O Papa Bento XVI recebeu no dia 04, os participantes da 15ª Sessão Plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, que aconteceu nos últimos dias, no Vaticano. Este organismo tem como missão aprofundar a doutrina social da Igreja nas áreas de direito, economia, política e outras ciências sociais. A presidente é a Professora Mary Ann Glendon, a quem o Papa agradeceu inicialmente por suas cordiais palavras de saudação.
 
Além de estudar trabalho, democracia, globalização, solidariedade e subsidiariedade, em relação ao ensinamento social da Igreja, esta Academia se volta, atualmente, à questão central da dignidade da pessoa humana e dos direitos humanos: um ponto de encontro entre a doutrina da Igreja e a sociedade contemporânea.

 
 
O Papa recordou que as grandes religiões e filosofias do mundo têm iluminado alguns destes aspectos dos direitos humanos, assim como concisamente expressos na ‘regra de ouro’ contida no Evangelho: “O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles”.
 
A Igreja sempre afirmou que os direitos fundamentais são inerentes à natureza do homem, que é criado à imagem e semelhança de Deus. Se todos os seres humanos são criados à imagem e semelhança de Deus, eles compartilham uma natureza comum que os une e evoca o respeito universal.
 
Assimilando os ensinamentos de Cristo, a Igreja considera a pessoa como ‘o bem maior da natureza’ e tem ensinado que os aspectos éticos e de ordem política que regem as relações entre as pessoas têm origem na própria estrutura do ser humano.
 
“A própria mensagem de Cristo – que proclama que Deus ama cada homem e mulher, e que todo ser humano é chamado a amar Deus livremente – demonstra que todos, independentemente de sua condição social e cultural, por natureza, merecem liberdade. Ao mesmo tempo, devemos sempre lembrar que a própria liberdade deve ser liberta. E é Cristo que a liberta”.
 
Em seguida, Bento XVI lembrou que em meados do século passado, após os sofrimentos causados pelas duas guerras mundiais e pelos crimes perpetrados por ideologias totalitárias, a comunidade internacional estabeleceu um novo sistema de direito baseada nos direitos humanos. Com isso, os direitos humanos se tornaram, para a maioria da humanidade, o ponto de referência de uma ética universal partilhada.
 
Estritamente falando, estes direitos humanos não são verdades de fé, mas recebem ulterior confirmação da fé. Em última análise, se alicerçam em uma participação de Deus, criador de todas as pessoas humanas, dotadas de inteligência e liberdade. Quando esta base ética e política é ignorada, os direitos humanos se fragilizam, pois são privados de seus sólidos fundamentos.
 
No discurso, o Papa citou alguns dos problemas sociais mais críticos das últimas décadas, como a crescente consciência – surgida graças à globalização e à atual crise econômica – sobre um flagrante contraste entre a justa ‘atribuição’ de direitos iguais e injustos ‘meios’ de acesso a estes direitos.
 
“Para nós cristãos, que regularmente pedimos a Deus que ‘nos dê o pão cotidiano’, é uma vergonhosa tragédia que um quinto da humanidade ainda passe fome. Para garantir a adequada oferta de alimentos e recursos vitais, como a água e a energia, é preciso a colaboração e a disposição de todos os líderes internacionais. Eles devem trabalhar com boa-fé, respeitando as leis naturais e promovendo a solidariedade e subsidiariedade com as regiões e povos das regiões mais pobres do planeta, além de uma estratégia mais eficaz para eliminar as desigualdades sociais entre os países e as sociedades e aumentar a segurança global”.
 
Encerrando o discurso, o papa exortou cientistas e acadêmicos a serem testemunhas críveis e consistentes da defesa e promoção destes direitos inegociáveis, fundados na lei divina.