Bento XVI desvelou hoje o segredo da alegria no sofrimento, na homilia que pronunciou na Basílica Vaticana, durante a Missa que celebrou Nossa Senhora de Lourdes, 18º Dia Mundial do Doente.

Para isso, referiu-se à “maternidade da Igreja”, que reflete o “amor atento de Deus” ao acompanhar e consolar os que sofrem.

É uma “maternidade que fala sem palavras, que suscita nos coração o consolo, uma alegria íntima, uma alegria que, de maneira paradoxal, convive com a dor, com o sofrimento”, explicou.

E então perguntou: “O sofrimento aceito e oferecido, a partilha sincera e gratuita, não são talvez milagres do amor?”.

O Papa destacou “o valor de enfrentar os males desarmados – como Judite –, com a única força da fé e da esperança no Senhor”.

E indicou: “Por tudo isso, vivemos uma alegria que não esquece o sofrimento; ao contrário, inclui-o”.

“Dessa forma, os doentes e todos os que sofrem são, na Igreja, não somente destinatários de atenção e cuidados, mas – antes e sobretudo – protagonistas da peregrinação da fé e da esperança, testemunhas dos prodígios do amor, da alegria pascal que floresce da cruz e da ressurreição de Cristo”, afirmou.

E acrescentou: “Quem permanece muito tempo perto das pessoas que sofrem, conhece a angústia e as lágrimas, mas também o milagre da alegria, fruto do amor”.

O realismo da esperança

Referindo-se à esperança, Bento XVI indicou como a passagem da Carta de Tiago, proclamada na celebração de hoje, “convida a esperar com constância a vinda já próxima do Senhor”.

Para o pontífice, isso “reflete a ação de Jesus, que, curando os doentes, mostrava a proximidade do Reino de Deus”.

Assim, “a doença é vista na perspectiva dos últimos tempos, como realismo da esperança típica do cristianismo”, explicou.

Referindo-se à liturgia do dia, o Papa mostrou a prolongação de Cristo em sua Igreja: “É sempre Ele quem age, mediante os presbíteros; é seu próprio Espírito que opera mediante o sinal sacramental do óleo; é a Ele a quem se dirige a fé, expressada na oração”.

Sacerdotes e doentes

Bento XVI também destacou, neste Ano Sacerdotal, “o vínculo entre doentes e sacerdotes, uma espécie de aliança, de ‘cumplicidade’ evangélica”.

“Ambos têm uma tarefa: o doente deve ‘chamar’ os presbíteros, e estes devem responder, para atrair sobre a experiência da doença a presença e a ação do Ressuscitado e do seu Espírito”, explicou, destacando também a importância da pastoral dos doentes.

O Papa indicou que, “quando a Palavra de Deus fala de cura, de salvação, de saúde do doente, entende estes conceitos em sentido integral, jamais separando a alma do corpo”.

“Um doente curado pela oração de Cristo, mediante a Igreja, é uma alegria na terra e no céu, é uma primícia da vida eterna”, disse.

A Igreja e os doentes

Hoje, dia em que se comemora também o 25º aniversário da fundação do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, o Papa destacou seu sentido e dirigiu palavras de agradecimento a todos os que trabalharam nele.

“Instituindo um dicastério dedicado à pastoral da saúde, a Santa Sé quis oferecer sua própria contribuição para promover um mundo capaz de acolher e cuidar dos doentes como pessoas”, afirmou.

“Quis, de fato, ajudá-los a viver a experiência da doença de forma humana, sem negá-la, mas dando-lhe um sentido”, continuou.

Bento XVI recordou que a Igreja sempre mostrou uma solicitude especial pelos que sofrem e destacou que “disso dão testemunho milhares de pessoas que se dirigem aos santuários marianos para invocar a Mãe de Cristo, e encontram força e alívio”.

Falou de Maria, concretamente da visita à sua prima Isabel, afirmando que “no apoio oferecido por Maria (…), vemos prefigurada toda a ação da Igreja em apoio da vida que precisa de cuidados”.

Também se referiu a “tantos santos e santas da caridade”, em particular “os que consumiram sua vida entre os doentes e os que sofrem, como Camilo de Lellis e João de Deus, Damião de Veuster e Benito Menni”.

O sentido profundo do sofrimento

O pontífice concluiu sua homilia com palavras da carta apostólica de João Paulo II, Salvifici doloris: “Cristo ensinou o homem a fazer bem com o sofrimento e, ao mesmo tempo, a fazer bem a quem sofre. Sob este duplo aspecto, revelou cabalmente o sentido do sofrimento”.

Na Missa de hoje, precedida pela chegada à basílica da relíquia de Santa Bernadette Soubirous, participaram, entre outros, peregrinos e doentes da UNITALSI, uma associação italiana dedicada a levar doentes a Lourdes.

Eles concluíram, no final desta tarde, as celebrações do Dia do Doente com uma procissão do Castelo de Santo Ângelo até a Praça de São Pedro, pela Via della Conziliacione.

No final da tarde, estava previsto que o Papa saísse à janela dos seus aposentos para abençoar os fiéis e doentes reunidos na Praça de São Pedro.