Um dos méritos da Renovação Carismática Católica é o de ter redescoberto uma das características da Igreja Primitiva, o antigo carisma da cura, na Igreja dos dias atuais.
Hoje também, o Espírito Santo quer realizar as mesmas coisas que lemos nas páginas das Escrituras. Ele não perdeu nada de seu poder e nenhum de seus dons. A missão de Jesus e da Igreja ainda não terminou. E deve continuar, através dos apóstolos dos tempos modernos, que pregam e realizam os mesmos atos de poder que Jesus e os Apóstolos, até a fazer “maiores obras do que Ele mesmo”, por que, indo para o Pai, Ele confiou à Igreja a tarefa de continuar o seu ministério (Jo 14, 12).
Portanto, a evangelização feita pela Igreja Católica, que é uma extensão da missão do Senhor Ressuscitado, deve ser acompanhada pelos carismas divinos do Espírito Santo, conforme descritos para nós nos Atos dos Apóstolos e no Evangelho de S. Marcos (ver Mc 16,18b).
Jesus mandou os apóstolos pregarem, curarem e expulsarem os demônios (ver Mc 10, 7-8) mas, se a Igreja Católica só pregasse sem expulsar os demônios, não estaria fazendo a vontade de Jesus! Se a Igreja Católica pregasse a mensagem da salvação sem continuar a fazer as mesmas obras que Jesus fazia, seria como se traísse o mandato que Deus deu à Igreja. Proclamar a doutrina da divina salvação que é abstrata, teórica, intelectual ou moralista, sem ser uma salvação de fato, ou falar de um conceito de salvação que seja eficaz, seria uma retórica vazia.
O Santo Padre, o Papa João Paulo II, diz que Cristo é o redentor do homem todo (Redemptor Hominis), espírito, alma e corpo. O ministério da cura testemunha o cuidado e a compaixão que Jesus e sua Igreja tem pelos enfermos, não apenas no espírito mas, também no corpo.
Portanto, os católicos são levados pela Palavra de Deus a exercer os ministérios carismáticos, entre os quais está o da cura. São motivados a desejar sincera e humildemente estes carismas para a edificação da Igreja (1 Cor 12,4-11; Ef 4, 11; Rm 12, 6-9) e a libertar-se de todos os obstáculos que restrinjam o seu uso. S. Paulo diz: “A respeito dos dons espirituais, irmãos, não quero que vivais na ignorância” (1 Cor 12, 1).

No ensinamento da Igreja Católica

A este respeito, o ensinamento oficial da Igreja Católica no Concílio Vaticano II foi o de encorajar o uso dos carismas para a evangelização, como revelado na Constituição Dogmática sobre a Igreja: os Carismas “são úteis para a renovação e para a crescente expansão da Igreja” (LG 12).
Também, de acordo com a Lumen Gentium, “estes carismas, embora extraordinários, devem ser recebidos com gratidão e grande alegria”. Para apoiar o uso do ministério de cura na Igreja Católica, o Vaticano expressou-se em três ocasiões importantes:
a) O primeiro é um relatório editado por quatro Dicastérios do Vaticano, que afirma que uma atenção especial deve ser reservada à dimensão da experiência, isto é, à descoberta da pessoa de Cristo através de uma vida de oração e de serviço (por exemplo, na Renovação Carismática e em outros movimentos, a experiência de “nascer de novo”).
Atenção especial deve ser dada ao ministério de cura através da oração.

b) O segundo documento é uma carta do Secretário de Estado do Vaticano, em nome de João Paulo II, aos participantes do Seminário Internacional sobre o Ministério de Cura organizado pelo Pontifício Conselho dos Leigos e pelo ICCRS, em San Giovanni Rotondo (Foggia), em outubro de 1995: “Sua Santidade espera que o Seminário contribua para uma maior apreciação dos dons carismáticos de cura nos seus aspectos essenciais em relação à fé em Cristo e à edificação de sua Igreja, na unidade e no amor”.

c) O terceiro documentos foi publicado recentemente pela Congregação da Doutrina da Fé, entitulado “Instrução para oração para receber a cura de Deus”.

A contribuição da Renovação Carismática Católica

Através do ensinamento da Igreja primitiva e da doutrina da Igreja Católica, a Renovação Carismática Católica aprendeu a usar o ministério de cura na evangelização. A Renovação Carismática Católica sabe da importância de seguir os ensinos do Magistério Eclesial e de ouvir “cum Ecclesia” (“com a Igreja”), e é por esta razão que ela assumiu a tarefa de continuar sua missão evangelizadora na Igreja, exercendo corajosamente o ministério de cura na proclamação da palavra de Deus. O ministério de cura é também, conforme uma de nossas expressões, uma oração de libertação que muitas vezes é acompanhada de benefícios tanto espirituais como físicos (cf. Mc 16, 18; 1 Cor 12, 9; Tg 5, 14). E aqueles que foram libertados e curados são chamados a dar testemunhos para que os cristãos sejam um sinal de que o Reino de Deus está entre os homens (ver Lc 10, 9; Mt 11, 4).
No ministério de cura há a expressão de fé, de que a salvação e a cura são para a pessoa toda. Cristo não veio somente para salvar as almas mas, para o homem em sua totalidade. A imposição das mãos e a unção com óleo são maneiras através das quais a Igreja expressa sua fé. Jesus veio como o grande Médico que cura as almas enfermas de pecado e de doenças físicas. Ele é o Rdentor do homem.
Neste ministério podemos encontrar uma lição preciosa de alta pedagogia: o toque do divino na carne do homem mostra a boa nova de que mesmo os mais fracos são merecedores de tornar-se recebedores de honra, através da qual Deus revela os ministérios do Reino. Não é difícil encontrar em nossas comunidades pessoas que são usadas por Deus para levar cura a outras. Suas mãos tornam-se mãos de Deus e seu toque revela o poder de Deus. Isto é realmente um mistério!
Muitas vezes é o ministério de cura que causa as maiores preocupações à autoridade da Igreja. O relacionamento corpo-espírito, redescoberto na Renovação, faz a oração carismática parecer incontrolável e muito emocional àqueles cuja aproximação a Deus é fundamentalmente de maneira cognitiva.
Apesar disto, é este relacionamento corpo-espírito que atrai aqueles que sabem que nem tudo está “sob controle”, aqueles que não tem nada a perder. São estas pessoas que aceitam abrir os braços para Deus; porque Deus é uma realidade e não uma teoria: Ele é uma pessoa viva e quando esta gente o experimenta pessoalmente, diz que uma enorme mudança acontece em suas vidas. O “Deus do Céu”, veio para viver dentro delas e afirmam que não são mais as mesmas.
A respeito do importante argumento do carisma da cura, o Pontifício Conselho para os Leigos do vaticano convidou o ICCRS para colaborar na organização de um importante “Colóquio sobre a oração de cura e a Renovação Carismática Católica”, que se realizou em Roma em novembro último e reuniu especialistas, teólogos, bispos, cardeais e líderes de destaque da Renovação Carismática Católica de todo o mundo.
Tal colóquio mostrou a importância que hoje tem o ministério de cura para as autoridades eclesiásticas e a decisiva contribuição que a Renovação Carismática Católica pode dar na sua redescoberta e em seu uso na Igreja Católica de nossos dias.
(Nota: Notícias sobre o Colóquio Internacional na próxima edição)

Matteo Calisi
Membro do ICCRS,
Presidente da Fraternidade das Comunidades da Renovação