Na Catequese desta quarta-feira (12), na Praça de São Pedro, em Roma, Papa Francisco falou sobre importantes indícios que revelam se estamos vivendo bem, ou não, a Eucaristia. Leia na íntegra as palavras do Santo Padre:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia.
Na última catequese eu destaquei como a Eucaristia nos leva à comunhão real com Jesus e seu mistério. Agora podemos nos perguntar sobre a relação entre a Eucaristia que celebramos e a nossa vida como igreja e como cidadãos cristãos. Como vivemos a Eucaristia? Quando vamos à missa aos domingos, como vivemos? É apenas um momento de celebração, uma tradição consolidada, é uma oportunidade de encontrar-se ou sentir-se bem, ou é algo a mais?
Há sinais muito concretos para entender como vivemos isso tudo, como vivemos a Eucaristia; sinais que nos dizem se vivemos bem a Eucaristia, ou se não vivemos tão bem. O primeiro indício é a nossa forma de ver e encarar o próximo. Na Eucaristia, Cristo sempre realiza novamente o dom de si mesmo que ele fez na cruz. Toda a sua vida é um ato de total doação de si por amor, por isso ele amava estar com seus discípulos e as pessoas que tinha a chance de conhecer. Isto significava para ele compartilhar seus desejos, seus problemas, aquilo que agitava sua alma e sua vida. Agora, quando participamos da Santa Missa, nos encontramos com os homens e mulheres de todos os jeitos: jovens, velhos, crianças, pobres e ricos, pessoas do local ou de fora, acompanhadas por suas famílias e ou sós… Mas a Eucaristia que eu celebro me faz tê-los todos como irmãos e irmãs? Ela faz crescer em mim a capacidade de me alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram? Ela me leva mais perto dos pobres, doentes e marginalizados? Ela me ajuda a reconhecer neles o rosto de Jesus? Vamos todos à missa porque amamos Jesus e queremos partilhar a sua paixão e sua ressurreição na Eucaristia. Mas, nós amamos realmente como Jesus quer que amemos aqueles nossos irmãos necessitados?Por exemplo, em Roma, nesses dias, temos visto muitos problemas sociais, ou por causa das chuvas, que causaram tantos prejuízos a bairros inteiros, ou pela falta de trabalho, resultado da crise econômica em todo o mundo. Pergunto-me, e cada um de nós pode se perguntar: eu que vou à missa, como vivo isso? Eu me preocupo em ajudar, estar mais perto e orar por aqueles que têm esses problemas? Ou eu fico um pouco indiferente? Ou talvez me preocupo em fofocar: “você viu como ela está vestida, ou como ele está vestido?” Às vezes se faz isso, depois da missa, mas isso não se deve fazer! Deveríamos estar preocupados com nossos irmãos e irmãs que estão em necessidade, devido a uma doença, um problema. Hoje, vamos pensar nisso, vai fazer bem a nós pensar nisso, em nossos irmãos e irmãs que têm esses problemas aqui em Roma: problemas pela tragédia causada pela chuva, problemas sociais e de trabalho. Peçamos a Jesus, que recebemos na Eucaristia, que nos ajude a ajudá-los.
O segundo indício, muito importante, é a graça de ser perdoado e perdoar. Às vezes, alguém pergunta: “Por que você deve ir à igreja, se aqueles que participam regularmente da missa são pecadores como os outros?”. Quantas vezes já o ouvimos! Na realidade, quem celebra a Eucaristia, não o faz porque se considera ou quer parecer melhor do que os outros, mas, justamente, porque se reconhece carente, necessitado de ser acolhido e regenerado pela misericórdia de Deus, que se fez carne em Jesus Cristo. Se cada um de nós não se sente necessitado da misericórdia de Deus, você não se sente um pecador, é melhor não ir à missa! Vamos à missa porque somos pecadores e queremos receber o perdão de Deus, participar na redenção de Jesus, o seu perdão. O “confesso” que dizemos no início da missa não é um “pro forma”, é um verdadeiro ato de penitência! Eu sou um pecador e confesso, é assim que começa a Missa. Nunca devemos esquecer que a Última Ceia de Jesus aconteceu “na noite em que foi traído” (1 Coríntios 11:23). No pão e no vinho que oferecemos e em torno dos quais nos reunimos se renova todas as vezes o dom do corpo e do sangue de Cristo pela a remissão de nossos pecados. Temos que ir à Missa humildemente, como pecadores, e o Senhor nos reconcilia.
O último indício valioso vem da relação entre a Eucaristia e a vida de nossas comunidades cristãs. Devemos sempre ter em mente que a Eucaristia não é algo que nós fazemos, não é uma comemoração nossa daquilo que Jesus disse ou fez. Não. É uma ação de Cristo! É Cristo que age ali, no altar. É um dom de Cristo, que se faz presente e nos reúne em torno dele, para alimentar-nos com a sua Palavra e sua própria vida. Isto significa que a missão e a identidade da Igreja derivam dali, da Eucaristia, e é ali que elas tomam forma. Então nós temos que prestar atenção, uma celebração pode até ser impecável do ponto de vista exterior, bonita, mas se ela não nos leva ao encontro com Jesus Cristo, corre o risco de não trazer alimento algum ao nosso coração e a nossa vida. Através da Eucaristia, no entanto, Cristo quer entrar em nossas vidas e permear da sua graça, para que, em cada comunidade cristã haja coerência entre liturgia e vida.
O coração se enche de fé e de esperança pensando nas palavras de Jesus registradas no Evangelho: “Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54). Vivamos a Eucaristia num espírito de fé, oração, perdão, arrependimento, alegria, comunidade, preocupação com os necessitados e com as necessidades de tantos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor cumprirá o que prometeu: a vida eterna. Assim seja!
Fonte: Boletim Santa Sé