Entre 18 e 20 de fevereiro será celebrado em Sassone (Itália) a XXIV Assembleia Nacional da Federação Italiana de Exercícios Espirituais (FIES).

O objetivo é a relação entre os Exercícios Espirituais e o clero, a vida consagrada e os laicos. Um dos participantes será monsenhor Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontíficio da Cultura.

Para conhecer melhor a história, a atualidade e a prática moderna dos Exercícios Espirituais, ZENIT entrevistou o Padre Stanislao Renzi, C.P. Secretário Nacional da FIES.

– Em um mundo como atual, moderno e secularizado, quais são as razões que vocês propõem para promover e praticar os Exercícios Espirituais?

Padre Renzi: “A secularização, que frequentemente se transforma em secularismo abandonando o significado positivo de secularidade, é um teste para a vida cristã dos fiéis e dos pastores. Hoje é um desafio providencial oferecer respostas convincentes para as perguntas e as esperanças do homem” (BENTO XVI).

Os Exercícios Espirituais, enquanto escuta a Palavra de Deus, permitem-nos discernir a vontade de Deus e se moldar de acordo com ela, superar a mentalidade em que Deus está ausente, e ao mesmo tempo, por exemplo, estruturar-se para viver em comunhão com Deus e os irmãos.

Por essa razão, a Federação dos Exercícios Espirituais (FIES) promove os exercícios e estimula os responsáveis a programar para cada ano exercícios para categorias diferentes de pessoas: sacerdotes, religiosos, laicos, jovens, idosos, para dar uma resposta aos difíceis desafios colocados pela sociedade secularizada e pela indiferença religiosa.

“Não duvide nunca que os Exercícios são uma solicitação insistente, que a Igreja dirige não somente a seus ministros sagrados, aos religiosos e às religiosas, a todas as pessoas consagradas, também àqueles que querem entrar em si mesmos, dedicar tempo a Deus com a alma aberta e a esperança de encontrar seu próprio caminho, para amar e segui-lo” (João Paulo II, Audiência à FIES no 25° aniversário de sua fundação).

No que diz respeito à pontualidade dos Exercícios, assim se expressou Paulo VI: “A prática dos Exercícios não constitui somente em uma pausa revigorante para o espírito, em meio das dissipações da caótica vida moderna, também uma escola ainda hoje insubstituível para introduzir as almas em uma maior intimidade com Deus, ao amor da virtude e a ciência da vida, com dom de Deus e como resposta ao seu chamado”.

Em 1967 os bispos de Triveneto (Itália) escreveram uma carta sobre a “Validade dos Exercícios Espirituais”, e recomendaram “preservar nesse apostolado, que se revela dia a dia melhor”. Sem excluir o empenho de experimentar formas que se adaptem ao nosso tempo, insiste “na clássica estrutura dos Exercícios, tão válida e providencial em seu clima de reflexão e de profundo silêncio”. (Pietro Schiavone, S.J., “Il Progetto del Padre”, pp. 12-13).

–Muitos jovens não sabem sequer o que são os Exercícios Espirituais nem por que são praticados. Pode nos explicar brevemente?

–Padre Renzi: É verdade que muitos jovens não sabem sequer o que são Exercícios Espirituais nem para que são praticados: hoje vivem em um mundo que ama o ruído, não o silêncio e a recolhimento, e muitos querem ser livres das leis e da disciplina. Para estes é difícil falar de “busca da vontade de Deus na disposição da própria vida”.

Contudo são muitos (entre 20 e 30 anos) que praticam os Exercícios Espirituais assistindo com frequência aos cursos, às vezes em finais de semana, em casas de espiritualidade, cujos representantes lhes oferecem a possibilidade de rezar e refletir individualmente e comunitariamente, de forma que diferenciem as escolhas da vida e façam um caminho espiritual próprio na Igreja. Os cursos estão abertos para todos os jovens que desejarem amadurecer sua própria vida segundo o projeto de Deus.

Deve ser lembrado também que, segundo Santo Inácio, os Exercícios Espirituais não são um tempo de estudo ou simplesmente de recolhimento e oração. É a busca: “Como passear, caminhar, correr são exercícios físicos, assim se chamam Exercícios Espirituais toda forma de preparar e dispor a alma para tirar todos os afetos desordenados e, ao tirá-los, a buscar a vontade de Deus na disposição da própria vida, para a salvação da própria alma” (es. Sp. Ann.1).

–O senhor pode nos contar a história dos Exercícios Espirituais? Quando nasceram? O que diz a Bíblia a respeito? E quais são os santos que praticaram o carisma dos Exercícios Espirituais?

–Padre Renzi: Os Exercícios Espirituais já eram praticados pelos padres do deserto, mas os que chamamos de “clássicos” se remontam a Santo Inácio de Loyola, que começa a escrevê-los em livro em 1522 e os aperfeiçoa em 1548. O livro começa os Exercícios lançando perguntas fundamentais: Para que Deus nos criou? A finalidade dos Exercícios, no pensamento de Santo Inácio, é ordenar a própria vida segundo o projeto de Deus, pois o homem foi criado para servir a Deus, e somente através disso pode chegar à salvação.

Ele recomendava fazer os Exercícios em um lugar diferente do próprio ambiente habitual. Existiam de fato as “casas de exercícios”, onde o silêncio e a quietude ajudavam a fazer esses exercícios espirituais.

Santo Inácio retirou da Bíblia as ideias para a composição gradual do livro dos Exercícios Espirituais, nos quais transparece seus sentimentos encontrando o segredo para discernir a vontade de Deus. Portanto, a Bíblica é um texto fundamental para todo tipo de Exercícios Espirituais. Seria demorado buscar todas as passagens da Bíblia que se referem a eles. Encontro concretamente em um salmo 118, 47-64. O salmista diz ao Senhor ter sondado seus caminhos e dirigir seus passos para os mandamentos; diz estar disposto a guardar os decretos do Senhor. Finalmente, pede ao Senhor que lhe ensine sua vontade, já que do amor do Senhor a terra está repleta. Análogo é o itinerário do praticante, que revisa sua própria vida para se orientar no sentido da vontade de Deus.

Outras referências poderiam ser a Virgem Maria, que medita em seu coração tudo o que acontece ao seu redor. Maria, de fato, escutava e meditava as Escrituras, ligando-as à palavra de Jesus e aos acontecimentos que estava descobrindo em sua história em relação a seu filho; outra referência é o convite de Jesus aos discípulos a se retirar em solidão para um descanso que é espiritualmente saudável. Finalmente, a referência às Escrituras no colóquio com os discípulos de Emaús, para que compreendam o que aconteceu em sua morte e em sua ressurreição. Os Exercícios de Santo Inácio dizem respeito a toda vida de Jesus como está contada nos Evangelhos.

Além de Santo Inácio, muitos santos praticaram os Exercícios espirituais como renovação da vida cristã. Cito somente alguns: São Domingos, São Francisco de Assis, São Paulo da Cruz, São Afonso Maria de Ligório… Todos foram incansáveis na pregação e no confessionário como ministros da misericórdia de Deus, ajudando os homens a se encontrar, a lutar contra o pecado e a progredir no caminho da vida espiritual.

Fonte: Zenit

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