Por Dom Eurico dos Santos Veloso

No Livro do Apocalipse, ante a iminência do toque da última trombeta, João ouviu a voz que lhe anunciava: “Não haverá mais tempo! Pelo contrário, nos dias em que se ouvir o sétimo Anjo, quando tocar a trombeta, então o mistério de Deus estará consumado, conforme anunciou aos seus servos, os profetas.”(Ap 10, 7).

Estamos assistindo, em nossos dias, um recrudescimento da maldade. Não há a partilha do pão. Multidões famintas, multidões sofrendo os horrores das guerras sem tréguas, que sequer poupam os do próprio sangue.  Não se respeita mais a vida diante dos prazeres efêmeros do sexo, da ambição, do dinheiro. Estamos todos apavorados, com medo. A desonestidade campeia entre aqueles que pela honestidade deveriam velar.

E a isto acrescem os desastres da natureza, causados, certamente, pela insensatez humana.

Se perdermos a fé, desesperaremos. Entregues às nossas próprias forças não resistiremos. Jesus nos disse da gravidade dos acontecimentos que, se não fossem abreviados, até os eleitos sucumbiriam.(Mt 24, 22)

São Paulo, expondo o mistério de Deus de que fala o Apocalipse, nos ensina, escrevendo à Igreja de Roma, que Deus não rejeitou o seu povo, os judeus e juntamente com todas as nações os salvará: “Deus encerrou todos na desobediência para a todos fazer misericórdia” (Rm 11, 32).

Ele nos chamou a uma vida de santidade pela fé, abençoando-nos com toda a sorte de bênçãos  no Cristo, que nos remiu pela sua cruz, tornando-nos filhos adotivos de Deus, revelando-nos o seu mistério para levar o tempo à sua plenitude: a de em Cristo encabeçar todas as coisas, redimindo-nos para louvor e honra de sua glória (Ef 1, 1-14).

Na plenitude do tempo, realizando o seu plano de amor, Deus enviou seu Filho que assumiu a condição humana, para nos resgatar, pela cruz, da morte, do pecado. Ressuscitado dos mortos, foi-lhe dado todo o poder e glória, para levar à plenitude da vida a todos aqueles que nele crêem, que ouvirem sua voz e, no amor, se deixem encher de sua presença, sendo, com Ele, Nele e por Ele testemunhas fieis, que oferecem o universo ao Pai, num sacerdócio e numa realeza eterna.

Vivemos ainda no tempo, quando o ministério da iniqüidade está a agir, até que o Senhor o destrua com o sopro de sua boca e o suprima com sua vinda gloriosa (2 Ts 2, 6-8).

Este é um tempo de misericórdia, em que os filhos de Deus têm de lutar contra as potências do mundo, santificando-se, conformando-se com a cruz do Senhor, cuidando da implantação do Reino, levando a todos o anúncio da redenção.

Vivemos a esperança –spe salvi facti sumus,  lembrou-nos o Papa na sua última encíclica, repisando o texto paulino (Rm 8, 24), alicerçada na fé. Cremos que o Senhor virá e, na sua humanidade glorificada, assumirá o universo que encherá com sua presença.

Ele é o Primogênito de toda a criatura, por quem e para quem tudo foi criado. nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade, a que nele também nós somos levados a participar, impregnando-nos a todos com sua presença, para todos nos oferecermos a Deus num louvor eterno. (Cl 1, 15-20)

Ele é, pois, o Rei do Universo, o Sacerdote Eterno que oferecendo-se uma vez na ara da cruz nos obteve uma redenção eterna.

Como, prefigurado por Melquisedec que, dizem as sagradas letras, tinha desconhecida a sua origem e sua ascendência, também Cristo, em sua vida mortal, era questionado por Pilatos: “de onde és tu? (Jo 19, 9) como fora, antes, pela samaritana, pelos apóstolos, pelos chefes judeus. “Qual a tua misteriosa origem?

Ela se perde nos dias eternos, no mistério escondido, há séculos, em Deus que tudo criou e Nele fez habitar, na sua humanidade, toda a plenitude para tudo levar ao Pai.

O livro do Apocalipse nos mostra a luta constante dos filhos de Deus diante dos poderes dos maus, diante do pecado arraigado nas criaturas e em nosso coração e que se exacerbará no final dos tempos, como predisse o próprio Mestre.

Mas, é sobretudo uma mensagem de esperança. Ao soar a última trombeta, se conclamará; “A realeza do mundo passou agora para nosso Senhor e seu Cristo e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11, 15).

Animados por esta esperança nada temeremos. Caminhamos à luz da fé. Acreditamos na misericórdia de Deus. Ele que não poupou seu Filho e o entregou à morte por nós, com Ele nos ressuscitará para vida no seu Reino Eterno. “Quem nos separará do amor de Cristo? (Rm 8, 35).

Diante deste mistério, já ante-vivendo a plenitude da redenção só nos resta entoarmos com os bem aventurados um hino de louvor ao Senhor nosso Deus e ao Cordeiro, (Ap 5, 9-14) porque “ foste imolado e,  por teu sangue, resgataste para Deus homens de toda a tribo, língua, povo e nação. Deles fizeste para nosso Deus uma realeza e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra.”

“Àquele que está no trono e ao Cordeiro

Pertencem o louvor, a honra, a glória e o domínio

Pelos séculos dos séculos. Amém”.

 Fonte: CNBB