Depois de uma intensa caminhada quaresmal, em que fomos conduzidos ao deserto para sabermos o que há em nosso coração, através da penitência, jejum e oração, chegamos ao Tríduo Pascal, dias em que somos chamados a reviver o acontecimento central de nossa redenção! Esses são dias que despertam em nós a profunda memória dos sofrimentos aos quais o Senhor se submeteu por amor a nós!

Nesta Quinta-feira Santa, revivemos a última ceia, Cristo que se dá a nós como alimento de salvação. O alimento que o homem mais necessita é a comunhão com o próprio Deus. Que lindo mistério de amor! Deus se doando inteiramente a nós e, assim, somos transformados Nele. É ele o alimento para vida do mundo, é Ele o pão da vida, como não se encantar, envolver-se e consumir-me?

Não podemos permanecer indiferentes a um gesto de amor tão concreto, ainda que não estejamos prontos. O Senhor mesmo disse que nem todos estavam limpos e, então, começa a lavar os pés dos discípulos. Dessa forma, lavados por Ele nós também podemos participar da Sua mesa, pois só o amor possui essa força de nos purificar, retirar as nossas impurezas e nos elevar às alturas. Ele, o Senhor, o grande rei, ajoelhado, servindo-nos e tornando-nos capazes de Deus!

Mesmo diante de tão grande e profundo mistério, muitos de nós ainda insistimos em permanecer à margem, mergulhados em nossas inseguranças e dúvidas, tal como São Pedro que não compreendia a atitude do mestre.

Quantas e quantas vezes não relutamos, insistimos em permanecer em nosso orgulho e incompreensão? Impedindo, assim, que o Senhor possa nos purificar e dar a nós essa nova vida que não é fruto mágico de um sentimento ou de um super  poder, mas sim um esvaziamento de si mesmo, amor gratuito, amor  salvífico que purifica e alimenta. Ele nos deu o exemplo, é preciso que confiemos Nele! Não permitamos que nossas limitações sufoquem em nós esse chamado de imitá-lo e segui-lo, é preciso permitir que a Eucaristia desperte em nós a obediência à vontade de Deus, é nisso que consiste o amor. O amor leva a imitação e não há como amar o Senhor permanecendo preso aos anseios meramente nossos.

Celebrar a instituição da Eucaristia é o mesmo que dizer que não estamos mais à mercê de nossas inseguranças, pecados ou dos nossos inimigos, mas, é preciso crer, confiar e doar-se. Não basta que fiquemos apenas espantados, como que admirados, mas é preciso fazer a mesma coisa e deixar que a Eucaristia gere em nós essa pobreza e desprendimento, reconhecendo-se pecador e voltando sempre a Ele, perdoando sempre, pondo-se a caminho, sendo Igreja! Não queiramos permanecer como os que vêm para consumir o que há de melhor e mais sagrado e ainda assim não se comprometem, não se convertem, não se envolvem. A Eucaristia não é o sacramento dos indiferentes e insensíveis, mas sim daqueles que sabem de suas limitadas e débeis forças e se lançam corajosamente aos braços do Senhor, que se fez pão para a vida do mundo.

Que esses dias sejam para nós um sinal fecundo de restauração em nossa fé! Dias intensos em que acompanhamos os passos de nosso Senhor, de sua entrega total. Que ao final desse tríduo, possamos entoar esse canto novo ,não somente com os nossos lábios, mas que a nossa vida toda esteja disposta a servir o Mestre, e que ela cante, convencida de que somos amados por Deus. Ele nos deu tudo de si para que nunca mais nos tornássemos escravos. Ele não é um Deus distante e demasiado grande para se ocupar de nossas misérias. Porque Ele é grande, nos atraiu a Ele e nos tornou dignos de seu amor. Ele é grande em poder e amor para nos restaurar e purifcar!

Mesmo que tudo concorra para não, temos um Deus que se fez alimento e que sempre nos aceita de volta e lava os nossos corações de todas a impurezas! Um Deus que é verdadeira comida e verdadeira bebida e se formos dóceis a Ele, estaremos todos sentados à sua mesa, participando desse grande banquete de amor onde Ele é o próprio alimento para a vida eterna!

Pe. Edinei Reis

Arquidiocese de Palmas