Nas próximas semanas, a seção de Formação do portal RCCBRASIL trará a transcrição das pregações e homilias ocorridas durante o XXIX Congresso Nacional da Renovação Carismática Católica. São momentos de grande unção e de conteúdos interessantes para nosso crescimento espiritual.

O texto desta semana é baseado na fala de dom Alberto Taveira, assessor espiritual da RCC, que pregou sobre o martírio dos cristãos e a sua relação com o crescimento da Igreja.

Proclamação do Evangelho segundo São Mateus (Mt 12, 14-21)
“Naquele tempo, os fariseus saíram e fizeram um plano para matar Jesus. Ao saber disso, Jesus retirou-se dali. Grandes multidões o seguiram, e ele curou a todos. E ordenou-lhes que não dissessem quem ele era, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: “Eis o meu servo, que escolhi; o meu amado, no qual ponho a minha afeição; porei sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará às nações o direito. Ele não discutirá, nem gritará, e ninguém ouvirá a sua voz nas praças. Não quebrará o caniço rachado, nem apagará o pavio que ainda fumega, até que faça triunfar o direito. Em seu nome as nações depositarão a sua esperança”.
 

 
Há alguns anos atrás se espalhou pelo Brasil e pelo mundo, um movimento da não violência ativa. Lembro que uma figura muito forte da Igreja, dom Helder Câmara, escreveu muitas coisas a respeito dessa resistência forte que está na não violência. A Igreja se espalhou, vocês sabem muito bem, quando Tiago foi morto. Aí começou a dispersão. A perseguição fez com que o Evangelho chegasse a outros lugares. Como Deus é o Senhor da historia, tudo o que acontecesse concorre para o bem daqueles que ama a Deus. Sabemos depois que, pelo ministério de Paulo, a Palavra de Deus foi se espalhando. Ele foi o grande apóstolo das gentes, começou a levar a Boa Nova do Evangelho para outros ambientes, outras culturas. Sabemos também que, depois, Pedro e Paulo foram para Roma e ali se imolaram no martírio. O martírio é o poder daquele que já não pode mais nada.
 
Como estava a sociedade naquela época, em Roma? Sabemos de quanta corrupção, que os costumes estavam depravados. O famoso incêndio de Roma. A perseguição. Os cristãos ficam como culpados e são mortos. Pedro crucificado de cabeça para baixo, Paulo, degolado. É maravilhoso como as pesquisas feitas nos últimos anos confirmam que, o lugar da basílica de São Pedro, é ali mesmo que Pedro foi sepultado. E mais recentemente, as comprovações arqueológicas da sepultura de Paulo na Basílica de São Paulo Fora dos Muros. Ali, os dois derramaram o seu sangue. Ali junto com outros cristãos eles plantaram a vida da Igreja. Dizia-se nos primeiros séculos da vida da Igreja e é assim até hoje: o sangue dos mártires é semente de cristãos. Um homem pregado numa cruz como Pedro, que imitou o seu Senhor, um homem degolado como Paulo e quantas outras pessoas mortas.
 
Na ocasião do grande jubileu do ano 2000, o papa João Paulo II promoveu em Roma uma grande memória dos mártires do século XX. Pessoas que foram contemporâneas nossas e derramaram o seu sangue por causa de Jesus Cristo em nosso tempo. E na época, João Paulo II recordava não só os mártires cristãos católicos, mas tantos outros mártires de outras igrejas e comunidades eclesiais. Homens e mulheres como os dos primeiros tempos da Igreja. E em todos os tempos tivemos essa experiência do martírio, a coragem de dar a vida por causa de Jesus Cristo. E também no nosso tempo, essa realidade terrível e também maravilhosa do martírio.
 
Nós celebramos hoje os santos que foram considerados os primeiros mártires da terra de Santa Cruz: Inácio Azevedo e seus companheiros. Inácio veio para o Brasil, depois voltou a Europa, primeiramente Portugal e depois Espanha. E quando ele volta para o Brasil, os corsários anticatólicos acabam matando Inácio e seus 39 companheiros. A oração da Missa nos diz que eles regaram com o seu sangue as sementes do Evangelho na terra de Santa Cruz.
 
Irmãos e irmãs, a primeira leitura de hoje (Mq 2,1-5) parece ter sido escrita para o nosso tempo. Muitas vezes, nós também temos a impressão de que as coisas não estão bem: é a corrupção, a maldade que se espalha, a violência, as coisas que nos escandalizam e se tem a impressão que não vai sobrar nada.
 
Todas as épocas da historia em que os cristãos viram a destruição, eles ficaram mais fiéis a Boa Nova do Evangelho porque tinham a certeza de que não corriam em vão.  Se nós formos fiéis à herança da fé que recebemos, nós temos a possibilidade de fazermos uma revolução não-violenta, transformando esse mundo por dentro. Queridos irmãos, em nosso tempo, nosso Senhor continua sendo aquele servo, recordado no Evangelho de hoje, que não acaba de quebrar a cana que está rachada. Nosso Senhor continua sendo aquele que não apaga o pavio que ainda está fumegando, mas atiça de novo para que o fogo se espalhe e cresça. E ele faz isso com descrição, com simplicidade, com escondimento. Talvez, muitos de nós gostaríamos de acordar Deus, dizendo: “Senhor, manda um fogo, que caia um fogo do céu para acordar as pessoas”. Tem até umas pessoas que se sentem motivadas anunciando destruições, dizendo que o mundo vai acabar, marcando até data. E nos estranha ver a paciência que Deus tem. Muitas pessoas no decorrer da historia acabaram passando para o lado da violência. Há pessoas que estão aqui que eu conheço, pessoas que se cansaram em esperar a demora da mudança do mundo. Quantos optaram pelo caminho da violência? Pela luta armada? Quantos fizeram isso me nosso pais? Quantos abraçaram ideologias que acharam potentes para mudar o mundo e não conseguiram? Porque a mudança do mundo ocorre como chuva fina. Mas você e eu estaríamos dispostos a empenhar a nossa vida, até o derramamento do sangue, como Inácio de Azavedo e seus companheiros? Como você se sentiria, na pele de três bispos do nosso regional: dom [José] Azcona [bispo da Prelazia do Marajó], Dom Erwin [Kräutler, bispo do prelado do Xingu], Dom Flávio [Giovenale, bispo da Diocese de Abaetetuba, PA], que sabem que podem ser mortos a qualquer momento? 
 
