Conforme pedido do Papa Francisco, estamos no ano de São José, e como cristãos e católicos, queremos contemplar no pai nutrício de Nosso Senhor Jesus Cristo, a santidade promanada de Deus. Pois, Deus Pai o escolheu para esse ofício e São José exerceu o encargo de ser marido da Virgem Maria, como seu guardião e protetor, e como pai nutrício de Jesus de forma santa. Como a Sagrada Escritura demonstra isso? Quando José é escolhido para essa missão e não entende porque Maria está grávida, e quer deixá-la em segredo, o Evangelista Mateus o proclama justo. Para nós, pode ser um adjetivo corriqueiro, mas é a maneira de proclamá-lo santo. Pois, são os grandes homens e santos que são proclamados justos, isto é, aqueles que possuem a justiça de Deus dentro do próprio coração, tais como: Abel (Cf. Mt 23,35), João Batista (Cf. Mc 6,20), Simeão (Cf. Lc 2,25), o próprio Jesus (Cf. Mt 27,19; At 3,14) e a fonte de toda santidade, o Pai (Cf. Jo 17,25). A partir desse epíteto podemos contemplar as virtudes de São José, dentre elas, aquelas que nos trazem a Carta Apostólica Patris Corde, do Papa Francisco, por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como Padroeiro da Igreja Universal.

São José como um homem justo, torna-se um bom pai, um pai que ama e que é amado. É um pai que ama porque cuidou desde o nascimento de Jesus, “e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia um lugar para eles na sala” (Lc 2,7), ouvindo a Deus preserva sua família do mal, advindo da perseguição de Herodes (Cf. Mt 2,13-14) e trabalhou como carpinteiro, o artífice da madeira (tecton) e sustentou a Maria e Jesus (Cf. Mt 13,55). Como o quarto mandamento preceitua de honrar pai e mãe, e como casado que era com Maria, foi respeitado e amado, obedecido por Jesus (Cf. Lc 2,51) e pela sua esposa com quem se comprometeu e ela com José (Cf. Mt 1,18-25).

Como diz o Evangelho Jesus crescia «em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52). Para um ser humano crescer, não basta somente alimentação e habitação, mas também relacionamento humano sadio e afetivo que leva o ser humano a ser plenamente humano. Assim, se Jesus cresceu plenamente, teve um pai que lhe deu todo afeto e presença, para que na segurança do lar, pudesse se desenvolver. Também, São José criou um ambiente piedoso, como um típico lar judaico do seu tempo, para propiciar esse crescimento em graça do Filho de Deus encarnado. Jesus adulto tinha uma afetividade sadia, e essa afetividade obviamente teve a contribuição do seu pai terreno, São José, pois se Jesus acolheu plenamente o afeto da pecadora arrependida, foi porque foi educado para isso: “E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me derramaste água nos pés; ela, ao contrário, regou-me os pés com lágrimas e enxugou-os com os cabelos” (Lc 7,44). E também Jesus experimentou a ternura de São José, porque se na parábola do filho pródigo, Jesus apresenta um pai que acolhe com abraço e beijos um filho pecador que volta, foi porque também experimentou tal ternura em seu próprio pai terreno: “Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se lhe ao pescoço e o beijou” (Lc 15,20). Portanto, foi São José que ensinou Jesus a ter ternura e a acolher a ternura.

Contemplamos que Jesus foi obediente até a morte e morte de cruz (Cf. Fp 2,8). Ele é o Verbo encarnado, e também foi educado para a obediência, por seu pai terreno São José, que foi um exemplo de obediência para Jesus. Em meio a perseguições, José foi obediente a Deus, nas revelações e sonhos, a ponto de modificar suas decisões e fazer aquilo que era a vontade de Deus (Cf. Mt 1,18-24). Mas prestemos atenção, não foi uma obediência automática, mas sim livre e pessoal, José estava cogitando deixar Maria em segredo ao saber que ela estava grávida, para evitar que, pela lei, ela fosse apedrejada estando grávida antes do casamento (Cf. Dt 22,29). Interessante, que enquanto assim em seu interior pensava, houve a intervenção de Deus, para revelar-lhe que o que acontecia no seio de Maria era obra do próprio Deus. Deus quer associar a seus projetos pessoas livres, e na liberdade e na justiça, São José enquanto assim decidia, acolheu a Palavra de Deus e foi obediente, como Maria, que disse “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).

