É possível praticar no nosso do dia-a-dia as recomendações propostas por Jesus no Evangelho? Na verdade esta pergunta não é tão simples de ser respondida, no entanto, podemos encontrar algumas pistas valiosas nas Sagradas Escrituras que poderão nos ajudar. Encontraremos, por exemplo, aquele famoso diálogo de Jesus com Nicodemos narrado no capítulo 3 do Evangelho segundo São João, quando Jesus garante ao seu interlocutor que é preciso e, portanto, possível renascer para uma vida nova. Neste diálogo o Senhor ensina que esta vida nova somente pode ser alcançada quando decidimos nos abandonar à ação do Espírito Santo. “O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito” (Jo. 3,8).

É através do Batismo que recebemos este Espírito que é a força de Deus em nós. E quanto mais nos deixarmos conduzir por Ele, mais teremos condições para vivermos uma vida para Deus, uma vida em Deus, uma vida no Espírito; vencendo o pecado, no poder deste mesmo Espírito, assim como Jesus propôs a Nicodemos. Mas, para que isso seja possível, é preciso tomar o firme propósito de dar permissão ao Espírito Santo para governar as nossas decisões, os nossos desejos e os nossos planos.

Para Jesus a vida no Espírito é uma renovação espiritual que transforma toda a nossa vida: na maneira de pensar e agir, hábitos e costumes, e é a partir daí que passaremos a experimentar um jorrar da presença do amor de Deus! Como lemos no Evangelho segundo São João: “Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva”(Jo. 7,38). Quem nasce de novo começa uma vida nova, não mais com os mesmos pecados, defeitos, vícios e mentiras do passado.

A vida no Espírito, sugerida por Jesus, exige esforço pessoal, renúncia e plena adesão à vontade de Deus.  Por isso a doutrina da Igreja nos ensina que “o caminho da perfeição passa pela cruz. Não existe santidade sem renúncia e sem combate espiritual.  O progresso espiritual envolve ascese e mortificação, que levam gradualmente a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças” (CIC 2015).

Aqueles que alcançaram a santidade nos provam com os exemplos concretos de suas vidas que é perfeitamente possível viver cada uma destas exigências evangélicas para viver a vida no Espírito. O exemplo destas pessoas extraordinárias que, de tempos em tempos, Deus envia ao nosso mundo para servirem como pontes entre a terra e o céu, é a prova inequívoca de que eu ou você podemos também alcançar esta vida nova. Uma destas pessoas foi sem dúvida o Padre Pio de Pietrelcina. Ele foi um religioso capuchinho nascido em 25 de maio de 1887 nesse povoado do sul da Itália e morreu em 23 de setembro de 1968 em San Giovanni Rotondo. Como consequência do seu maravilhoso empenho para viver esta vida nova que o Senhor Jesus nos propõe, São João Paulo II o elevou aos altares em 2002. O Padre Pio recebeu dons especiais de Deus, como o discernimento das almas e a capacidade de ler as consciências; curas milagrosas; bilocação, entre muitos outros. Sua vida foi marcada com sinais de perfeita obediência aos apelos do Espírito Santo. Desde criança já se observa esta característica em sua vida, pois era muito assíduo com as coisas de Deus, tendo uma inigualável admiração por Nossa Senhora e o seu Filho Jesus, que os via constantemente devido a tanta familiaridade.

Viveu imerso nas realidades sobrenaturais. Não só era o homem da esperança e da confiança total em Deus, mas, com as palavras e o exemplo, infundia estas virtudes em todos aqueles que se aproximavam dele. O amor de Deus inundava-o, saciando todos os seus anseios; a caridade era o princípio inspirador do seu dia: amar a Deus e fazê-Lo amar. A sua particular preocupação era crescer e fazer crescer na caridade conservando um grande amor pelas pessoas, sobretudo pelos mais sofredores. Chegou a construir um hospital para atender os doentes que não tinham condições de pagar o tratamento médico.

Seu amor e sua intimidade com Deus era tão profundos que quando celebrava a Missa, a igreja ficava cheia de um suave perfume e as pessoas vinham em grande número para participar das suas celebrações. Além disso, ele se preocupava imensamente com a salvação das almas e, por isso, ficava longos períodos no confessionário atendendo as confissões de todos que desejassem.

Quem conhece a vida do Padre Pio sabe bem o quanto ele teve de lutar, incessantemente, contra o demônio; e quantos sofrimentos e vinganças diabólicas sofreu devido ao seu ministério em favor das almas, resgatando-as do seu poder para as entregar ao Senhor.