Pagar com a própria vida, com o próprio sangue. Dar a cara a tapa pelo Evangelho. Ou largar tudo na hora do aperto? Preferir a violência, preferir o lucro? Tem gente aqui envolvida na política e muitos outros desejosos de fazê-lo. É bom que cresça o numero de pessoas dispostos a fazer isso. E na hora que a sua opinião tiver preço? E quiser comprar a sua consciência, qual será a sua opção? A força do dinheiro ou a sua consciência? Qual o seu preço? Espero que seja o do sangue de Cristo.
 
Irmãos e irmãs, o desafio do martírio é o desafio da coerência e da fidelidade. Caia o mundo, mas eu não vou ceder e viver contra os valores do evangelho. Matem-me, mas não deixo a Igreja. Pressionem-me do jeito que quiserem, mas eu não mudo as minhas convicções. Isso é martírio! O desafio é que essas sete mil pessoas que aqui se encontram e mais as que nos acompanham de suas casas pelos meios de comunicação tenha a disposição a graça do batismo. Você é templo do Espírito Santo, o ardor que vem do Espírito. Você foi crismado. Você se alimenta do Pão da vida. Você se encontra com os seus irmãos e irmãos no Domingo, dia do Senhor, dia da liberdade, dia da vida. Você tem a Igreja. Você tem doutrina segura. Nós, cristãos, podemos pecar muito e, por isso, temos o presente do sacramento da penitencia.
 
Pense uma coisa: podem olhar a sucessão dos papas que a Igreja teve, vivemos um tempo privilegiado de papas santos, firmes. Só que houve um tempo que a Igreja teve papas que não foram muito bentos, não. Mas eu desfio quem quiser que seja: mostre-me se algum desses papas ensinou erro. Quero saber se há algum documento em alguma época da Igreja que ensinou erro. É rocha firme, a Igreja. É segurança. Você não precisa deixar a sua Igreja e deve morrer por ela, porque todos os meios de salvação estão presentes na Igreja Católica. Eu não preciso de nada além daquilo que ela me dá. Agora, se daqui algum tempo você deixar a Igreja Católica, você vai ficar com um peso da consciência que ninguém vai tirar. É brincadeira séria. Chama–se ele: Pedro, Paulo, Inácio e seus companheiros, Maximiliano Kobe. Tantos santos que derramaram o seu sangue ou mártires que não derramaram sangue, mas se derramaram dia-a-dia em imolação.
 
Eu vou repetir uma coisa que já disse outras vezes, mas repito com grande desejo: não desejaria que a RCC se tornasse, como alguns gostam de dizer, um povo de oba-oba. Só de levantar as mãos. Eu gostaria que se levantassem as mãos, corpo, alma, tudo, tudo, tudo, mas num desejo. Eu vou repetir o que já disse: eu gostaria que cada grupo de oração se tornasse um laboratório, uma oficina de santidade, não menos que isso. Chega de relaxamento. Chega de encontro mal preparado. Chega de gente simplesmente passeando por Grupo de Oração. Os outros têm direito porque tão chegando, vocês não! Vocês não são iniciantes. Quem mandou virem a esse Congresso? Agora agüenta! Tem que sair daqui um povo fortalecido, cujo preço foi o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Um povo de gente corajosa e ardorosa. Um povo de gente capaz de amar a Igreja. Um povo que, em nome de Jesus, é misericordioso, bondoso. Um povo que sai expressando a presença salvadora do Senhor que cura, como diz o Evangelho, restaura, muda a vida das pessoas. Para isso, deixe que o Senhor nesse Congresso transforme profundamente o seu coração. Saia daqui apóstolo do Evangelho, cristão com disposição para chegar, se for preciso, até o martírio. Por favor, agora um profundo silêncio, e mexe ai dentro para vê se já está disposto a fazer isso. Se não estiver, deu um jeitinho de ficar.
 
Que a Igreja seja esse povo de mártires, de confessores, de virgens, de casados, de pais e mães de família, de gente entregue e corajosa. E a graça que nós queremos pedir é pela Igreja. Abra seu coração, sua boca, sua voz e brote todos os pedidos da Igreja, para que ela se espalhe e se consolide na unidade. A fim de que ela possa ser cada vez mais essa esposa Santa do Cordeiro, purificada pelo sangue do Cordeiro imolado. Que esse sangue purifique continuamente os membros desse Sangue de Cristo. Senhor, que a Igreja cresça e se purifique continuamente. Que ela busque e encontre os caminhos para evangelizar, para ser fiel ao Senhor que a chamou e a consagrou e que a envie novamente.
 
Dom Alberto Taveira,

assessor espiritual da Renovação Carismática Católica do Brasil