“Ei-lo, o meu Servo será bem-sucedido; sua ascensão será ao mais alto grau.” (Is 52,13)

A liturgia da Palavra da Sexta-Feira Santa inicia-se com essa afirmação tirada do livro do profeta Isaías. Parece algo contraditório, pois toda a Igreja se reúne neste dia para chorar o seu Esposo: não há canto, só silêncio; não há luzes, só penumbra; não adornos, só o altar despido, frio, sem beleza… Onde está o sucesso do Servo? Onde está a sua elevação?

“Com efeito, meus pensamentos não são vossos pensamentos, e vossos caminhos não são meus caminhos, oráculo do Senhor.” (Is 55,8). Eis a resposta do Senhor para nós! Em outra passagem da Escritura o próprio Jesus dá o sentido da sua Morte: “e, quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim.” (Jo 12,32). Aqui está o ensinamento da Cruz de Cristo: “o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” (I Cor 1, 25b)

A Cruz do Senhor venerada na Sexta-Feira Santa nos ensina o caminho da entrega e do amor. Jesus sobe à Cruz para nos ensinar que o amor verdadeiro não é feito de palavras, mas de atitudes. Ele nos abre uma nova perspectiva de vida: o sofrimento, a renúncia, a entrega da vida é o antídoto para curar o orgulho e o egoísmo.

Na Cruz, Jesus está em silêncio. Ouve os insultos e nada responde; ouve as acusações, mas perdoa. Não pensemos que o silêncio de Jesus é por covardia, medo, não! É um silêncio fecundo, pois Ele ora ao Pai pelos homens; Ele se imola como oferenda perfeita pelos pecados dos homens. Deus manifesta o seu poder não em meio a espetáculo, mas na aparente derrota.

Como a Cruz de Cristo nos fala! Por vezes, somos acomodados, fazendo as coisas mediocramente, para não se comprometer. Por vezes, somos egoístas, pensando que é guardando as coisas para si que nos tornaremos melhores que os outros. Por vezes, somos vaidosos, buscando o reconhecimento dos outros para nos auto-afirmar. A Cruz de Jesus é o caminho para a nossa conversão, pois ela nos ensina que o amor vence o mal.

A Cruz do Senhor também fala, a nós, Renovação Carismática Católica. Nossos grupos de oração não precisam estar lotados para demonstrar que são fortes, mas precisam de servos comprometidos com a busca da santidade, com o serviço a Igreja e aos irmãos, pois é na perseverança, na humildade que Deus manifesta o seu poder. Deus age na simplicidade.

Como homens e mulheres do Espírito não precisamos nos abrigar sob os “holofotes” da vida, mas sim nos refugiarmos a sombra da Cruz e lá nos deixarmos ser curados, libertos, santificados pelo Sangue do nosso Redentor. A missão própria do Espírito Santo não é aparecer, mas fazer que todos os homens proclamem com os lábios que Jesus Cristo é o Senhor.

Nesta Sexta-Feira Santa sejamos como a Virgem Maria: permaneçamos de pé, aos pés da Cruz, sendo fiéis ao Senhor. Fiquemos com Maria, pois ela, como boa mãe, nos ensinará que a Cruz do seu Filho é meio para a ressurreição.

Padre Carlos Alberto (Pe. Carlinhos)

Assessor Eclesiástico da RCC-Niterói (RJ)