Estas e outras características da vida de São Padre Pio nos mostram que ele verdadeiramente viveu uma vida no Espírito, produzindo maravilhosos frutos de amor e de santidade. O seu exemplo deve nos motivar a viver esta vida nova, passando pela experiência do nascer de novo, ou seja, morrer para o pecado, para a vida velha e iniciar uma nova vida de conversão, de amor a Deus e aos irmãos. A vida e o exemplo de São Padre Pio nos mostram o bom caminho que o levou à santidade e à salvação eterna, caminho este que todos nós somos convidados a trilhar.

Durante sua vida, Padre Pio foi diretor espiritual de muitos devotos que desejaram ficar sob sua especial orientação e proteção. Ele os chamava de seus “filhos espirituais” e sempre os advertia que se comportassem dignamente para que “não o deixassem passar vergonha perante Deus”. Vejamos a seguir dois conselhos formidáveis deste grande santo que nos ajudarão a aprofundar ainda mais a experiência da vida no Espírito nas nossas ações cotidianas.

Primeiro conselho: Buscar o arrependimento verdadeiro e a sinceridade na confissão sacramental

São Padre Pio era um sacerdote que tinha o dom do entendimento. Ele servia-se do seu dom para ajudar muitas almas. Quando alguns penitentes iam ter com ele e, por esquecimento ou timidez, escondiam este ou aquele pecado, o Padre Pio lembrava-lhes: “Falta-te este pecado que cometeste duas ou três vezes”. Padre Pio exigia que toda a confissão fosse uma verdadeira conversão. Não tolerava a falta de franqueza na explicação dos pecados. Era muito duro com os que se desculpavam, falavam sem sinceridade ou não tinham uma firme determinação em mudar. Exigia integral franqueza e honestidade do penitente. Também exigia uma verdadeira e sincera dor no coração, e uma firmeza absoluta nas decisões para o futuro.

São Padre Pio exercitou ao longo de toda sua vida as virtudes da pureza em grau heróico e, sabendo o valor elevado para a realização do Reino dos Céus, exigia que os outros a conservassem zelosamente também, e se preservassem intactos de qualquer mácula do pecado. Ele considerava a ida frequente à confissão algo necessário para o crescimento na vida espiritual e por isso se confessava ao menos uma vez por semana.

Uma vez foi perguntado a Padre Pio: “Confessamos tudo que pudemos recordar ou conhecer, porém é possível que Deus veja outras coisas que não pudemos lembrar?”. Ele respondeu: “Se pusemos em nossa confissão toda a nossa boa vontade e se tivemos a intenção de confessar todos os pecados mortais, tudo que pudemos recordar ou conhecer, a misericórdia de Deus é tão grande que Ele incluirá e apagará também o que não pudemos recordar ou conhecer”.

Segundo conselho: Cultivar a modéstia e a humildade

Certa vez São padre Pio deu a seguinte recomendação a uma pessoa que lhe perguntou como deve viver um cristão na sociedade: “Seja extremamente modesto em tudo, pois esta é a virtude que, mais do que qualquer outra, revela os sentimentos do coração. Nada representa um objeto mais fielmente ou claramente do que um espelho. Da mesma forma, nada mais amplamente representa as más ou as boas qualidades de uma alma do que a maior ou menor regulação do exterior, como quando alguém parece mais ou menos modesto. Você deve ser modesto em discurso, modesto no riso, modesto no seu porte, modesto ao caminhar. Tudo isso deve ser praticado, não por vaidade, a fim de mostrar a si mesmo, nem com hipocrisia a fim de aparecer bom aos olhos dos outros, mas sim, pela força interna da modéstia, que regulamenta o funcionamento exterior do corpo. Portanto, seja humilde de coração, circunspecto nas palavras, prudente em suas resoluções. Seja sempre econômico em sua fala, assíduo na boa leitura, atento em seu trabalho, modesto em sua conversa. Não seja desagradável com ninguém, mas seja benevolente para com todos e respeitoso para com os mais velhos. Que qualquer olhar sinistro fique longe de você, que nenhuma palavra ousada escape de seus lábios, que você nunca realize qualquer ação indecente ou de alguma forma gratuita. Em suma, deixe que todo seu exterior seja uma imagem vívida da compostura de sua alma”.

Amados irmãos e irmãs, consideremos seriamente em praticar no nosso dia-a-dia cada um destes conselhos tomando como modelo para a nossa vida este grande santo que o Senhor deu à Igreja em nossos tempos. O Padre Pio é um referencial moral e espiritual de suma importância a todos que procuram viver a vida no Espírito, não só por ser um grande santo do nosso tempo, como ainda por ter sido um grande Místico, mas, sobretudo, pela coerência em todas as suas ações, bem como pelos maravilhosos frutos produzidos em sua vida provenientes da sua especial obediência às inspirações do Espírito Santo.

São Padre Pio, intercedei por nós!

 

Luiz César Martins

Coordenador Nacional do Ministério de Intercessão da RCCBRASIL.