Nessa perspectiva de obediência, São José acolheu de bom grado a sua esposa Maria Santíssima, e não levou a frente o plano de Deus em murmuração ou com desdém. “José, Filho de Davi, não temas…” (Mt 1, 20) São José estava com medo, e com a graça de Deus superou esse medo e acolheu Maria. E Jesus foi também acolhido plenamente por São José, que lhe deu o nome, a ascendência davídica e finalmente a profissão de carpinteiro (Cf. Mt 13,55), pela qual Jesus é reconhecido socialmente. Como mencionamos, São José teve medo, mas superou esse medo e cooperou na obra da Criação. Quando das ordens de Deus, não titubeou, não demorou, mas como o servo da parábola dos talentos, prontamente obedeceu (Cf. Mt 25,16), assim também São José, na obediência sem demora, se levanta para cumprir a ordem de Deus (Cf. Mt 1, 24; 2, 14.21). Enfrenta problemas de moradia para sua família (Cf. Lc 2, 6-7), luta pela sobrevivência do seu filho perante a perseguição e como refugiados vão todos para o Egito (Cf. Mt 2, 13-14). São José é o Instrumento da Providência de Deus que nós também somos chamados a ser na vida das pessoas em torno de nós.

São José foi um pai trabalhador (Cf. Mt 13,55), mas foi um trabalhador no escondimento, ele não se arrogou, nem demonstrou orgulho, mas no silêncio da casa em Nazaré, como qualquer pai de família, usou suas mãos para sustentar a Mãe de Deus e o Filho de Deus encarnado. Num mundo em que o aparecer, o ostentar em redes sociais é tão evidenciado, São José é o exemplo de santidade no silêncio das palavras e da vida. Como diz o Papa Francisco, na Patris Corde, foi um pai na sombra. Isso também nos ajuda a ver como deve ser a nossa posição de pai e mãe, nunca instrumentalizando nossos filhos, tornando-os nossos troféus, mas na sombra educá-los para o amor e a liberdade.

E nós, qual a nossa posição quanto ao Santo homem José?

Neste ano dedicado a São José, queremos, imitar suas virtudes e pedir sua intercessão. A amizade eterna com esse pai amoroso de Jesus, deve levar cada um de nós a crescer na fé, na esperança e na caridade. E nesse ponto queremos pedir o auxílio de Santa Teresa de Jesus, que quando fundava um mosteiro sempre o consagrava a São José. Assim ela nos diz:  “Comecei a mandar celebrar missas e fazer orações aprovadas, (…) Tomei por advogado e senhor o glorioso São José, encomendando-me muito a ele. Vi com clareza que esse pai e senhor meu me salvou, fazendo mais do que eu podia pedir, tanto dessa necessidade como de outras maiores, referentes à honra é perda da alma. NÃO ME LEMBRO HOJE DE TER-LHE SUPLICADO ALGO QUE ELE NÃO TENHA FEITO. Espantam-me muito os grandes favores que Deus me concedeu através desse bem-aventurado Santo, e os perigos, tanto do corpo como da alma, de que me livrou. (…) esse Santo glorioso, a minha experiência mostra que Deus permite socorrer em todas (as necessidades), querendo dar a entender que São José, por ter-Lhe sido submisso na terra na qualidade de pai adotivo, tem no céu todos os seus pedidos atendidos. Eu queria persuadir todos a serem devotos desse glorioso Santo, pela minha grande experiência de quantos bens ele alcança de Deus (…). Há alguns anos, sempre lhe peço, em seu dia, alguma coisa, nunca deixando de ser atendida. Se a petição vai algo torcida, ele a endireita para maior bem meu. Só peço, pelo amor de Deus, que quem não me crê o experimente, vendo por experiência o grande bem que é encomendar-se a esse glorioso patriarca e ter-lhe devoção” (Livro da Vida 6,6-9).

Se assim o é, pelo testemunho de uma doutora da Igreja, e vendo o flagelo do pecado da luxúria, a instrumentalização das crianças e das mulheres, a permissividade dos costumes peçamos pela intercessão de São José, o Castíssimo esposo de Maria Santíssima, a graça da castidade para o nosso Brasil! Creio que chegou a hora de não mais sermos vistos como um país permissivo e lascivo, rezemos:

Senhor, pela intercessão de São José, que nos conservemos intactos de toda impureza, para que, com espírito puro e corpo casto, sempre sirvamos fielmente a Jesus e a Maria, por isso, preservai a inocência das crianças, conservai os jovens no namoro casto, os casados na fidelidade perfeita e a todos a graça de uma castidade consagrada a Vós. Amém.

 

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Padre Micael Moraes

Instituto Missionário Servos de Jesus Salvador (Salvistas)

 

 

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