Nesta quarta-feira (18), o Papa Francisco iniciou um novo ciclo de catequeses, agora sobre a Igreja. O tema da audiência desta manhã foi “A Igreja: 1. Deus forma um povo”. Leia as palavras do Santo Padre na íntegra:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia. Parabéns a vocês, porque foram muito bravos, com esse tempo que não sabe se chove ou não chove, muito bem! Esperamos terminar a audiência sem água, que o Senhor tenha piedade de nós.

Hoje começo um ciclo de catequeses sobre a Igreja. É um pouco como um filho que fala sobre a própria mãe, a própria família. Falar da Igreja é falar da nossa mãe, da nossa família. A Igreja, de fato, não é uma instituição finalizada a si mesma, ou uma associação privada, uma ONG, nem deve se restringir o olhar ao clero, ao Vaticano… “A Igreja pensa…”. Mas, a Igreja somos todos nós! “De quem você está falando?” “Não, os sacerdotes…”. Ah, os padres são parte da Igreja, mas a Igreja somos todos nós! Não devemos restringi-la aos sacerdotes, aos bispos, ao Vaticano… Estas são partes da Igreja, mas a Igreja somos todos nós, toda a família, todos da mãe. E a Igreja é uma realidade muito mais ampla que se abre a toda a humanidade e que não nasce em um laboratório, a Igreja não nasceu no laboratório, não nasceu de repente. É fundada por Jesus, mas é um povo com uma longa história e um povo que tem uma preparação que começa muito antes de o próprio Cristo.

1. Esta história, ou “pré-história”, da Igreja já está nas páginas do Antigo Testamento. Ouvimos o Livro do Gênesis: Deus escolheu Abraão, nosso pai na fé, e pediu-lhe para partir, deixar sua pátria terrena e ir para outra terra que Ele lhe mostraria (cf. Gn 12:1-9). E nesta vocação, Deus não chamou Abraão sozinho, como um indivíduo, mas, desde o início, envolve sua família, seus parentes e todos os que estão a serviço de sua casa. Uma vez na estrada, – sim, aqui a Igreja começa a caminhar – então, Deus amplia o horizonte e ainda transborda a Abraão sua bênção, prometendo-lhe descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia na praia. O primeiro fato importante é este: começando com Abraão, Deus forma um povo para levar a sua bênção para todas as famílias da terra. E dentro deste povo, nasce Jesus. E é Deus que faz este povo, esta história, a Igreja peregrina, e Jesus nasce lá, neste povo.

2. Um segundo elemento: não é Abraão que constitui em torno de si um povo, mas Deus dá vida a este povo. Geralmente era o homem que voltava-se para a divindade, tentando superar a distância e invocando sustento e proteção. O povo orava aos deuses, à divindade. Neste caso, no entanto, estamos testemunhando algo sem precedentes: é o próprio Deus quem tomou a iniciativa. Ouvimos isso: é o próprio Deus que bate à porta de Abraão e diz: vá em frente, saia de sua terra, comece a caminhar e eu farei de ti uma grande nação. E este é o início da Igreja e neste povo nasce Jesus, Deus toma a iniciativa e dirige sua palavra ao homem, criando um vínculo e uma nova relação com ele. “Mas, padre, como é isso? Deus fala a nós?” “Sim”. “E nós podemos falar com Deus?” “Sim”. “Mas podemos ter uma conversa com Deus?” “Sim”. Isso é chamado de oração, mas é Deus quem fez isso desde o início. Então, Deus forma um povo com todos os que ouvem a Sua Palavra e que se colocam a caminho, confiando Nele. Esta é a única condição: confiar em Deus. Se você confiar em Deus, ouvi-lo e se colocar em caminho, isso é fazer Igreja. O amor de Deus precede tudo. Deus está sempre em primeiro lugar, vem antes de nós, Ele vai adiante de nós. O profeta Isaías, ou Jeremias, eu não me lembro, ele disse que Deus é como a flor da amendoeira, porque é a primeira árvore que floresce na primavera, para dizer que Deus sempre floresce diante de nós. Quando nós chegamos, Ele espera por nós, Ele nos chama, Ele nos faz caminhar. Está sempre à frente de nós. E isso é chamado de amor, porque Deus está sempre a nossa espera. “Mas, padre, eu não acredito nisso, porque se você soubesse, padre, a minha vida tem sido tão ruim, como posso pensar que Deus está esperando por mim?”. Deus está esperando por você. E se você tem sido um grande pecador, Deus te espera mais e te espera com muito amor, porque Ele é o primeiro. E esta é a beleza da Igreja, que nos leva a este Deus que nos espera! Precede Abraão, mesmo antes de Adão.

