Os dois apóstolos são pilares para compreender a fundação e continuidade da Igreja. Mas o caminho percorrido por São Paulo e São Pedro se deu com a união de duas realidades tão distintas que pareciam estar separadas por um abismo, inicialmente.
Há grande diferença na formação dos dois profetas. É conhecida a formação simples de Pedro, pescador, não era um intelectual. Saulo, que depois da conversão admite o nome Paulo, tem uma sólida formação judaica farisaica, possuía privilégios de cidadão romano, detinha o conhecimento das leis e era reconhecido por ser um grande cumpridor delas, especialmente as leis judaicas, seguindo à risca sua orientação de fariseu.
Pedro conheceu Jesus pessoalmente e fez parte do grupo dos doze apóstolos. Paulo só conheceu o Cristo ressuscitado, depois de muito perseguir os primeiros cristãos. Foi em viagem empreendida para prender fiéis que o próprio Jesus, envolvido em uma grande luz, interpela-o: “Saulo, por que me persegues.”(At 9, 4) A experiência é tão forte que ele perde a visão, e só a recupera três dias depois. Depois disso, em vez de perseguidor, ele se torna o maior pregador conhecido do evangelho de Jesus, o Cristo.
Pedro, mesmo vivendo com Jesus, teve sua ocasião de negar ao mestre por três vezes seguidas. Mas tocado de profundo arrependimento, chorou amargamente. Os dois líderes têm uma profunda experiência com Jesus a partir de seus erros, mas não ficam paralisados em torno dos atos, em si, completamente condenáveis.
A escolha do Cristo pelos dois apóstolos demonstra não ser ‘apesar’ da humanidade deles, mas sim, ‘por causa’ dessa humanidade. A negação de Pedro o constrangeu e o fez cair em si, incorporando a dimensão dolorosa que a escolha pelo Cristo pode gerar, não somente a dimensão de grande alegria compartilhada com o mestre na maioria dos dias vividos com ele.
Paulo, em sua experiência de perseguição, encontra a dor do perseguido. Essa dor culmina em um coração contrito. O coração contrito já apresenta um novo homem. E assim, de Pedro, Jesus fez a base da Igreja nascente e primeiro líder da Igreja. De Paulo, Jesus fez o comunicador a outras culturas. A vivência dos apóstolos, assim como a nossa, é como a ostra, que somente depois de ferida é capaz de produzir pérola. Hoje vemos a pérola, mas ela é o belo resultado de uma ação do Cristo na carne e na história de cada um dos apóstolos, assim como faz na nossa vida hoje.
O chamado é para cada um, conforme sua realidade, potencialidades, limites, e até mesmo as fraquezas. Ações extraordinárias podem até acontecer através de nós, mas é o próprio Cristo que as realiza. O Cristo chama a pessoa, transcende a carne e faz da miséria o próprio canal de transformação da pessoa e do ambiente que ela toca.
Leandro P. Gomes
Profissionais do Reino- Araçuaí (MG)