“O bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja”. Com essa frase forte e profética, o Papa Francisco inicia o segundo capítulo da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, no qual ele vem nos apresentar uma radiografia d realidade das famílias e do seu desafio de ser nesse mundo um agente de transformação da sociedade.
É interessante perceber que quando se fala de realidade das famílias nos dias de hoje, a primeira ideia que nos vem são os aspectos negativos, e o Papa Francisco inicia esse capítulo justamente nos mostrando que existem aspectos positivos acontecendo nas famílias dos dias de hoje, depois, sim, ele irá nos apresentar os negativos e seus desafios.
No número 32, o papa vai nos dizer que: “uma realidade doméstica com mais espaços de liberdade, com distribuição equitativa de encargos e responsabilidades e tarefas. Valorizando mais a comunicação pessoal entre os esposos, contribui-se para humanizar toda vida familiar”. Essa participação maior dos homens e filhos nas tarefas do lar, maior comunicação entre os esposos e uma humanização mais profunda da vida familiar é fruto da presença do Espírito Santo conduzindo os membros da família para uma compreensão mais profunda do sentido real da vida em família.
Papa Francisco também nos fala de aspectos positivos que se não forem bem administrados pela família, podem causar desordens na formação dos seus membros. “Por exemplo, aprecia-se uma personalização que aposte na autenticidade em vez de reproduzir comportamentos prefixados. É um valor que pode promover as diferentes capacidades e a espontaneidade, mas, se for mal orientado, pode criar atitudes de permanente suspeita, fuga dos compromissos, confinamento no conforto, arrogância. A liberdade de escolher permite projetar a própria vida e cultivar o melhor de si mesmo, mas, se não se tiver objetivos nobres e disciplina pessoal, degenera numa incapacidade de se dar generosamente” (Amoris Laetitia 33).
O papa também denota que em nosso tempo temos um maior sentido de justiça, mas adverte para o perigo de transformar os cidadãos em clientes que só exigem o cumprimento de serviços.
“No fundo, hoje é fácil confundir a liberdade genuína com a ideia de que cada um julga como lhe parece, como se, para além dos indivíduos, não houvesse verdades, valores, princípios que nos guiam, como se tudo fosse igual e tudo se devesse permitir. Neste contexto, o ideal matrimonial com um compromisso de exclusividade e estabilidade acaba por ser destruído pelas conveniências contingentes ou pelos caprichos da sensibilidade. Teme-se a solidão, deseja-se um espaço de proteção e fidelidade mas, ao mesmo tempo, cresce o medo de ficar encurralado numa relação que possa adiar a satisfação das aspirações pessoais.”(Amoris Laetitia34)
Enfim, na Exortação Amoris Laetitia, a Igreja apresenta os grandes problemas e desafios das famílias no mundo atual, como o individualismo, o ritmo da vida atual, o estresse, a organização social e laboral, o relativismo, a ideologia do descartável, a ideologia de gênero, e tantas outras, que demandaria um tempo muito maior para sua discussão.
Mas o que fazer diante de tudo isso?
Sabemos que as realidades e os desafios da família nesse tempo são muito grandes, mas o papa nos convida a não cairmos na armadilha das lamentações, dos murmúrios, do desânimo e vem nos dizer que: “As realidades que nos preocupam, são desafios. Não caiamos na armadilha de nos consumirmos em lamentações auto defensivas, em vez de suscitar uma criatividade missionária. Em todas as situações, a Igreja sente a necessidade de dizer uma palavra de verdade e de esperança. (…) Os grandes valores do matrimônio e da família cristã correspondem à busca que atravessa a existência humana (…) um apelo para libertar em nós as energias da esperança, traduzindo-as em sonhos proféticos, ações transformadoras e imaginação da caridade” (Amoris Laetitia57).
Somos uma geração de famílias geradas no Batismo no Espírito, e como fruto desse batismo, podemos e devemos construir famílias novas que transformem seus lares em verdadeiras Igrejas domésticas, refletindo para esse mundo dominado por tantas trevas, a luz que nasce, cresce e se irradia das famílias que colocam a oração, a vida no espírito como princípio de sua vida.
A palavra de Deus nos diz que: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33). Com a convicção de que a palavra de Deus se realiza em nossa vida, e com a Igreja que nos faz o apelo para termos sempre viva a esperança, estejamos prontos para lutar por nossas famílias e conduzi-las até a vitória no Senhor.
Wilson e Marli Rossi Gabriel
Grupo de Oração Famílias Novas – Diocese de Bauru (SP)
Comunidade Famílias Novas