3. Abraão e os seus escutam ao chamado de Deus e se colocam a caminho, apesar de não saberem exatamente quem é este Deus e aonde quer conduzi-los. É verdade, porque Abraão se coloca a caminho, confiando no Deus que falou com ele, mas não havia um livro de teologia para estudar o que era Deus. Confia, confia no amor. Deus faz com que ele sinta o amor e confie nele. Isso não significa que essas pessoas estão sempre convictas e fiéis. De fato, desde o início, há resistências, concentrarem-se sobre si mesmos e seus próprios interesses e a tentação de negociar com Deus e resolver as coisas à sua maneira. E estas são as traições e pecados que marcam o caminho do povo ao longo da história da salvação, que é a história de fidelidade de Deus e da infidelidade do povo. No entanto, Deus não se cansa, Deus é paciente, tem muita paciência, e no tempo continua a educar e a formar o seu povo, como um pai com seu filho. Deus caminha conosco. Diz o profeta Oséias: “Eu tenho andado com você, e eu ensinei você a andar como um pai ensina a criança a andar”. Esta bela imagem de Deus! E assim é com a gente, Deus nos ensina a andar. É a mesma atitude que mantém com a Igreja. Nós, também, de fato, até mesmo em nossa determinação de seguir o Senhor Jesus, nós experimentamos todos os dias o egoísmo e a dureza dos nossos corações. Mas quando nos reconhecemos pecadores, Deus nos enche com a Sua misericórdia e Seu amor. E perdoa-nos, perdoa-nos para sempre. E é precisamente isso que nos faz crescer como povo de Deus, como Igreja, não é a nossa inteligência, não nossos méritos – nós somos pouca coisa, não é isso –, mas é a experiência cotidiana do quanto o Senhor nos quer bem e cuida de nós. É isso que nos faz sentir verdadeiramente seus, em suas mãos, e nos faz crescer na comunhão com Ele e uns com os outros. Ser Igreja é se sentir-se nas mãos de Deus, que é Pai e nos ama, acaricia, espera por nós, nos faz sentir a sua ternura. E isso é muito bonito!

Queridos amigos, este é o plano de Deus; quando chamou Abraão, Deus pensou nisso: formar um povo abençoado por seu amor e trazer a sua bênção para todos os povos da terra. Este projeto não muda, está em andamento. Em Cristo, teve a sua realização e ainda hoje Deus continua a realizar na Igreja. Vamos pedir, então, a graça de permanecer fiéis ao seguimento do Senhor Jesus e à escuta da Sua Palavra, prontos a partir todos os dias, como Abraão, para a terra de Deus e do homem, nosso verdadeiro lar, e assim tonarmos bênção, um sinal amor de Deus por todos os seus filhos. Eu gosto de pensar que um sinônimo, outro nome que temos nós, cristãos, seria este: nós somos homens e mulheres, pessoas que bendizem. O cristão com a vida deve sempre bendizer, bendizer a Deus e bendizer a todos. Nós, cristãos, somos pessoas que bendizem, que sabem como bendizer. Esta é uma bela vocação!

Fonte: Boletim Santa Sé