A primeira leitura da festa de São Marcos foi escolhida por causa da expressão “meu filho” usada por São Pedro para se referir ao segundo evangelista, mas também pelas palavras: “Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que a vossa comunidade de irmãos, espalhada pelo mundo, suporta os mesmos padecimentos” (v. 9). Marcos é, de modo especial, o evangelista da fé. Insiste em que deve ser vivida mesmo no meio da obscuridade. O evangelista tem um sentido muito vivo dessa experiência. Mais do que desenvolver os ensinamentos do Mestre, preocupa-se em acentuar a manifestação do Messias crucificado. Apresenta-nos Jesus rodeado de pessoas que, depois de um primeiro entusiasmo, O recusam. Os próprios Doze, escolhidos por Ele, não O compreendem: têm o coração endurecido, fechado à Sua mensagem, à Sua Pessoa. Mesmo Pedro, que reconhece Jesus como Messias, não quer aceitar o caminho que Ele escolheu percorrer, o caminho da cruz. O centro do evangelho de Marcos é o paradoxal testemunho de fé do centurião, que reconhece em Jesus, que morre na cruz, o Filho de Deus. Marcos compreende a realidade profunda do itinerário doloroso de Jesus e apresenta-o à luz da fé, definitivamente consolidada na ressurreição. O segundo evangelho ajuda-nos a viver na fé e a alimentá-la no sofrimento e a apoiá-la unicamente em Cristo, sem procurar provas humanas.

A reflexão de Marcos não é acadêmica, mas existencial e vital. O Evangelho é Deus (cf. Mc 1, 14); contém e manifesta o projeto salvífico que o Pai quer realizar por meio do Filho em favor de toda a humanidade. É do coração de Deus que brota a “Boa Nova” capaz de encher de alegria todos os corações humanos que estejam disponíveis a acolher o dom da salvação. O “Evangelho é de Jesus Cristo” (cf. Mc 1, 1), quer dizer, é Jesus o Cristo, o Filho de Deus. Mas é também o memorial de tudo quanto Jesus fez e disse. Numa palavra: para Marcos, o Evangelho é tudo, e tudo é Evangelho.

Lembremos as nossas Constituições: “A missão em sentido estrito sempre esteve presente entre nós e continua a conservar para nós uma importância particular” (Cst 33). A nossa admiração e atenção por aqueles que hoje são “missionários” continuam bem vivas. Esses confrades deixaram a sua terra, a sua gente, para adotar uma outra, em favor da qual desenvolvem todas as atividades de apostolado (cf. Cst 15). “Reconhecemos como parte importante da nossa missão reparadora todo o trabalho que desde os princípios da Congregação muitos de nós desenvolvem na atividade missionária, em vista do anúncio do Evangelho e em solidariedade com os povos, cuja situação é particularmente difícil” (Documenta XIV).

Oração

Abre, Senhor, os meus ouvidos para que se encham do tesouro do teu Evangelho, porque a minha vida, iluminada e confortada pela tua Palavra, terá sentido pleno e duradouro. Faz-me acolher o Verbo da verdade presente no teu Evangelho. Abre, Senhor, a minha boca para que a Boa Nova acolhida, se torne proclamação da tua glória e mensagem de sentido e esperança para os irmãos. Que a minha vida se abra a Ti, se encontre contigo, que vens ao meu encontro todos os dias na Palavra que o teu Evangelho encerra e me dá. Amém!

———-
Fonte: Dehonianos