
Com sua espiritualidade aberta ao sopro do Espírito Santo, o Papa Francisco ajudou a RCC a redescobrir sua vocação essencial: ser uma presença viva do Pentecostes no mundo de hoje. Seu legado permanece como um convite a todos os carismáticos a viverem com humildade, alegria e ardor missionário a graça que receberam.
Em seu pontificado reformador, Francisco posicionou com valentia nunca vista antes, a necessidade de que toda a Igreja viva a experiência do batismo no Espírito Santo. Quando imaginaríamos uma profecia carismática sendo ministrada na presença de um sumo pontífice? Pois vivemos e registramos o momento em 2017, no Jubileu de Ouro em 2017, em que Patti Mansfield, pioneira da RCC no mundo, colocou a mensagem do Senhor:
“Levantem os vossos olhos e vejam que os campos estão brancos e prontos para a colheita (Jo 4, 35). E se vocês me obedecerem, se obedecerem a inspiração do Meu Espírito, vocês ainda verão infinitamente mais do que possam pedir ou imaginar. Vocês também verão o poder do meu Espírito descer sobre a raça humana. Eu lhes digo: os campos estão brancos para a colheita, mas Eu preciso da vossa obediência, preciso da vossa docilidade, preciso da vossa fé. E, então, vocês ainda verão maravilhas que os surpreenderão, infinitamente mais do que vocês possam pedir ou imaginar, para a Glória do Meu Nome”.
Talvez, tenha sido este um dos encontros mais marcantes do Papa Francisco com a RCC. Francisco cobrou a RCC sobre a leitura da Palavra de Deus, dizendo que antes os carismáticos eram reconhecidos por carregarem a Bíblia e que, naquele momento, não era mais assim. No evento, o Pontífice declarou:
“Cinquenta anos é um momento de vida apropriado para parar e fazer uma reflexão. É o momento da reflexão: a metade da vida. E eu diria a vocês: é o momento para seguir em frente com mais força, deixando para trás a poeira do tempo que deixamos acumular, agradecendo por aquilo que recebemos e enfrentando o novo com confiança na ação do Espírito Santo. Desejo a vocês um tempo de reflexão, de memória das origens; um tempo para deixar para trás todas as coisas juntadas pelo próprio ‘eu’, e transformá-las em escuta e acolhida jubilosa da ação do Espírito Santo, que sopra onde e como quer”.
Desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco buscou ajudar a Renovação Carismática Católica a resgatar as suas fontes fundacionais, dando orientações claras que confirmaram a identidade e essência da RCC. Em seu primeiro encontro oficial com a RCC, em 2014, Francisco falou: “Vós, Renovação Carismática, recebestes um grande dom do Senhor. Nascestes de um desejo do Espírito Santo como ‘uma corrente de graça na Igreja e para a Igreja’. Esta é a vossa definição: uma corrente de graça”.
Uma grande contribuição de Francisco para a RCC foi a insistência na retomada dos “Documentos de Malines”, organizados pelo cardeal Léon Joseph Suenens entre os anos 1970 e 1980, não apenas como incentivo para um retorno às origens, mas também como caminho à maturidade eclesial.
Em 2015, o Papa voltou a chamar a RCC de corrente de graça:
“O rio deve perder-se no oceano. Sim, se o rio não escorre a água apodrece; se a Renovação, esta corrente de graça não acabar no oceano de Deus, no amor de Deus, trabalha para si mesma e isto não é de Jesus Cristo, isto é do maligno, do pai da mentira. A Renovação vai, vem de Deus e vai para Deus”.
Francisco propôs à RCC a criação de um serviço único, em âmbito internacional, que representasse perante a Igreja todas as expressões eclesiais que nasceram da corrente de graça ao longo dos anos. Em 2019 nascia um novo organismo de serviço, o CHARIS (Catholic Charismatic Renewal International Service), um esforço de construção de unidade e comunhão dos carismáticos do mundo todo.
Nos 50 anos da RCC no Brasil, o Papa Francisco manifestou um carinho único, enviando uma carta ao Movimento Eclesial, reunido no ENF de Ouro, em janeiro de 2019, na Comunidade Canção Nova:
“No cinquentenário de presença desse Movimento no Brasil, Sua Santidade o Papa Francisco de bom grado se associa aos louvores e ações de graças que suas irmãs e irmãos carismáticos, reunidos nestes dias na cidade de Cachoeira Paulista, elevam à Santíssima Trindade pelos primeiros cinquenta anos passados a louvá-La e bendizê-La por tudo aquilo que lhes acontece e por todas as pessoas que cruzam seus caminhos, neles deixando sempre uma bênção de Deus: umas vezes luminosa como o dia, outras suspirando pela luz como a noite. Na verdade, se todos provêm do mesmo Deus e Pai, o Qual nos ama até ao ponto de entregar seu próprio Filho por nós e nos oferecer juntamente com Ele (cf. Rm 8,32), “sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que O amam” (Rm 8,28). Fruto deste discernimento no Espírito, consolida-se em nós uma “santa indiferença (…) face a todas as coisas criadas (em tudo aquilo que seja permitido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não lhe esteja proibido), de tal modo que, por nós mesmos, não queiramos mais a saúde do que a doença, mais a riqueza do que a pobreza, mais a honra do que a desonra, mais uma vida longa do que curta, e assim em tudo o resto” (FRANCISCO, Exort. Apost. Alegrai-vos e exultai, 69). Por isso, “não vos preocupeis com coisa alguma, mas, em toda ocasião, apresentai a Deus os vossos pedidos, em orações e súplicas, acompanhados de ação de graças” (Flp 4,6). Sim, “com toda sorte de preces e súplicas, orai constantemente no Espírito” (Ef 6,18). E à vossa instante oração se confia o Santo Padre, testemunha da alegria que brota permanentemente do Evangelho e que ele deseja ver transbordar na vida diária de seus irmãos e irmãs da Renovação Carismática Católica do Brasil; para tal, a todos entrega aos cuidados da Virgem Mãe, cuja “alma engrandece o Senhor e (…) se alegra em Deus [seu] Salvador” (Lc 1,47). E ao mesmo tempo que lhes agradece tudo o que fazem na Igreja, pela Igreja e por Jesus, concede-lhes extensiva a suas famílias, aos grupos de oração e comunidades de vida nova no Espírito, às paróquias e dioceses, a implorada Bênção Apostólica”.
Aos padres reunidos no Terceiro Retiro Mundial de Sacerdotes, promovido em Roma, em junho de 2015, o Papa Francisco deu uma orientação que tantas vezes já repetimos em nossos encontros:
“Peço a todos e a cada um que, como parte desta corrente de graça da Renovação Carismática, organizem Seminários de Vida no Espírito Santo em suas paróquias, seminários, escolas a fim de compartilhar o Batismo no Espírito”.
O Papa foi aplaudido ao fazer o pedido inesperado, na Basílica de São João de Latrão, porque confirmava ali o dom e a missão da Renovação Carismática.
Em um dos encontros mais marcantes com os líderes da RCC, na Sala Paulo VI, com mais de seis mil pessoas presentes, Francisco deixou a preciosa orientação: “Que compartilhe a graça, recebida no Batismo pelo Espírito Santo, com todos os membros da Igreja; que sirva a unidade do Corpo de Cristo, que é a Igreja, uma comunidade de fiéis em Cristo; e que sirva aos pobres e aos que têm mais necessidade, física e espiritual”.
Concluindo este artigo, para memorar as preciosas falas do Papa Francisco à RCC, creio que uma das frases que mais evidencia o jeito simples e humano do Cardeal Jorge Mario Bergoglio, transcrevendo sem reservas sua experiência pessoal: “Eu tive uma ‘história especial’ com vocês, porque a princípio eu não gostava do movimento, dizia que era uma escola de samba e não um movimento eclesial. Depois, como arcebispo, vi como vocês funcionavam, como enchiam a catedral durante as reuniões, e comecei a ter um grande apreço por vocês”.
Bruno Maffi
Grupo de Oração Dom Albano
Arquidiocese de Londrina – PR