aconteceu. Vamos à Belém de nossas raízes cristãs católicas. Busquemos a Belém de nossa primeira comunhão, das festas religiosas, Belém do Círio, Belém do povo calejado pelo calor, rostos molhados de chuva e suor, olhares de água barrenta e florestas verdejantes. Esta é a nossa terra e aqui Deus quis plantar sua habitação. Vamos a Belém com o coração pulsante de misericórdia com todos os homens e mulheres que clamam pela vinda de Jesus. Acolhamos o método de Deus agir, o jeito de Jesus pequeno e menino. Presépio, Bíblia, Altar! São as nossas armas!
Quatrocentos anos de fundação de uma cidade nascida no Presépio. O dever de oferecer a Belém um jeito diferente de viver é agora assumido por nós. Com a graça especial do Natal, iniciaremos o ano do Quarto Centenário aqui, na Casa do Pão, na Eucaristia celebrada. Estamos para concluir o Ano Eucarístico, com o qual nossa Arquidiocese se preparou para o Congresso que se aproxima. De fato, o ponto alto dos quatrocentos anos será transformar Belém, Casa do Pão, na Capital Eucarística do Brasil, durante o XVII Congresso Eucarístico Nacional, de 15 a 21 de agosto de 2016. Eucaristia e misericórdia! São as duas grandes riquezas a serem oferecidas, o método de Deus para mudar o mundo!