Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” (Lc 24,34)

 

Jesus ressuscitou! Esta é a exclamação que bradamos no Domingo de Páscoa. A leitura opcional na tarde desse dia, é o Evangelho dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35), que queremos tomar aqui como um itinerário espiritual da nossa celebração pascal. Cada um de nós é companheiro de Cléofas, que a etimologia do seu nome quer dizer a glória do pai, ou de um pai renomado (abreviado de Cleopátros), como o outro companheiro não tem nome, podemos então ser companheiro de Cléofas e buscar a glória do Pai, que é o Cristo morto e ressuscitado. Na caminha da nossa vida com Jesus, muitas vezes o reconhecíamos como um “profeta poderoso em obras e palavras” e o nosso libertador (Cf. Lc 24, 19.21), porém como os dois discípulos, às vezes estamos tristes porque não aceitamos que a condenação à morte e a crucificação são inseparáveis do Messias, do Cristo. Jesus caminha conosco, mas estamos cegos, a morte nos cega! Queremos gritar o “Hosana ao Filho de Davi!”, mas não aceitamos o “Ecce homo” (Jo 19,5), o ser humano sofredor que carrega os nossos pecados (Cf. Is 53,4). E esse é o itinerário de cada um de nós para caminharmos para a Páscoa. Mas então pararemos nessa tristeza? Ser cristão é ficar na depressão diante do sofrimento e da morte? Estaremos sempre cegos à presença do Ressuscitado? Não. E qual a solução então? Busquemos um caminho espiritual dado pelo Evangelista Lucas. Primeiro, não desprezar as testemunhas da ressurreição, como os discípulos desprezaram as mulheres. São testemunhas dignas de crédito e precisamos dar fé ao seu testemunho e não ficar pedindo sinais de sua presença o tempo todo (Cf. Lc 24,24). Segundo reconhecer que somos sem inteligência e o nosso coração, o lugar de nossa decisão, é muito devagar para entender o mistério do sofrimento e o que está por trás do sofrimento está o Ressuscitado (Cf. Lc 24, 25). Terceiro, ler a Sagrada Escritura sob a ótica de Jesus Cristo morto e ressuscitado, pois a Escritura fala a respeito d’Ele e que essa Palavra faça nosso coração arder pela ação do Espírito Santo (Cf. 24,27.32). Por fim, após iluminados pela Palavra, clamar ao Senhor “fica conosco” e saber que a partir de agora é na Eucaristia, que vamos nos encontrar com o Cristo Ressuscitado. E levando a Ele todas as nossas “alegrias e fadigas” nossos olhos se abrirão e veremos que o Senhor está presente em nossa vida e em nossa História (Cf. Lc 24,29-31). Esse itinerário espiritual é a celebração da Páscoa do Senhor, e o cume de todo o Tríduo Pascal. Por mais que seja bom estarmos na presença do Senhor e celebrar a sua presença salvadora, e como São Pedro poderíamos exclamar com toda a força: “como é bom estarmos aqui” (Mt 17,4). Porém, temos que voltar para a nossa vida, nossos trabalhos e relacionamentos, e cremos que na companhia de Cléofas, da Glória do Pai, alimentados pela presença do Corpo Eucarístico do Ressuscitado teremos a graça e a força do Espírito Santo necessárias para caminhar e com eles testemunhar: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” (Lc 24,34).

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Padre Micael de Moraes,sjs
Instituto Missionário Servos de Jesus Salvador