Desde o ano de 2010, a RCC do Brasil vive um tempo de grande mobilização espiritual: somos chamados a reconstruir as muralhas da nossa identidade, a nos unirmos através da Palavra de Deus e das práticas espirituais e a lançar as redes da evangelização. Diante de tantos apelos, o Ministério de Formação organizou um retiro de quaresma com reflexões para diárias que têm como base as moções proféticas dadas por Deus para a RCC.  

 Abaixo, estão as propostas de reflexão para os primeiros dias de quaresma. A cada domingo, novas reflexões serão disponibilizadas pelo portal RCCBRASIL. Leia, reze, partilhe, leve para o seu Grupo de Oração e façamos juntos dessa quaresma um tempo de consertar as redes de nossas vidas.

II SEMANA DA QUARESMA

Tema: Consertando as redes – Princípio do Bem

Depois de ter nos apropriado de conceitos que nos levaram a mergulhar no principio de nossa identidade de “filhos de Deus”, nesta semana somos impulsionados pelo Espírito Santo na dimensão do princípio do bem. De maneira muito simples, porém, profunda queremos consertar as redes de nossa vida no que diz respeito “prática do bem”.   Podemos dizer “consertar as redes”, porque a passagem que esta sendo rhema neste tempo (Lucas 5,5), nos leva a refletir onde nossas redes precisam ser consertadas. Neste sentido compreendemos que Jesus está nos pedindo para pescar. Como a rede é instrumento de pesca, vamos consertá-la para pescar, mesmo onde parece não haver peixe. Se acreditarmos firmemente que nesta palavra, podemos experimentar coisas maravilhosas, mesmo se anteriormente já tenhamos tentado e nada pescado.

Domingo

Hoje é o segundo domingo da quaresma, a liturgia da Igreja nos convida a refletir sobre a “transfiguração”(Mt 17,1-9). É interessante percebermos que em outras passagens do Evangelho sempre há várias pessoas em volta de Jesus. Se observarmos na passagem de Lucas 5,1ss, o povo se comprimia para ouvir a Palavra; no sermão da montanha (Mt 5), relata-se que Jesus vendo a multidão, subiu a montanha, sentou-se e seus discípulos aproximaram dela. Na sequência, em Mt 8, afirma-se que, tendo Jesus descido a montanha, uma multidão o seguia. No mesmo capítulo, no versículo dezoito, vemos que, “no meio de grande multidão”, ordenou que O levassem para outra margem.

Enfim, podemos perceber que na passagem da transfiguração não temos uma multidão, nem doze, mas apenas três: Pedro, Tiago e João. Podemos perceber que no decorrer de nossa caminhada muitos são aqueles que vão seguindo Jesus. Se você lembrar da época de nosso primeiro encontro com Jesus, quantos estavam conosco? Também percebemos que no decorrer de nossa caminhada, vamos nos comprometendo com o Senhor, e não são muitos os que perseveram. Tomando por base a transfiguração, não é que os outros discípulos não perseveraram, mas sim que Jesus escolhe três para subir a montanha e vê-lo transfigurado. Talvez hoje, dos muitos que iniciaram a caminhada, você seja como um dos três que foi escolhido por Jesus para viver este momento especial com Ele. Aos três, Pedro, Tiago e João, foi concedida a graça de ver Jesus se transfigurando, de certa maneira, experimentaram a graça da glória, e eles foram preparados para o momento de calvário que Jesus iria passar.

Percebamos que ao ouvirem a voz de Deus dizendo “Este é meu filho muito amado, no qual pus todo meu agrado”, eles caem com rosto por terra. Reconhecem a glória de Deus, sabem então que estão diante do Senhor. Mas preste atenção a um detalhe importante: “Jesus se aproxima, toca neles e diz : ‘Levantai-vos e não tenhais medo’”.

Vamos nos apropriar deste Evangelho, que é o anuncio forte da boa nova para nós, deixemos que essas palavras possam trazer para nossas vidas a glória de Deus. Somos escolhidos porque estamos diante deste Evangelho, a transfiguração pode acontecer conosco também. Certamente se experimentarmos essa Glória, jamais vamos abandonar o Senhor. Esta é graça dada aqueles que estão a caminho, que são mais próximos de Jesus, que receberam de Jesus um chamado especial e acolheram.

Realmente Jesus se revela de maneira muito forte aos três, porque até diz “não conteis isso a ninguém até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”. Percebam, se Deus diz em primeiro momento “este é meu Filho muito amado” e agora Jesus diz “não contem até que o Filho do homem tenha ressuscitado dos mortos”, é sinal de que aos três foi revelado o que haveria de acontecer com Jesus. A glória de Deus em nossa vida revela os sinais de Deus. Hoje, baseando-se neste Evangelho, deixamos a glória de Deus entrar em nossa história, sem ter medo de colocar o nosso rosto por terra diante da realeza de nosso Deus. Façamos louvores a Deus por estarmos perseverando na caminhada, porque Ele se aproximou de nós e nos tocou. Porque sua palavra nos ordena para “levantar e não termos medo”. Se por ventura há medo te rondando diante do que é vontade de Deus para você, apresente-os a Jesus e deixe que Ele nos sustente com sua força.

Segunda-feira

Temos a oportunidade de rever nossa vida, apoiados no que Deus tem falado para nós. De maneira especial nesta semana sobre a prática do bem. Se puxarmos em nossa memória os direcionamentos dados, percebemos que na vocação de viver a vida no Espírito, nos abrimos para vivência da prática do bem.

Quando pensamos em praticar o bem, precisamos muito do auxílio do Espírito Santo, pois sofremos com tantas situações de maldade, violência, mentiras, tribulações, e muitas vezes ficamos condicionados às reclamações e até somos conduzidos a algumas práticas que não condizem com o bem.

Temos uma passagem bíblica que está nos motivando à reflexão. É do Salmo 36: “Espera no Senhor e faze o bem; habitarás a terra em plena segurança” (v. 3). Neste versículo,  vamos apresentar ao Senhor as situações que nós estamos esperando nele, pois a palavra diz “espere no Senhor, faze o bem”. Se porventura a espera está sendo difícil e nós estamos esquecendo da prática do bem, vamos reiniciar um compromisso com o Senhor de procurar fazer o bem.

“Os justos o Senhor sustenta. O Senhor vela pela vida do justo, não será confundido no tempo da desgraça e nos dias de fome será saciado” (v. 18-19). Sabemos que a Palavra de Deus é verdade, nela depositamos nossa confiança. Nestes versículos, o Senhor nos lembra que Ele sustenta os justos, vela por sua vida, não confunde no tempo da desgraça. É momento oportuno para pedir perdão ao Senhor por todas as vezes que nos momentos de provação, de tribulações deixamos a murmuração, o desânimo e o julgamento dominarem nossas ações.

“Ainda que caia não ficará prostrado, porque o Senhor o sustenta pela mão” (v. 24). Diante dessas palavras, podemos lembrar todas as vezes que o Senhor nos levantou, todas as vezes que a bondade de Deus inundou nossa vida de força, de coragem. Quando olhamos para o trecho que diz o “Senhor sustenta pela mão”, nos sentimos amparados, pois a mão poderosa de Deus nos sustenta. Vamos orar, segurando na mão poderosa de Deus, pedindo que Ele nos conduza sempre pelo caminho do bem, nos ensinando a praticar o bem, sobretudo impulsionando-nos a caminhar com segurança.

“Vem do Senhor a salvação dos justos, que é seu refúgio no tempo da provação. O Senhor os ajuda e liberta; arranca-os dos ímpios e os salva, porque se refugiam nele” (v. 39-40). Segundo o texto, portanto, fazer o bem nos alcança o favor de Deus.

Depois de ter rezado com esses versículos podemos repetir aquele que mais nos chamou a atenção. Encerramos esse dialogo com a Palavra de Deus com um louvor.

Terça feira

Queremos nos apoiar no que diz o catecismo da Igreja Católica no nº 1723: “A bem-aventurança convida-nos a purificar nosso coração de seus maus instintos e procurar o amor de Deus acima da tudo. Ensina que a verdadeira felicidade não está nas riquezas ou no bem-estar, nem na glória humana ou no poder, nem em qualquer outra obra humana por mais útil que seja, como as ciências, a técnica e as artes, nem em outra criatura qualquer, mas apenas em Deus, fonte de todo bem e de todo amor”. O convite que nos é feito pela Igreja é “purificar nosso coração”, e é interessante perceber que já aponta o que deve ser purificado em nós: “os maus instintos”. Este tempo é propicio para isso. Diante do amor de Deus, vamos mergulhar nosso coração, sem reservas, para que tudo o que temos guardado no sentido de sentimentos, de preocupações, de insatisfações, de descontentamentos, de inquietações, possa ser purificado.

Deus respeita sempre nossa decisão, Ele aguarda nossa escolha. Portanto, como sabemos que Deus nos criou para ser amor e nos realizarmos no amor, vamos, no dia de hoje, mais uma vez, decidir pelo “amor”, deixando que todas as raízes do amor cresçam em nós. Sintamos o amor de Deus lavando nosso coração, nossos sentimentos, nossa mente, nossos pensamentos, uma ótima oportunidade para deixar que nossas inclinações para o mal sejam lavadas em nós.

Apoiados no que nos ensina o Catecismo da Igreja Católica e na passagem de Filipenses 4, 8, vamos rezar: “Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos”. Por um lado, mergulhamos nosso coração no amor de Deus para limpar os maus instintos, e agora, com a Palavra de Deus, oramos clamando que este versículo de Paulo aos Filipenses aconteça em nossas ações.

Quando deixamos os maus instintos, nos abrimos para o que é bom. São Gregório nos ensina: “O objetivo da vida virtuosa é tornar-se semelhante a Deus”.

Quarta-feira

O tempo da quaresma é tempo de Penitência, de conversão. Como estamos refletindo sobre a prática do bem, é importante perceber que, ao reconhecer em nós o que não está de acordo com o bem, significa que podemos estar apoiados no que é mal. Num aspecto bem prático, o que nos auxilia neste caminho de conversão é justamente reconhecer onde podemos melhorar. Acontece que muitas vezes até sabemos o que precisa ser melhorado em nós, mas encontramos dificuldades por causa de nossas próprias fraquezas. Como já é de nosso conhecimento, nossa Igreja nos presenteia com o sacramento da reconciliação. Que tal aproveitarmos este tempo para buscar neste sacramento a graça da reconciliação: consigo mesmo, com Deus e com os irmãos?

Por falar em sacramento da reconciliação, o Catecismo da Igreja Católica nos lembra o sentido da penitencia que recebemos no momento da confissão. Gostaria de partilhar com você, para que juntos possamos nos apropriar melhor de todas essas graças que podemos receber. Diz assim: “A penitencia pode consistir na oração, numa oferta, em obras de misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, sacrifícios e principalmente na aceitação paciente da cruz que temos para carregar. Essas penitências nos ajudam a configurar-nos com Cristo que, sozinho, expiou nossos pecados uma vez por todas” (CEC 1460).

Que graça, meus irmãos, podemos receber: além de sermos perdoados pelos pecados, para vencer nossas fraquezas, temos a oportunidade de nos penitenciarmos. O propósito de Deus para nós nesta semana é crescermos na prática do bem, continuamos orando pedindo a ação do Espírito Santo em nossa vida, ensinando-nos a viver o evangelho, modelando nossas ações para o bem. Aproveite também para realizar neste tempo uma boa confissão.

Quinta-feira

O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 1704: “A pessoa participa da luz e da força do Espírito divino. Pela razão é capaz de compreender a ordem das coisas estabelecida pelo Criador. Por sua vontade, ela é capaz de ir ao encontro de seu verdadeiro bem. Encontra sua perfeição na busca e no amor da verdade e do bem”.

Através da graça do Espírito Santo somos iluminados para compreender a ordem de tudo que é criado por Deus. Neste dia, podemos perceber que tudo que Deus criou para nós é um dom Dele para nossa vida. Quando esta verdade penetra nosso ser, passamos a nos relacionar melhor com todas as coisas, seja o ser humano ou outra obra criada por Deus. Quem nos capacita na razão para vivermos como filhos e nos relacionarmos com tudo nesta dimensão é a força do Espírito Santo.

Vamos orar, pedindo ao Espírito Santo que nos ilumine e dê força. Pedir que nos ilumine para enxergarmos e compreendermos que toda criação de Deus é dom para nós, o que Ele nos dá é dom para nossa vida. Pedir força para amar, para se deixar ser amado. Refletindo sobre isso, percebemos que, deixando Deus nos conduzir, somos aprimorados para realizar a sua vontade. Com toda abertura de coração, peçamos para que o Espírito Santo nos leve cada vez mais a “buscar o amor, a verdade e o bem”. Lembrando sempre que Deus nos fez sua imagem e semelhança, portanto, se Deus é Amor, somos movidos, impulsionados, motivados a viver o amor, a verdade e o bem. Nosso coração foi criado para amar, e desta forma que nos realizamos: amando. A vivência do amor nos leva a querer praticar o bem; a prática constante do bem nos leva a viver de maneira virtuosa.

Uma das maneiras de retomar nossa vivência quanta a prática do bem é assumindo que somos criados para ser amor, reconhecendo que muitas vezes nossas ações de distanciaram dessa prática. Por isso, podemos, com o auxilio do Espírito Santo, recorrer a palavra de Deus em 2Cor 5, 19-20, que diz: “Porque é Deus que, em Cristo, reconciliava consigo o mundo, não levando em conta mais os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação. Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por esse intermédio. Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!”. Se queremos, na liberdade de nossa vontade, exercer o desejo de Deus em nós, vamos nos aproximar de Deus reconhecendo quem é Ele, portanto reconciliando com a Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, nosso criador, redentor e santificador, com o único propósito de praticar o bem.

Sexta-feira

O Catecismo da Igreja Católica nos diz, nos números 1730 e seguintes: “Deus criou o homem dotado de razão e lhe conferiu a dignidade de uma pessoa agraciada com a iniciativa e domínio de seus atos. A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto de praticar atos deliberados. A liberdade é no homem uma força de crescimento e amadurecimento na verdade e na bondade. Quanto mais praticar o bem, mais a pessoa se torna livre. Não há verdadeira liberdade a não ser a serviço do bem, da verdade e da justiça. A escolha da desobediência e do mal é um abuso e conduz à escravidão do pecado”.

Irmãos, percebemos o quanto o ser humano busca a liberdade, mas, muitas vezes, não tem a compreensão do que seja realmente “liberdade”. Hoje somos agraciados por Deus a refletir que “quanto mais praticar o bem, mais a pessoa se torna livre”. Se entrarmos nesta perspectiva, significa que a prática do mal me escraviza.

Deus nos criou para vivermos em liberdade. Ele mesmo, na loucura do seu amor para conosco, nos deixa livres na escolha do bem ou do mal. Sabendo de nossas dificuldades, Deus nos presenteia com Sua Palavra, para refletirmos e orarmos com ela. Veja o que São Paulo instrui na carta aos Romanos 9,17-21: “Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens. Se for possível, quanto depender de vós, vivei em paz com todos os homens. Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mais deixai agir a ira de Deus, porque esta escrito: a mim a vingança, a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Dt 32,35). Se o teu irmão tiver fome, dá-lhe de comer, se tiver sede dá-lhe de beber. Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça (Pr 25,21). Não te deixas vencer pelo mal, mais triunfa do mal com o bem”. Façamos nossa oração pessoal com esta Palavra.

Sábado com Maria

De acordo com nossa caminhada nesta quaresma, todos os sábados, estamos orando com a Virgem Maria, e de maneira especial podemos contar e muito com o auxílio dela, pois em sua vida vemos claramente a prática do bem. Ela se fez escrava de Deus e foi livre em tudo. Na vida dela, percebemos a disposição em fazer o bem. Para ela o exercício do bem era feito com facilidade.

Para nos enriquecer vamos percorrer neste dia o caminho do calvário com Maria. Em cada mistério deste terço que vamos rezar, paramos um instante para refletir na entrega de Maria e na disponibilidade de deixar de praticar o bem mesmo em momento de maior dor, quanto vê seu filho sendo conduzido a morte.