No dia 29 de abril a Igreja celebra a festa litúrgica de Santa Catarina de Sena. Em um período de recentes atentados a templos e à fé católica lembrar e celebrar o testemunho de uma das quatro mulheres, entre os 36 doutores da Igreja, é para nós um exercício espiritual mais do que propício, necessário!
A Igreja declara um santo como doutor não por um título acadêmico, mas, quando este possui um ensinamento teológico de grande importância para todos. Santa Catarina foi a vigésima quinta filha de uma família piedosa. Seu chamado à santidade veio desde a mais tenra idade. Aos cinco anos subia os degraus de sua casa, espontaneamente, de joelhos, rezando uma Ave Maria. Aos sete, consagrou sua virgindade a Nosso Senhor e aos 12, recusou o matrimônio para viver uma vida entregue unicamente ao amor de Deus, com quem adquiriria um casamento místico, onde o próprio Cristo lhe pôs no dedo um anel. Esta decisão lhe rendeu grandes lutas contra tentações. Aos 16 anos ingressou na Ordem Terceira de São Domingos e aos 20 anos, Santa Catarina dedicou-se incansavelmente aos cuidados dos doentes atingidos pela grande peste na Itália.
Em seu apostolado, Santa Catarina exortava os ímpios a se converterem e lutava para extinguir ódios e vinganças. Por este motivo, Santa Catarina de Sena é invocada não somente como Padroeira dos enfermeiros, mas contra as tentações, assim como para desfazer inimizades. Foi de Santa Catarina a missão confiada por Deus para unir a Igreja, fazendo com que o Papa Gregório XI saísse de seu exílio em Avinhão (FR) e retornasse para Roma (IT), acabando assim com o cisma no Ocidente. Entre os anos de 217 e 1449, a igreja sofreu ataques com 42 antipapas, e no período de Santa Catarina, o antipapa Constantino II (767-768) combatia contra o pontificado de Urbano VI. Ela permaneceu fiel ao Sumo Pontífice e com suas correspondências à cardeais, padres e autoridades intercedia para que a Igreja permanecesse unida à Urbano VI. A santa doutora chamava o Papa o “doce Cristo sobre a Terra”.
Ela reuniu a perfeição da fé e da caridade em sua vida. Grande mística, ela possuía momentos de êxtase. Na Quaresma de 1371, Santa Catarina fez 55 dias de jejum, alimentando-se apenas da Sagrada Eucaristia. E manteve-se alegre e em perfeita saúde. Recebeu no final de sua vida os estigmas de Cristo e a coroa de espinhos de Nosso Senhor. A doutora da Igreja era analfabeta, porém, em seus êxtases espirituais, ditava cartas ao Papa, a Cardeais, padre e a leigos. Foram mais de 400 correspondências e 26 orações, que ditava aos seus filhos espirituais, onde a mais famosa e importante, que lhe rendeu a nomeação de doutora da Igreja, foi o “Diálogo”, escrita em outubro de 1378. A obra foi inteiramente ditada em êxtase e durou cinco dias sendo escrito e uma média de 5 horas de narração por dia, chamado “Tratado da Divina Providência”. No “Diálogo”, a santa descreve três pedidos de Deus: 1- Adquirir o conhecimento da verdade para si; 2- que Deus fizesse misericórdia para o mundo; 3- Que Deus viesse em auxílio da Igreja e que a Providência Divina se estendesse a todas a coisas.
Nossa! Quanta coisa! Mas, não poderia terminar sem convidar o leitor a assumir comigo o desejo de ser um incendiário da santidade no mundo. No ano de 2000 eu participava de meu primeiro Encontro Nacional de Jovens (ENJ) da RCC e uma frase de Santa Catarina de Sena ficou guardada como um dos momentos mais marcantes: “Se fordes aquilo que deveis ser, ateareis fogo ao mundo inteiro”. Ela foi dita no encerramento do Jubileu dos jovens, em 20 de agosto daquele ano, pelo Papa João Paulo II, que havia nomeado aquela doutora da Igreja como uma das seis padroeiras da Europa. O local do pedido, Roma e o clamor vindo do Papa, não poderiam ser mais significativos. Porém, eu, que recém havia acendido a chama da fé, a partir da experiência do Batismo no Espírito Santo, só compreendia que aderir a Cristo e viver inflamada pela graça de Deus deveria ser algo determinante em minha vida e que isso afetaria a sociedade.
Anos depois, por ocasião de minha entrada no mestrado em Comunicação, em 2016, recorria novamente à santa, quando pedia a intercessão das doutoras da Igreja – Teresa de Ávila, Teresinha de Jesus, Santa Catarina de Sena e Santa Hidelgarda – pelo bom êxito de meus estudos. Ao final da dissertação, a partir do aprofundamento dos conceitos de midiatização da religião e do catolicismo midiático, entre os achados da pesquisa, descobri que o velho testemunho, considerado um dos primeiros meios de comunicação social da Igreja, mesmo midiatizado, era ainda o principal veículo de transmissão da fé católica.
Lembrando a vida de Santa Catarina de Sena, recordei o chamado do Papa Francisco na exortação apostólica sobre a santidade para o tempo atual, “Gaudete et exsultate”: “Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade, porque ‘esta é, na verdade, a vontade de Deus: a [nossa] santificação’ (1 Ts 4, 3). Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho” (nº 19).
Incendiar o mundo, testemunhar, sermos santos. Três conexões em tempos distintos de minha vida, mas que convido o leitor a também seguir, com a intercessão poderosa de Santa Catarina de Sena. Sob o pedido do “doce Cristo sobre a Terra”, Papa Francisco, que nos confirma que nossa missão e projeto do Pai: sermos santos na História para o tempo atual. E se formos o que precisamos ser, atearemos fogo no mundo!
Virgínia Diniz Ferreira
Grupo de Oração Imaculada Conceição – Arquidiocese de Santa Maria (RS)
Coordenadora Diocesana Ministério de Comunicação Social
Membro da Comissão Nacional de Comunicação RCCBRASIL