Cerca de 300 servos da RCC da Diocese da Campanha/MG deram seu sim e trabalharam no sábado (4), na organização da Missa Solene de Beatificação de Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica. A cerimônia aconteceu em Baependi, no sul do estado, cidade onde a serva viveu até o fim de sua vida.
De acordo com Cleiton Oliveira, coordenador da RCC na diocese da Campanha, todas essas pessoas foram mobilizadas a partir das coordenações das dez regionais que compõem a diocese. Todos foram organizados para servir em diversas áreas como acolhida aos bispos, sacerdotes e público em geral. Os carismáticos também trabalharam orientando idosos, cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção. Ainda havia um grupo designado para ajudar no momento do ofertório da Santa Missa.
Cleiton descreve a beatificação como um momento diferente, único e especial e se alegra pela oportunidade da RCC se unir a todos os grupos, pastorais e movimentos para a realização dessa grande festa para a Igreja Católica. “Essa nova experiência mostra que a Renovação Carismática é a Igreja e que a Igreja nos acolhe enquanto movimento eclesial. Sempre digo que a Nhá Chica foi uma grande carismática. Ela vivenciava o mover do Espírito Santo através de suas ações. Temos muito a aprender com ela”, ressaltou o coordenador.
Juliedson Artur Malaquias Reis faz parte do Ministério Jovem. Ele e vários amigos saíram da cidade de Natércia para ajudar na beatificação. “É uma honra muito grande estar nesse lugar. Me sinto agraciado por Deus, com a intercessão de Nhá Chica. A Igreja está reunida aqui hoje. Aqui não fazemos parte de um único movimento, mas da Igreja inteira”, salientou o jovem.
Os servos da RCC chegaram a Baependi nas primeiras horas da manhã do sábado. Muitos deles participaram inclusive, de toda programação ao longo das últimas semanas.
A cerimônia
Os bispos começaram a se reunir no grande altar pontualmente às 15h. Ao som das vozes do coral, um a um, eles foram se enfileirando em frente ao representante do Vaticano, Cardeal Angelo Amato. Dom Diamantino Prata de Carvalho, bispo da Campanha, iniciou a leitura do pedido oficial para que Francisca de Paula de Jesus se tornasse oficialmente a primeira beata do Sul de Minas.
Por volta de 15h25, a carta do Papa começou a ser lida em idioma italiano. Nela, o Papa Francisco, atendia o desejo do bispo de Campanha e a Venerável Serva de Deus, leiga, mulata e filha de ex-escrava, era postulada a beata. Após a tradução da carta, ouviu-se do altar: “viva a nova beata Nhá Chica”. Em seguida, a salva de palmas de todos os presentes e a comemoração do público que balançava lenços brancos com a estampa da beata.
A aposentada Ana Lucia Meirelles Leite seguiu ao lado de sua neta com as relíquias de Nhá Chica. Agraciada com o milagre que tornou possível a beatificação de Nhá Chica, ela quase não segurava a emoção. “Não dá nem para descrever”, disse ela após a cerimônia. “Ver essa multidão aqui hoje que também acredita na santinha, meu coração se encheu de emoção”, completou.
O agradecimento de Dom Diamantino ao Papa por ter aceitado a beatificação da leiga Francisca encerrou a primeira parte da cerimônia. Nhá Chica entrou para o rol dos beatos da Igreja Católica encerrando o momento esperado por milhares de fiéis. Antônio Anastasia, em entrevista a equipe de Comunicação da RCC Campanha, diz estar muito honrado e emocionado em poder ver esta festa da Beatificação acontecer, sendo de grande alegria para nosso estado de Minas. Segundo a Igreja, para ser canonizada e elevada a santa, Nhá Chica precisará de mais um milagre a ser reconhecido pelo Vaticano.
Nhá Chica
Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, é a primeira beata negra do país. Leiga, ela não pertencia a nenhuma ordem religiosa. Analfabeta, não lia a bíblia, mas aplicava no dia a dia o amor ao próximo e a caridade, o que a fez ser conhecida como “Mãe dos Pobres”. Nhá Chica nasceu em São João Del Rei (MG) mas viveu a maior parte da sua vida em Baependi (MG), onde morreu no dia 14 de junho de 1895. Desde então, os relatos de cura por intercessão de Nhá Chica são vários.
O processo de beatificação começou em 1993, mas foi em 1995 que o processo ganhou um capítulo decisivo. Em julho daquele ano, a professora Ana Lúcia Leite descobriu que tinha um problema congênito no coração. Na véspera de fazer uma cirurgia, ela sentiu uma forte febre e exames posteriores revelaram que o problema havia desaparecido. Ana Lúcia havia rezado a Nhá Chica e considera que foi curada por intermédio dela.
Em 1998, o provável milagre foi enviado ao Vaticano. Em janeiro de 2011, o Papa Bento XVI aprovou as virtudes heróicas da religiosa e designou o título de Venerável a Nhá Chica. Em outubro do mesmo ano, a comissão médica da Congregação das Causas dos Santos do Vaticano aprovou o milagre atribuído a Nhá Chica, concordando que a cura não tem explicação científica. A comissão de cardeais do Vaticano atestou o milagre em junho de 2012 e no mesmo mês, o Papa Bento XVI assinou o decreto de beatificação de Nhá Chica.