“Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre as aldeias de Judá, de ti é que sairá para mim aquele que há de ser o governante de Israel. Sua origem é antiga, de épocas remotas. Por isso Deus os abandonará até o momento em que der à luz aquela que deve dar à luz” (Mq 5,1-2). Vivemos em Belém, não de Judá, mas do Pará, cidade nascida em torno do presépio, cidade que deve sempre reportar-se às suas mais legítimas origens cristãs, para ser digna do nome que recebeu e a ele ser fiel, abrindo espaço para aquele que aqui veio para ficar. Os poucos dias que nos separam do Natal sejam bem aproveitados. Nas casas, não falte o presépio. Às crianças se ensine que nascemos do Presépio e a ele devemos sempre retornar. Os presentes trocados sejam expressões de agradecimento pelo presente maior que é Jesus, recebido do Pai do Céu pelas mãos de Nossa Senhora.

Entretanto, existe um desafio latente em nosso Natal: o que fazer para que Belém seja mais Belém, Casa do Pão, lugar onde o Senhor se agrade de habitar? A Paz que os Anjos cantaram quando nasceu Jesus estará certamente entre as coisas mais importantes a serem edificadas. E esta Paz só pode chegar quando acontecer verdadeira conversão da cidade e dos homens e mulheres ao valor de cada pessoa humana. Assistimos a vida vilipendiada absurdamente, acompanhamos largas porções de nossa Grande Belém em profunda miséria. Buscamos uma defesa baseada no medo! É urgente que seja Natal, que o único Salvador seja de novo acolhido.

Com alegria e realismo preparamos de novo o Natal do Senhor aqui em Belém, e a melhor companhia é Nossa Senhora, que nestes dias chamamos Nossa Senhora da Esperança, Nossa Senhora do Bom Parto e Nossa Senhora do Ó! O estado de expectativa que as mulheres grávidas bem entendem é carregado de ensinamentos. Elas carregam dentro de si a promessa e a participação no crescimento da humanidade. Ensinam-nos o respeito pela vida em flor, a capacidade de amar o que ainda não vemos e a ternura a ser cultivada por meses a fio. Não há cena mais bela do que uma mulher grávida, pois traz consigo a vida e a esperança.

Em Maria grávida, o olhar para o futuro prometido por Deus, com a garantia de séculos de expectativa confiante nos faz recuperar com alegria tudo o que os profetas viram realizado ao longe. Acreditar naquilo que ainda não vemos com os nossos olhos é também realismo, quando estamos dependurados naquele que fez as promessas, e ele não falha. Natal se vive de modo sobrenatural. Não é possível entendê-lo e muito menos vivê-lo olhando só para a terra, pois esta está muito machucada. E aqui faz-se necessário fazer um salto qualitativo, que nos leva a enxergar o invisível, e este é mais real do que aquilo que podemos tocar com nossas mãos. A Virgem Maria apostou tudo no anúncio do Anjo que lhe disse não ser impossível o que vem de Deus. O convite que ela faz, indo à nossa frente e sendo criatura como todos nós, é a viver olhando para o Céu de Deus.

Tendo recebido a saudação do Anjo, Nossa Senhora começou a viver uma gravidez inaudita e original. Muito jovem, teve que aprender tudo, certamente ajudada por familiares. Arrumar tudo o que era necessário para o nascimento do Menino Jesus, segundo os hábitos do tempo. Parece-me encontrar aqui outra linha de ensinamento para o nosso natal, que é arrumar a casa. Uma visita que chega – e que visita! – há de ser bem acolhida. Podemos imaginar a harmonia com a qual Nossa Senhora cuidava de suas coisas. Quando enfeitamos de azul espaços destinados a homenageá-la, podemos entrever a delicadeza e a atenção com que os detalhes eram pensados. Nosso mundo carece de menos correria e atitudes atabalhoadas, mais tempo para estar com as pessoas, dedicação às tarefas diárias. E por dentro? Organizar os pensamentos, acertar os ideais com os quais viveremos o ano que vai chegar, além de uma limpeza “em regra”, feita com uma boa confissão!

Com Maria, Nossa Senhora, não houve perda de tempo. Abrindo-se para o chamado de Deus, o Espírito a conduziu a uma outra e empenhativa resposta (Lc 1,39-45), ao saber da gravidez de sua prima avançada em idade. Preparou-se para o Natal de seu Filho através do serviço, coisa que vemos também em tantas mães. Na casa de Isabel, podemos imaginá-la preparando enxoval da criança, limpando a casa, cozinhando! Treinava para ser mãe de família servindo, nas tarefas mais simples de um lar. E Natal se prepara fazendo bem e com espírito de serviço e disponibilidade o que nos cabe a cada dia, em casa ou no trabalho. E de Maria aprendemos que tudo há de ser feito com presteza e dedicação.

Pedimos com carinho a proteção de Nossa Senhora para preparar-nos bem ao Natal do Senhor: “Ó Mãe do Redentor, do céu ó porta, ao povo que caiu, socorre e exorta, pois busca levantar-se, Virgem pura, nascendo o Criador da criatura: tem piedade de nós e ouve, suave, o anjo te saudando com seu Ave!”

 

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL