Sempre solene e respeitosa, mas familiar e íntima.
 
Logo que tive meu encontro com o Senhor a partir do Seminário de Vida no Espírito Santo, pude experimentar aquilo que anos depois iria ler sintetizado em tantos livros e apostilas que tratavam (e tratam) sobre os frutos do Batismo no Espírito Santo ou, como gosto de compreender, as consequências do Batismo no Espírito. Sim, digo consequências, porque é impossível alguém ter uma experiência real e autêntica com Deus que é de tudo a causa sem ser impactado pelas consequências desse encontro de amor.
 
Não cheguei a orar de imediato em línguas, tampouco compreendi intelectivamente o que os pregadores diziam e cada pregação. Sim, muita coisa me escapou à compreensão, mas o que senti, real e autenticamente, era um conhecimento que ultrapassava todo conhecimento. Como se o próprio Senhor, no seu Espírito Santo, estivesse me ensinando todas as coisas, pelo Espírito que é o Divino Mestre, o Divino Formador, que forma Jesus em nós.
 
O fato é que saí daquela experiência com uma sede sem tamanho de ler as Sagradas Escrituras (este foi um dos frutos/consequências que falei início). Era algo maior do que eu, mais forte que minha vontade. Na realidade, hoje compreendo que minha vontade havia sido “reforçada” com a graça. 
 
Lembro que ainda não tinha uma Bíblia que pudesse levar para o Grupo de Oração e ler em casa. Então vi que em minha estante havia uma enorme, que servia apenas de adorno até então. Não importava. Para mim já não era mais um enfeite, agora já via com outros olhos o que sempre esteve ao meu alcance, mas que nunca procurei. E essa, meus queridos irmãos, foi uma grande graça. Olhar o mundo com outros olhos, a partir da Palavra, a partir do olhar do Senhor, da Igreja.
 
Há quem diga que, ao ler e estudar a Bíblia, precisamos enxergá-la com o olhar da história. Faço minhas as palavras de um querido amigo que dizia o oposto: é preciso, isto sim, olhar a história a partir da Bíblia. E foi isso que aconteceu. Comecei a enxergar na Palavra de Deus a minha própria história. Penso que essa sempre foi minha relação com o texto sagrado. Sempre solene, respeitosa, mas familiar, íntima, até mesmo cotidiana, pois a Palavra me enxergava e eu também me via nela refletido.
 
Junto com essa sede que me ultrapassava por ler a Palavra de Deus, vinha um encantamento. Lembro que uma das primeiras conexões que me veio foi encontrar a fonte de tantos ditados populares que minha mãe sempre gostou de dizer para nós, mas que nunca sabíamos qual a fonte – talvez nem ela! Por isso creio ter essa relação familiar com a Palavra e, em cada pregação, sempre uma conexão com o cotidiano, o prático, até mesmo o mais trivial de nossas vidas, sem nunca reduzir o mistério e a mística que a Sagrada Escritura nos conduz.
 
E assim, em busca de encontrar mais e mais ditos populares e mostrar para minha mãe a fonte da sabedoria popular dela, em pouco tempo já me vi terminando minha leitura completa da Bíblia (não aquela enorme da estante, a essa altura já havia recebido de presente a minha primeira Ave-Maria!).
 
Permita-me este relato meio testemunhal, até mesmo íntimo. Nem sempre escrevo assim. Mas o ponto é que considero ser essa a minha “experiência fundante” com a Palavra de Deus e que ainda hoje ilumina meus passos.
 
Ou seja, compreender que a Palavra de Deus é grandiosa, divina, sagrada, que nos ultrapassa, mas ao mesmo tempo é tão próxima, tão íntima, familiar, que podemos reconhecer nela a história do povo de Deus, mas também a nossa própria, pois ela sempre se atualiza no poder do Espírito que faz novas todas as coisas. É nela que está a fonte da sabedoria popular, na transmissão da fé de geração em geração, e nos mais elaborados e sofisticados discursos e estudos exegéticos e hermenêuticos!
 
Por isso, em cada pregação, sempre me lembro disso, para que tantas outras pessoas possam também se deixar encantar, “tirar a poeira” das suas vidas, criar coragem para serem interpeladas pela Palavra e também a interpelarem, reconhecerem-se nela, olhar o mundo, a história com esta nova lente e emprestarem seus lábios, sua inteligência, sua vida, seu silêncio, para que outros e outros e outros por ela se enamorem e se deixem transformar.
 
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Francisco Elvis Rodrigues Oliveira
Núcleo Nacional Ministério de Pregação