Se permitirmos a entrada de um mau sentimento em nosso íntimo, damos lugar ao ressentimento, que se aninha ao coração. Logizetai kakon significa que se “tem em conta o mal”, “trá-lo gravado”, ou seja, está ressentido. O contrário disto é perdão; perdão fundado em uma atitude positiva, que procura compreender a fraqueza alheia e encontrar desculpas para a outra pessoa, como Jesus que diz: “Pai perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Entretanto, a tendência costuma ser a de buscar cada vez mais culpas, imaginar cada vez mais maldades, supor todo o tipo de más intenções e assim o ressentimento vai crescendo e cria raízes. Deste modo, qualquer erro ou queda do cônjuge pode danificar o vínculo de amor e estabilidade familiar. (Exortação Apostólica Amoris Laetitia-105 ).

Perdoar é reconhecer a nossa fraqueza humana diante das contrariedades familiares, que coloca muitas vezes os cônjuges em situações de revolta interior e afetam o relacionamento entre pais e filhos, criando separações internas, até mesmo fazendo a incrível mudança de “famílias” para “fam-ilhas”, ou seja, vivendo em ilhas separadas dentro de seus próprios lares. Devemos tomar posse das palavras de Jesus: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28).

Perdoar não é um ato heroico, desumano e impossível, mas sim uma decisão pessoal e libertadora, que atrai sobre si e os que consigo convivem, criando uma nova realidade na qual passa a reinar a paz e o bom relacionamento.

Partindo do perdão, o homem (ser humano) experimenta a vida nova: olhemos para a história desta mulher do Evangelho: 

“Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa. Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de perfume; e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com seus cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume” (Lc 7,36-38). Muitas vezes pregando em encontros para casais quase todos os finais de semana, presenciamos a grande dificuldade existente entre o casal para o perdão, pela grande ferida criada no coração, impedindo um dos cônjuges de se humilhar, reconhecer a fraqueza do companheiro e lhe dar uma nova oportunidade.

Oremos: “Vem, Senhor, olhar para nossas famílias vítimas de uma sociedade prostituída, por um sistema opressor que invade a liberdade familiar, fazendo-os escravos de um meio de comunicação depravado e sedutor, tirando a alegria do amor familiar do diálogo. Pedimos com o coração aberto, envia sobre todas as famílias o teu Espírito Santo, libertando-as de todas as amarras, traumas, dependência, heranças negativas de seus antepassados. Quebra, Senhor, os padrões e valores malignos que têm adentrado nossos lares por todos os meios de comunicação seculares, que comunicam uma doutrina de morte. Amém!”

Gostaria de testemunhar a linda obra de Deus na vida de uma irmã, que conhecemos na cidade de Cruzeiro do Sul, bem no interior do Acre, quando em um encontro para as famílias, o Senhor agiu poderosamente na vida dessa jovem de 21 anos, que não conhecia o pai e que também já era mãe de um filho de três anos, sem saber qual era o pai do menino, por muitas vezes ter que vender seu corpo por R$ 1,00, para comprar um litro de leite. Mas naquele final de semana o Senhor marcou um encontro com ela naquele retiro, no ginásio de esportes, com um calor de 40 graus. Jesus veio dizer a ela, por meio de uma pregação, sobre o AMOR DO PAI. Ao ser abraçada, a menina se transformou, sendo curada de um profundo vazio interior e de uma grande distância da presença de Deus. Ao cantarmos a música “Filho de Davi, tem piedade de mim”, ela se sentiu amada e acolhida por Deus. Voltando para sua casa, no interior do Amazonas, com outros jovens no ônibus, disse a ela não parecia mais a mesma menina, pois agora começou um caminho de conversão, luta, oração, Grupo de Oração, porque naquele dia o Espírito Santo foi derramado sobre ela e sua mente e seu coração se abriram para viver a Palavra, uma vida nova que ela não conhecia e não tinha forças para lutar sozinha.

“O Espírito Santo descerá sobre ti” (Lc 1,35b). “Importa que Ele cresça e que eu diminua” (João 3,30)”. Ambos temas meditados em nosso ENF de 2017, nos convidam a viver o tempo da Misericórdia em nossas famílias. O Santo Padre, Papa Francisco, convida a Igreja a sair de suas quatro paredes e ser uma “Igreja em Saída”, buscar as ovelhas que estão fora do aprisco e acolhê-las, curar suas feridas, colocar em nossos ombros e leva-las a um “LAR”, uma família, na qual possam ter direito e dignidade de filhos de Deus.

O Ministério para as Famílias da RCC tem como uma das suas prioridades a visitação das famílias com a imagem de Nossa Senhora, levando o amor materno e acolhimento de Maria, a todas as famílias que abrem as portas de suas casas todas as semanas para recebê-la.

“Jesus, Maria e José, nossa família vossa é“.

 

Airton Souza Silva e Marli Doneda Silva                                                                                                                      

Grupo de Oração Magnificat– Arquidiocese de Cascavel (PR)                                                                        

Coordenadores Arquidiocesanos do Ministério para as Famílias