Mergulhamos no sábado santo no silêncio do sepulcro. A Igreja se recolhe, não é um silêncio de luto, pois cremos que o Senhor não está morto, Ele vive, mas é um silêncio orante e de respeito, Jesus Cristo desceu à mansão dos mortos conforme as escrituras; não há liturgia específica para este dia. A Igreja irá irromper à noite pela celebração da Ressurreição. Este dia de silêncio e oração deve nos fazer mergulhar no mistério de Salvação conquistada por Jesus que foi completa pela humanidade decaída; morrendo e descendo à mansão dos mortos para resgatar aqueles que não o haviam conhecido nos primeiros tempos.
São Pedro vai dizer em sua carta: ““Pois também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados – o Justo pelos injustos – para nos conduzir a Deus. Padeceu a morte em sua carne, mas foi vivificado quanto ao espírito. É nesse mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que eram detidos no cárcere, àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes, quando Deus aguardava com paciência, enquanto se edificava a arca, na qual poucas pessoas, isto é, apenas oito se salvaram por meio da água. ” (1 Pd 3,18-20).
Sua morte foi necessária para nos salvar e redimir, nos abrindo ainda com sua ressurreição, um novo caminho, Ele nos revela que a vida não termina aqui, mas continuará na vida eterna junto a Deus. Como Jesus morreu, mas ressuscitou, quem nele crê também morrerá, porém tem a promessa da ressurreição para a vida eterna (como rezamos a profissão de fé do Credo). A morte não é o fim da história, mas o começo de uma nova.
A oração e o silêncio deste dia nos ajudarão a compreender esse mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus. A quaresma é um grande retiro espiritual de 40 dias, onde pelos exercícios espirituais e pela liturgia (celebrações eucarísticas das semanas quaresmais e a via sacra), a Igreja como mãe e mestra, nos conduz e prepara para o Tríduo Pascal; sendo o Sábado Santo (vigília Pascal) como que o coroamento desse período.
Na plenitude dos tempos, com a encarnação do Verbo e sobretudo no tríduo pascal de Sua Paixão, Morte e Ressurreição, o silêncio adquiri um profundo significado. Jesus Cristo, o servo sofredor de Isaías, emudece para expressar o tamanho da misericórdia de um Deus que se entrega por nossos pecados. Suspenso no madeiro da Cruz, Seu sofrimento foi tamanho que causou o silêncio a ponto de proclamar: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? ” (Mc 15,34). Verificamos que o silêncio de Jesus na Cruz nos identifica com nossas próprias dores, privações e sofrimentos. O silêncio como parte de nossa oração, principalmente no sábado santo, nos recorda a força de tudo que Cristo viveu por nós.
Viver o silêncio deste dia é procurar compreender, ainda que de forma limitada, o mistério de Cristo para então na noite da Vigília Pascal, termos uma grande irrupção de júbilo: Cristo Ressuscitou Aleluia, verdadeiramente Ressuscitou! Assim proclama Paulo: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. ”
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Vicente Gomes de Souza Neto
Grupos de Oração ICTUS – Paróquia Santo Afonso (RJ)